CÂNCER






CÂNCER

Por trás do diagnóstico “câncer” oculta-se um grande padrão que pode se expressar em uma grande variedade de sintomas. Cada um deles afeta toda a existência, não importando em qual órgão tenha se originado. O acontecimento do câncer é demasiado complexo para estar relacionado apenas com o órgão afetado. Sua tendência de propagar-se por todo o corpo mostra que se trata de toda a pessoa. O câncer, sob a forma de fantasma que assombra nossa época, toca não aqueles que são diretamente afetados, mas toda a sociedade, que se transformou em tabu como nenhum outro sintoma.Os traços deste sintoma encontram-se hoje por toda parte, podendo ser detectados até no passado graças aos modernos procedimentos de pesquisas. A presença de tumores foi comprovada até mesmo em múmias incas com 500 anos de idade. Apesar dessa disseminação universal, o câncer tornou-se uma marca distintiva das nações industrializadas modernas. No que se refere a algumas culturas, mas não se sustenta por princípio, podendo ser rebatido em vários pontos. Por um lado há tipos de câncer que atingem o ápice nos anos da juventude, por outro a própria medicina tradicional demonstra que determinados tipos de câncer, tal como o câncer dos pulmões, estão relacionados de maneira unívoca com hábitos e venenos de nossa civilização. Mas, sobretudo, havia culturas antigas que possibilitavam uma longa expectativa de vida com um baixo risco de câncer. Uma outra prova de quanto o câncer tornou-se uma destacada ameaça à saúde em nossa época é o fato de ser ele, dentre todas as doenças, a que nos infunde mais terror. A descrição da doença já traz o selo de nossa avaliação: maligno. O infarto do coração, que ceifa mais vidas e confronta as pessoas com a mais pavorosa dor que se conhece, não desperta semelhante horror. O câncer necessariamente nos confronta com um tema que está mergulhado ainda mais profundamente na sombra que a dor e que a própria morte. Nenhum outro sintoma torna tão clara a relação entre corpo, alma, mente e sociedade como o câncer. Do nível celular, da estrutura da personalidade ou da situação social, por toda parte encontramos padrões semelhantes que conhecemos muito bem, que nos chocam e que não podem ser eliminados porque são os próprios padrões primordiais.
A maneira mais segura de diagnosticar o câncer é nos grupos de células. Células cancerígenas diferenciam-se das células saudáveis por seu crescimento desordenado e caótico. Na célula individual, impressiona o grande tamanho do núcleo, contendo toda a informação necessária para seu complicado funcionamento e controlando o metabolismo, o crescimento e a divisão. A Perversidade que ganha expressão no núcleo superdimensionado tem sua causa na enorme atividade divisória da célula, que não mais desempenha suas tarefas em conjunto com as outras células e passa a atuar sobretudo na multiplicação de si mesma. Enquanto o núcleo é na verdade pequeno no metabolismo normal, com a caótica divisão celular do evento cancerígeno ele cresce para além de si mesmo no mais puro sentido da palavra, fornecendo um projeto atrás do outro para sua descendência. Até mesmo os processos de regeneração no interior do corpo celular são deixados para trás em favor da incessante produção de novas gerações de células.
Aglomerado de células em que a vida humana se concentra a princípio, não tem que desempenhar qualquer tarefa especializada, cuidando somente de sua multiplicação. Elas fazem isso através de animadas divisões e do respectivo crescimento; ocorrendo de maneira mais ordeira que com as desconsideradas células cancerígenas. Além dos núcleos celulares superdimensionados e sua exagerada tendência à divisão, a indiferenciação das células também lembra as formas da primeira etapa, ainda não maduras. Em seu delírio de propagação elas descuidam muitas outras coisas, perdendo muitas vezes a capacidade de executar complicados processos metabólicos tais como a oxidação. Por um lado, regridem à primitiva etapa preparatória da fermentação, por outro elas recuperam a capacidade de produzir substâncias que somente células embrionárias e fetais possuem. A medicina chama esse novo despertar e essa reativação de genes das primeiras fases do desenvolvimento de anaplasia. O que externamente se supõe ser um caos faz sentido do ponto de vista do câncer. A oxidação por exemplo, é mais eficiente que a fermentação, mas esta é em grande medida independente de fornecedores. Enquanto as células normais dependem da respiração para o fornecimento, via sangue fresco, de oxigênio, uma célula que se limita à fermentação é em grande medida autônoma.
