quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

ANÁLISE DO SOFRIMENTO




“Os fenômenos da vida podem ser comparados a um sonho, a um fantasma, a uma bolha, a uma sombra, a uma orvalhada cintilante ou a um raio luminoso, e como tal deveriam ser contemplados.”    Buda (O Sutra Imutável)

           Buda ensinava que a única função da vida é a luta pela vitória sobre o sofrimento. Empenhar-se em superá-lo deve ser a constante preocupação do homem.
           Após tentá-lo mediante o ascetismo mais austero e as disciplinas mais rígidas, o jovem Gautama afastou-se do monastério com alguns candidatos desanimados e foi meditar calmamente, logrando a Iluminação.
           Estabeleceu a teoria do 'caminho do meio' para alcançar a paz. Nem mais a austeridade cruel, nem as dissipações comuns, mas o equilíbrio da meditação.
           Voltou-se então para a libertação dos homens e estabeleceu as quatro Nobres Verdades: o sofrimento, suas origens, a cessação do sofrimento e os caminhos para a libertação do sofrimento.
           Segundo as suas reflexões, o sofrimento se apresenta sob três formas diferentes: o sofrimento do sofrimento; o sofrimento da impermanência e o sofrimento resultante dos condicionamentos.
           O sofrimento do sofrimento é resultado das aflições que ele mesmo proporciona.
           A dor macera os sentimentos, desencoraja as estruturas psicológicas frágeis, infelicita, leva a conclusões falsas e estimula os estados de exaltação emocional ou de depressão conforme a estrutura íntima de cada vítima.
           Apresenta-se sob dois aspectos: físico e mental, na imensa área das patologias geradoras de doenças. Nesse caso, o sofrimento é como uma doença e resultado dela.
           As doenças, porém, são inevitáveis na existência humana, em razão da constituição molecular do corpo, dos fenômenos biológicos a que está sujeito nas suas incessantes transformações.
           A abrangência da ação da matéria sobre o espírito particularmente nos estágios mais primitivos, enseja sofrimentos constantes face às doenças físicas contínuas e às distonias mentais freqüentes.
           À semelhança do buril agindo sobre a pedra bruta e lapidando-a, as doenças são mecanismos buriladores para a alma despertar as suas potencialidades e brilhar além do vaso orgânico que a encarcera.
           Nessa área, a ciência médica alcançou um elevado patamar do conhecimento, debelando antigas enfermidades que dizimavam milhões de existências e alucinavam multidões.
           A lucidez do diagnóstico, a habilidade cirúrgica, a farmacopéia rica e as diversas terapias alternativas  têm contribuído com um grande contigente de socorro para atender os enfermos. Embora os surtos periódicos de antigos males e o surgimento de outros que aimprevidência gera, essa conquista expressiva contribui para que tal sofrimento seja atenuado. 
           Na área das psicopatologias a visão humana é hoje mais benigna do que no passado, considerando o enfermo mental um ser humano, e como tal prossegue, ainda que momentaneamente tenha perdido a identidade, o equilíbrio, com o direito de receber assistência, oportunidade a amor.
           Multiplicaram-se, lamentavelmente, porém, os distúrbios existenciais, comportamentais, na
 área psicológica, nascendo a chamada geração neurótica perdida no mare magnum das vítimas do sexo em desalinho, das drogas alucinantes, da violência e agressividade urbanas, do cinismo desafiador.
           Os avanços tecnológicos não bloquearam os corredores do desespero; a cultura hedonista, fria em relação ao valores morais, e as guerras contínuas fomentaram o medo, a insatisfação, o desespero, as fugas emocionais.
           A juventude insegura tornou-se-lhe a grande vítima a um passo da depressão, da loucura, do suicídio.
           Ao lado das diversificadas patologias desesperadoras do momento os fenômenos psicológicos de desequilíbrio alastram-se incontroláveis.
           O Ser Humano passou a sofrer o efeito desses sofrimentos que se generalizaram.