A célula cancerígena tem menos necessidade de comunicar-se com suas vizinhas, o que é vantajoso se considerarmos suas péssimas relações de vizinhança. Enquanto as células normais têm o que se chama inibidor de contato, que suspende seu crescimento quando encontram outros corpos celulares, as células cancerígenas se comportam exatamente ao contrário. Não tendo fronteiras para respeitar, elas invadem territórios estrangeiros com brutalidade. É compreensível, que elas despertem a hostilidade da vizinhança. Descobriu-se há pouco que as células cancerígenas não se acanham nem mesmo em escravizar outras células. Como são demasiado primitivas para executar processos metabólicos diferenciados, elas utilizam células normais e as privam dos frutos do seu trabalho. A célula cancerígena não tem escrúpulos e somente se preocupa, da maneira mais egoísta, com seu crescimento, e isso até mesmo em relação à sua própria progênie, formada exatamente à sua imagem. Os próprios pais ficam no caminho, superados pelo desenvolvimento furioso e privados de provisões. Freqüentemente, células mortas, necrosadas, no interior dos tumores, indicando simbolicamente que a mensagem central desse novo crescimento é a morte.
A regressão da célula cancerígena a um padrão de vida anterior mostra-se em sua atitude parasita. Ela toma tudo aquilo que pode conseguir em alimentação e energia sem estar disposta a dar algo em troca ou a participar das tarefas sociais que ocorrem em qualquer organismo. Exagera um tipo de comportamento que ainda é apropriado para células embrionárias. Aquilo que se tolera em uma criança, torna-se um problema no adulto.
Ao ignorar todas as fronteiras, dão um passo atrás. Assim como as crianças aprendem pouco a pouco respeitar os limites, as células também aprendem a respeitar estruturas dadas e a permanecer dentro da moldura prevista para elas. As células cancerígenas saem da moldura e deixam para trás tudo o que aprenderam ao longo da evolução. Elas não controlam nem fronteiras vitais, nem as grandes estruturas do corpo. Elas perdem o padrão para o qual foram destinadas originalmente. Uma célula secretora da mucosa normal do intestino se dividirá uma e outra vez para atender às necessidades de um organismo maior, o intestino, mas não escapará da moldura prevista para ela e suas iguais, espalhando-se pelo intestino. A célula intestinal que degenera em câncer realmente se degenera, muda de espécie, abandona tudo o que é específico do intestino e segue seu próprio caminho egoísta. O padrão intestino torna-se demasiado restrito, saltando sobre suas fronteiras de maneira tão revolucionária como destrutiva.
O problema não passa a estar no abandono da moldura, com isso, o problema se estenderia para além da célula individual, tornando-se um problema do tecido ou órgão afetado, que não está mais em posição de impor seu padrão a todas as células individuais. O câncer é tanto um problema do meio como da célula individual.
Câncer é aquele animal conhecido principalmente por andar para trás. O caranguejo, que também é acusado como sendo responsável pelo batismo, tampouco se movimenta para frente, e sim de lado. A expressão “arrastar-se”, utilizadas para aqueles penosos esforços que não levam adiante, denotam tipos de movimentos para a frente que não são dessemelhantes dos movimentos executados pelos pacientes antes da erupção do câncer.
 A palavra câncer vem do latim e significa modificação. Caso uma célula seja estimulada durante tempo suficiente, pode sofrer modificações drásticas que tem origem no nível do material genérico. Os estímulos que preparam esse caminho alcatrão dos cigarros, radiação penetrante, quantidade de elementos químicos encontrados em alimentos industrializados, antibióticos, são algumas das possibilidades.
As células do tecido correspondente podem conseguir suportar a estimulação contínua por muito tempo, mas em algum momento uma delas é seperestimulada e degenera. Ela, no mais puro sentido da palavra, modifica seus genes, seguindo seu próprio caminho. Um dos nomes médicos para o câncer é neoplasma, expressando “novo crescimento”. Aquilo que para o corpo representa um perigo de vida é, para a célula martirizada por tanto tempo, um ato de libertação. Tudo depende de o corpo dispor de suficiente estabilidade e poder de defesa para derrotar a insurreição das células. Os pesquisadores partem do princípio de que células degeneram com relativa freqüência, mas tornam-se inofensivas graças a um bom sistema de defesa. A fraqueza das defesas do organismo tem portanto um significado decisivo para o surgimento do câncer. É freqüente encontrar em retrospecto um colapso das defesas justamente na época em que se presume que o tumor tenha surgido. A rapidez do desenvolvimento depende do tipo de tumor, mas por outro lado flutua também em tumores do mesmo tipo, dependendo da situação geral. Um tumor já existe há anos no momento em que é descoberto, tendo um peso de cerca de de um grama e constituindo de milhões de células. Ninguém pode saber com certeza se tem câncer ou não. O sistema imunológico é o senhor da situação, na maior parte dos casos estamos sempre tendo câncer. Isso pode ser uma razão para o terror inaudito que o tema câncer infunde.
O comportamento da célula cancerígena mostra uma problemática de crescimento. Após muita consideração e cautela, a célula decide fazer o contrário. Crescimento caótico e transbordante sem cuidado e sem consideração que não poupa nem territórios estranhos nem a própria base da vida. As leis do crescimento saudáveis são ignoradas. A célula cancerígena se coloca acima das regras de convivência normal dentro da associação de células e, sem pudor, rompe tabus de importância vital. Em lugar de assumir o lugar que lhe foi designado e cumprir com seu dever, ela sai perigosamente dos limites da espécie. Dedicando-se a uma selvagem e egocêntrica atividade divisória, ela se divide para todos os lados. Até mesmo as regiões mais afastadas começam a sentir sua agressão brutal.Tudo tem de acontecer na cabeça da célula cancerígena, toda a sua descendência é formada exatamente a sua imagem. Ela é totalmente autárquica e cria seus filhotes sem ajuda externa, virgem por assim dizer. Com essa prole ela vai de cabeça contra a parede, no mais verdadeiro sentido da palavra. Nem mesmo as membranas basais, os mais importantes muros fronteiriços entre os tecidos, podem resistir às suas agressões.
A célula cancerígena demonstra seu enorme problema de comunicação, reduzindo todas as relações de vizinhança a uma política da cotovelada agressivamente reprimida. Ela não tem escrúpulos em fazer a lei do mais forte e, espremendo seus vizinhos mais frágeis contra a parede, ela os destrói ou os transforma em escravos. Ela desistiu da comunicação com o campo de desenvolvimento para o qual tinha sido destinada em favor do egoísmo e de reivindicações de onipotência e imortalidade. O problema de comunicação ganha expressão simbólica na respiração celular destruída, já que a respiração representa o intercâmbio e o contato.
A imagem delineada parece fazer justiça a uma pequena parte dos pacientes de câncer, de uma maneira geral, apresentam um padrão de comportamento que parece o contrário. Isso se deve ao padrão reprimido do câncer, por um lado compensa, e por outro descreve tais perfis de personalidade na época anterior ao surgimento do sintoma. Nesta fase o corpo apresenta uma imagem muito diferente. É o estágio da excitação contínua, que os tecidos e suas células toleram sem reagir. Elas tentam se proteger e erguer barreiras na medida do possível, através da imobilidade, sobreviver, suportando a desagradável situação. Caso uma célula experimente rebelar-se contra a estimulação prolongada e tente seguir seu próprio caminho, degenerando, saindo da espécie, essa insurreição é imediatamente reprimida pelo sistema imunológico.
Neste padrão que corresponde a primeira fase da doença, fica caracterizada a personalidade típica de câncer. São pessoas extremamente adaptadas que tentam viver da maneira mais despercebida possível, adequando-se às normas e jamais incomodando alguém com as próprias exigências. Elas muitas das vezes ignoram os desafios para crescer espiritualmente e para o desenvolvimento anímico, já que de maneira alguma querem se expor. Sua vida é pouco estimulante em um duplo sentido: por um lado elas evitam, sempre que possível, experiências novas que poderiam movimentar sua vida, já que mal se atrevem a aproximar-se de suas fronteiras. Elas ignoram os poucos estímulos que rompem sua couraça defensiva(sicosis). A repressão das possibilidades de experiências limites reflete imperceptivelmente na interrupção da atividade defensiva do corpo, que mantém tudo seguramente sob controle. Experiências que ultrapassam os limites ou simplesmente alguma inofensiva pulada de cerca são sufocadas, suprimidas e reprimidas, a qualquer preço, manter a situação costumeira como sempre.