           A doença, todavia, é resultado do desequilíbrio energético do corpo em razão da fragilidade emocional do espírito que o aciona. Os vírus, as bactérias e os demais microorganismos devastadores não são os responsáveis pela presença da doença, porquanto eles se nutrem das células quando se instalam nas áreas em que a energia se debilita. Causando fraqueza física e mental, favorecendo o surgimento da doença, por falta da restauração da energia mantenedora da saúde. Os medicamentos matam os invasores, mas não restituem o equilíbrio como se deseja, se a fonte conservadora não irradia a força que sustenta o corpo.
           Momentaneamente, com a morte dos micróbios, a pessoa parece recuperada, ressurgindo, porém, a situação, em outro quadro patológico mais tarde.
           A conduta moral e mental dos homens, quando cultiva as emoções da irritabilidade, do ódio, do ciúme, do rancor, das dissipações, impregna o organismo, o sistema nervoso, com vibrações deletérias que bloqueiam áreas por onde se espraia a energia saudável, abrindo campo para a instalação das enfermidades, graças à proliferação dos agentes viróticos degenerativos que ali se instalam.
           Quase sempre as terapias tradicionais removem os sintomas sem alcançarem as causas profundas das enfermidades.
           A cura sempre provém da força da própria vida, quando canalizada corretamente.
           As tensões físicas, mentais e emocionais são, igualmente, responsáveis pelas doenças – sofrimento que gera sofrimento.
           O homem, desde as suas origens sociais, aprende a ter medo, a conservar mágoas, a desequilibrar-se por acontecimentos de somenos importância, desarticulando o seu sistema energético. Passa de um aborrecimento para outro, cultivando vírus emocionais que facultam a instalação dos outros, degenerativos, responsáveis pelo agravamento das suas doenças.
           Os condicionamentos, as idéias pessimistas, as crenças absurdas, as ações vexatórias são responsáveis pelas tensões que levam à desarmonia.
           Evitando essas cargas, o sistema energético-imunológico liberará de doenças o indivíduo, e a sua vida mudará, passando a melhorar o seu estado de saúde.
           As causas profundas das doenças, portanto, estão no indivíduo´memso, que se deve auto-examinar, autoconhecer-se a fim de liberar-se desse tipo de sofrimento.
           De imediato há o prazer que gera sofrimento.
           O cotidiano demonstra que a busca insaciável do prazer constitui um tormento que aflige sem compensação. Quando se tem a oportunidade de fruí-lo, constata-se que o preço pago foi muito alto e a sensação conseguida não recebeu retribuição correspondente.
           Ademais, há aquisições que proporcionam prazer em um momento para logo se transformarem em dores acerbas. E o responsável por esse resultado é a ilusão. A maioria dos sofrimentos decorre da forma incorreta por que a vida é encarada. Na sua transitoriedade, os valores reais transcendem ao aspecto e à motivação que geram prazer.
           Esse é o sofrimento da impermanência das coisas terrenas. Esfumam-se como palha ao fogo, atiçado pelo vento, logo se transformando em cinza flutuando no ar.
           Para conseguir desfrutar de determinado prazer o indivíduo investe além das possibilidades, constatando, depois, quantas dificuldades tem a enfrentar para manter essa conquista. A luta para possuir um automóvel último modelo expõe-no a compromissos pesados para o futuro. A imaginação estimula-o com a ilusão da posse para averiguar, passado o prazer, que não tem condições para preservar o veículo adquirido, ou os móveis, ou a residência, enfim, tudo quanto é impermanente e brilha com atração apenas por um dia...
           Medidas as possibilidades sem sacrifícios, é factível constatar até onde pode aventurar-se, sem os riscos de sofrer dores e arrependimentos tardios.
           Essa visão correta, realista, que se adquire da existência, emoldura-a de harmonia. No entanto, a fantasia injustificada responde pelo choque inevitável com a realidade.
           Certamente, a cautela nas decisões não se pode converter em medo de agir, em cultivo de pessimismo para o futuro. São a ambição irrefreada, a precipitação, a falta de controle, que abrem espaços emocionais para o prazer que gera dor.