O degrau seguinte da escalada mostra como esse preço pode ser alto. Quando a corrente de impulsos de crescimento estancada durante anos  rompe o dique da repressão e goza descontroladamente a vida até o esgotamento (syphilis). Após o rompimento do dique, não há nem volta nem parada. O corpo lança-se àquele outro extremo que até então tinha reprimido abnegadamente. Freqüentemente o fenômeno da repressão mostra-se tanto na história anímica da vida como na história das doenças do corpo. Não é raro encontrar as chamadas anamneses vazias, que o afetado não representava o menor sintoma anos e até décadas antes do surgimento do câncer. O que a primeira vista parece uma saúde imaculada, revela-se como rigorosa repressão a um olhar mais atento. Não somente os desvios anímicos da norma, os desvios corporais também foram totalmente reprimidos. O psico-oncologista Wolf Bünting fala de “normopatia” quando o ater-se rígida e inflexivelmente às normas transforma-se em doenças. O que poderia parecer como contenção simpática ou nobre, pode ser na verdade repressão de impulsos vitais e, em última instância, vida não vivida. Assim como a célula sob estimulação forte e constante faz tudo o que pode para continuar desempenhando seu dever como célula, os indivíduos também tentam preservar no cumprimento satisfatório de seus deveres como filha, filho, mãe, pais, subordinado, esposo, etc., em detrimento de suas necessidades individuais. O próprio desenvolvimento deve ficar para trás, como acontece  com a célula martirizada.
A tendência fundamental dessa vida não vivida é também reprimida. O Afetado não tem consciência de sua disposição depressiva latente, da mesma maneira como não é consciente da repressão das tentativas de insurreição do corpo. O meio ambiente não percebe nada. É somente quando o dique é rompido e a vida reprimida irrompe que a disposição de participar vem à língua de maneira livre e veemente.
Na fase do surgimento do sintoma, os afetados já são de fato “pacientes”, e eles são sofredores assombrosamente pacientes. Independentes em grande medida do meio que os cerca e em prol das boas relações de vizinhança, eles o tempo todo dão mostras de amigável consideração. São confiáveis com quem se pode contar, embora estejam repelindo os impulsos de mudança ainda em gérmen. Em seu esforço para não incomodar e não ser um fardo para ninguém, não é difícil para os pacientes fazerem amigos. Mas isso impede que se formem amizades profundas, já que eles não conhecem a si mesmos em sua individualidade e não podem nem mesmo mostrar-se realmente. Como eles não apóiam a si mesmos, parece fácil aos outros estar a seu lado. Quando no decorrer da doença aparecem traços de caráter mais profundos, porque eles começam  a afirmar sua própria vida, não é fácil nem para os pacientes nem para o meio circundante aceitar essas facetas totalmente inesperadas. Os pacientes “normopatas” têm freqüentemente a seu redor pessoas que estão em dívida para com ele. Como eles sempre se esforçam para fazer tudo direito e deixaram para trás o próprio crescimento, pessoas com uma ressonância correspondente passam a estar agora ao seu lado. O comportamento social dos pacientes pode ser descrito exemplarmente a partir do comportamento social a que chamamos “maioria silenciosa”, à qual eles mesmos pertencem muitas vezes. Com razão eles se consideram pilares da sociedade. Por trás dessa fachada de ordem modelar espreitam todas aquelas características contrárias que se tornam evidentes no nível substituto, no corpo, quando o segundo estágio do surgimento do câncer se instaura. O que jamais foi ventilado na consciência encontra agora seu palco, um palco onde acontecem sobretudo dramas, ou seja, “jogo de sombra”.
Os impulsos de mudanças (internas e externas) que foram repelidos ao longo dos anos se estendem pelo corpo sob a forma de mutações.
A sementeira anímica retida por longo tempo emerge agora corporalmente em tempo recorde e mostra como era forte o desejo não vivido de auto-realização e de imposição dos próprios interesses.
A erupção do sintoma pode tornar-se visível uma grande parte das reivindicações reprimidas do ego, em contraste com o com o comportamento do paciente. Quando esses componentes sombrios saem à superfície, é principalmente o meio circundante que fica admirado. Pessoas até então pacatas exigem repentinamente que tudo gire em torno delas e de “sua doença”. Tendo o diagnóstico como álibi, elas agora se atrevem a virar a mesa e deixar que os outros dancem segundo sua música. A contenção e o compasso podem agora ser atirados sobre a amurada para serem substituídos por sons totalmente novos.Por mais desagradável que tal atitude possa ser para o meio circundante, , há nisso uma grande oportunidade para o afetado. A partir de agora os princípios de transformação, de auto realização e de consecução passem a ser vividos no plano anímico-espiritual, tornando-se visíveis no nível social. Muitos pacientes foram tão longe no papel de cumpridor das normas chegando a manter o papel de mártir, mesmo em face da morte. As chances de acabar com o câncer(ou qualquer outro) são muito melhores quando a “pessoa” admitir e se confrontar sem medo, mas com consciência de mudanças a serem tomadas que a batalha se torna mais amena e gratificante.
Outro motivo básico do adoecimento por câncer, igualmente mergulhado nas sombras, é vivido de maneira substitutiva pelo corpo. Regressão é a volta aos inícios. Os afetados perderam o contato com sua origem primária, as células do tumor tem de viver o tema em si mesmas e o fazem corporalmente à sua maneira letã. A pessoa evidentemente precisa do relacionamento vivo com as suas raízes.
Mas não significa apenas o passo atrás, mas também uma retomada. Somente o passo atrás que se torna uma religação, tona o progresso real possível. Essa aparente contradição é expressa também na imagem do câncer. Por um lado as células dão um passo atrás e retrocedem às primitivas formas juvenis e por outro, com a tendência à onipotência e a imortalidade, progridem furiosamente.
Tal contradição somente pode ser resolvida pelo sentido primário da religação com a origem, com a unidade. Caminhar rumo o entendimento, amadurecer o espírito para a verdadeira cura, consiste em perdoar a si mesmo e amar verdadeiramente a si próprio bem como a humanidade. Perceber que trazemos em nosso íntimo características do passado. Ações mal resolvidas, pendências que à partir de uma oportunidade como o câncer de resgatar indubitavelmente, seremos novos Seres em evolução; que aliás é constante, não só nesta vida, mas a continuidade de novas vidas.
A recuperação da consciência, da origem com a pergunta: “De onde venho?”, “Para onde vou?”, saíram da consciência para mergulhar nas sombras, passando a ser representadas corporalmente. O processo cancerígeno, com sua regressão ao abismo e seu avanço desesperado, é um “espelho” tão terrível como fiel da situação.
O retorno consciente ao início, com suas possibilidades ilimitadas, e a busca de valores eternos, são caminhos necessários para a verdadeira cura. Curar a alma é o primeiro passo. O medo os assombra, mas no mais profundo íntimo do ser existe uma luz que não se apaga. Essa Luz é o caminho para a cura. “Ver a si mesmo” é o princípio.
Quando se observam as histórias de vida que estão ocultas, tal forma de falar, de agir e de sentir, reflete uma assombrosa cegueira para temas sombrios. Um olhar mais atento revela que o acontecimento não se deu de forma tão repentina e sem prévios sinais de alarme. Justamente a falta de qualquer reação corporal e qualquer sintoma é um sinal de “normopatia”.
A ênfase nas grandes responsabilidades, quando examinadas com precisão, revela que o afetado cumpria com os seus deveres sem se queixar. Responsabilidade, ao contrário, significa a capacidade de dar uma resposta às necessidades da vida. Mas os pacientes potenciais de câncer não possuem essa capacidade. Como eles não podem impor limites e mal podem dizer não, eles facilmente se deixam sobrecarregar com obrigações. São submissos, engolem sapos. Por outro lado, eles  as assumem de bom grado, para dar um sentido externo a suas vidas; na falta de um sentido interno. Os logros e êxitos obtidos são portanto bons disfarces, por trás dos quais, escondem seus verdadeiros sentimentos. Muitas vezes, se colocam como vítimas, não assumindo posições no palco da vida.