           Aí estão os vícios sociais e morais estiolando vidas, produzindo a lassidão dos sentidos e, a médio, curto ou longo prazo conduzindo à loucura, ao autocídio. São alguns deles o inocente cigarro de exibição no grupo social como afirmação da personalidade, eliminação de tabu, respondendo por graves problemas respiratórios, cânceres, enfisemas pulmonares; o prazer etílico gerador de ressacas tormentosas, cirroses hepáticas, úlceras gástricas e duodenais, distúrbios intestinais e outros, além das alucinações que levam à violência, à depressão, à destruição de outra vida e tudo quanto é caro, precioso, com resultados funestos; as drogas, que escravizam, iniciando-se as dependências nas primeiras tentativas que parecem proporcionar prazer, estimulando a alegria, a coragem, a realização, vitórias fugidias sobre os fortes conflitos psicológicos, logo se convertendo em desgraças, às vezes, irremediáveis...
           O engano de considerar-se invencível, superior, provando o desconhecimento da fragilidade e da impermanência do conjunto que o constitui, especialmente de seu corpo, faculta, ao ser, prazer mentiroso, que o desperta sob grande sofrimento.
           Ninguém escapa às conjunturas que constituem a vida. Programada de forma a educar e fortalecer, seus aprendizes não a podem burlar indefinidamente.
           Enfrentar as vicissitudes e superar os valores indicativos de prosperidade, de prazer injustificável, eis como poupar-se ao sofrimento. É certo que um número significativo de prazeres se apresenta, sem riscos de converter-se em fator afligente.
           O sofrimento, portanto, quando se tem dele consciência, é facilmente evitável.
           O sofrimento resultante do condicionamento abarca a educação incorreta, a convivência social pouco saudável, que propiciam agregados físicos e mentais contaminados.
           A escala de valores, para muitos indivíduos, apresenta-se invertida, tendo por base o imediato, o arriscado, o vulgar e o promíscuo, o poder transitório, a força, com relevantes para a vida. Os seus agregados, sob altas cargas de contaminação, produzem sofrimentos físicos e mentais duradouros.
           As festas ruidosas atraem a atenção, as companhias jovens e irresponsáveis despertam interesse, as conversações chulas produzem galhofa, que são satisfações de um momento, responsáveis por sofrimentos de largo porte.
           Ao mesmo tempo, a contaminação psíquica e física, derivada dos condicionamentos doentios dos grupos sociais e dos indivíduos, promove sofrimentos, que poderiam ser evitados.
           A irradiação mórbida de uma pessoa enviando à outra energia negativa, termina por contaminá-la, caso esta não possua fatores defensivos, reagentes, que procedem da sua conduta mental e moral edificante.
           O homem vive na Terra sob a ação de medos: da doença, da pobreza, da solidão, do desamor, do insucesso, da morte. Essa conduta é resultado de seu despreparo para os fenômenos normais da existência, que deve encarar como processo da evolução.
           Herdeiro da própria consciência, é também legatário dos atavismos sociais, dos hábitos enfermos, dentre os quais se destacam esses pavores que resultam das superstições, desinformações e ilusões ancestrais, formando os condicionamentos perturbadores.
           Absorvendo e impregnando-se desses fatores negativos, os sofrimentos apresentam-se-lhe inevitáveis, produzindo distúrbios psicológicos, mentais e físicos por somatização automática.
           A educação calcada nos valores ético-morais, não-castradora, que estimule a consciência do dever e da responsabilidade do indivíduo para com ele próprio, para com o seu próximo e para com a vida, equipa-o de saúde emocional e valor espiritual para o trânsito equilibrado pela existência física. Esse conhecimento prepara-o para que saiba selecionar o que lhe é útil e saudável, ajudando-o no crescimento interior para a sua realização pessoal. Enquanto este discernimento não se transformar em força canalizadora para o seu bem, o individuo experimentará o sofrimento resultante do condicionamento, que lhe advém dos agregados físicos e mentais contaminados.


Patricia Jorge Alves

Terapeuta Homeopata

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