Não é de admirar que tenhamos tanto medo do câncer, já que nenhum outro sintoma está mais equipado para nos mostrar o espelho. O câncer personifica a transformação dos dignos ideais secundários no pólo oposto, o princípio do ego total. A caricatura física desse ideal costuma ser levada a mal, como toda caricatura. Mas sempre que tal ocorre como uma caricatura desse destino, isso não acontece porque ela é falsa, ao contrário: ela se ajusta a ele e até mesmo o supera.
O câncer representa um processo de crescimento e regressão mergulhado no corpo. A estes dois soma-se ainda um terceiro componente, a defesa; podendo-se criar ao longo dos anos sem chegar a formação de um tumor. Situação chamada de pré-cancerosa(vibrar o miasma).
Ciclo, “Ataque – Defesa” – As células cancerígenas atacam por medo. Uma vez que eu acredito que sou culpado e projeto a minha culpa em você através do ataque, eu tenho que acreditar que a minha culpa exigirá punição. E como estou tentando negar o fato de ser culpado, sentirei que o seu ataque contra mim não tem justificativa. No momento em que eu o ataco, o meu medo inconsciente é que você me ataque de volta e é melhor que eu esteja preparado para isso. Assim tenho que construir uma defesa contra o seu ataque. Isso fará com que você fique com medo, e assim nós nos tornamos parceiros nisso; quanto mais eu o ataco, mais você tem que se defender de mim retornando o meu ataque, e mais eu terei que me defender contra você e atacá-lo de volta. Essa dinâmica, obviamente, é o que explica a insanidade das células.Também explica a insanidade que todos nós sentirmos. Quanto maior a minha necessidade de defender-me, mais eu estou reforçando o fato de ser culpado. É também muito importante que se compreenda isso nos termos do ego, e está dito provavelmente na sua forma mais clara: “Defesas fazem exatamente aquilo do qual pretendem te defender”. O propósito de todas as defesas é proteger-nos ou defender-nos do nosso medo. Se eu não tivesse medo, não teria que ter uma defesa, mas o próprio fato de precisar de uma defesa me diz que devo estar amedrontado, pois se não estivesse não teria que me dar ao trabalho de me defender.
A Culpa sempre exigirá punição.
O câncer pode ser disparado somente após a ocorrência de determinados estímulos. É como se ele estivesse preso e subjugado por um sistema por um sistema imunológico dominador. Somente o colapso das defesas do  corpo lhe dá uma chance de formar um tumor primário. O colapso do sistema de defesa é detectado por muitos pacientes, sendo caracterizado retrospectivamente como uma época de estados de tensão e de angústia.
A estreita relação entre o câncer e o sistema imunológico é mostrada ainda pelo fato de o câncer utilizar o sistema de defesa que na verdade deveria combatê-lo para espalhar-se. Ele é atacado e expulso dos gânglios linfáticos pelos linfócitos e utiliza os canais linfáticos para seguir adiante. Os gânglios linfáticos são lugares favoritos para o ataque. Ocupando as cavernas com equipamentos militar do corpo e avançando por suas estradas, o câncer demonstra como seu ataque é corajoso e que está disposto a ousar tudo em um confronto total. Por outro lado, lá mostra-se também a fraqueza da defesa. Ela está literalmente de mãos atadas. O Câncer consegue ficar em tal situação graças a uma camuflagem perfeita(Sycosis). Assim como está em posição de desativar os “genes alterados” de suas células, o câncer consegue também deixar sem energia o sistema que permite reconhecer as células desde o exterior. Por trás desta camuflagem, as células cancerígenas podem meter-se diretamente na cova do leão, no centro de defesa, sem serem reconhecidas e, sobretudo, impunemente. Quando se consegue desarmar as células cancerígenas imunologicamente, elas passam a correr grande perigo. Uma fraqueza das defesas deixa o afetado suscetível. Quando a consciência se fecha para os temas irritantes, o corpo precisa se abrir substitutivamente para os irritantes correspondentes. A defesa imunológica torna-se cada vez mais fraca na medida em que a defesa no nível da consciência é exagerada. força a abertura para as sombra. Não as encara de frente; e ela então emerge no corpo sob a forma de suscetibilidade aos agentes morbíficos.
O conflitos  internos não resolvidos claramente se transformam em “bombas” para as células. Onde o mecanismo de defesa é ativado imediatamente quando situações de medo, perda, raiva, indignação, etc. são acometidos, mas das muitas vezes não conseguem detê-los pelo seu mal funcionamento e,  são absorvidos em milésimos de segundo pelas células.
A célula cancerígena quer tomar todo o mundo de assalto e fazer tudo a sua maneira. É por essa razão que ela penetra em toda a parte, enviando seus agressivos “missionários” até os recantos mais afastados do país. A medicina as chama  de filiae (latim: filhas) ou metástases. Esta última palavra é grega e quer dizer transformação, transplante ou migração. A pretensão de poder “meter-se” até mesmo nas partes mais afastadas do corpo está feita sob medida para a célula embrionária, que em sua indiferenciação ainda traz em si todas as possibilidades. No entanto, desenvolvimento significa, entre outras coisas, limitação e especialização. A célula cancerígena superou ou perdeu de vista a ambas.
No plano anímico-espiritual, as tentativas correspondentes são consideradas megalomania, quase sempre subjugadas e confinadas “com êxito” em uma instituição psiquiátrica. É relativamente raro que um “louco” consiga realmente tomar o poder. No âmbito político, as tentativas correspondentes são combatidas como terrorismo e quase sempre submetidas por meio da violência, e só muito raramente através do poder de persuasão. Os terroristas chamam a si mesmos de revolucionários, às vezes também falam de células revolucionárias, mas para o estado afetado são considerados criminosos que não devem esperar nem clemência nem consideração. Caso vençam, seu poder será respeitado, pois eles serão os novos senhores do país.
No âmbito econômico, os representantes da atitude correspondente são aplaudidos desde o início, já que o câncer evidencia a atitude que faz o êxito empresarial. O empreendedor típico da primeira fase do capitalismo ultrapassa as fronteiras estabelecidas e ataca a concorrência sem compaixão, expulsando-a da área, já que com o poder de seus “cotovelos” pressiona-a contra a parede e a tira do negócio, mina o seu terreno ou pelo menos se infiltra em seus mercados. Em lugar de metástases, sucursais, filiae tornam-se aqui filiais, empresas afiliadas são fundadas. No princípio a matriz, como o tumor correspondente, cresce para além de si mesma, então ela se infiltra na vizinhança para finalmente tornar-se ativa por todo o país e, idealmente o mundo todo. Seu lema “Tempo é Dinheiro” e “preciso Matar um Leão por dia para sobreviver”. Apenas “sobreviver”. Estar presente em toda a parte e ter tudo sob controle. Este é o credo do capitalismo e o comportamento tradicional das grandes empresas. Evidentemente, procede de maneira agressiva e desconsiderada.
As metástases do câncer e as sucursais das empresas tem objetivos análogos. Elas se esforçam para colocar o máximo possível de seu próprio programa sem dar a menor chance às forças locais. O modelo ideal do câncer torna-se explícito no mapa mundi em um escritório empresarial. Um grosso círculo vermelho no meio assinala a localização da empresa matriz, que se infiltra nas regiões circundantes com pequenas filiais marcadas também em vermelho, porém menores. Estas metástases diminuem em número à medida em que nos aproximamos da periferia. Os mapas assinalados dessa maneira são assombrosamente semelhantes às imagens de corpos tomados pelo câncer obtidas por procedimentos de diagnóstico tais como a cintilografia.
Há um outro paralelo ao acontecimento cancerígeno, menos carregado de emoção porque já superado pela história, que é do colonialismo. A formação de colônias fora do próprio país, considerada do ponto de vista de cada império, era uma estratégia cancerígena. Na medida do possível, querer-se-ia colocar o mundo inteiro sob a própria influência e eles de forma alguma sentiam-se constrangidos em invadir violentamente as fronteiras e atacar brutalmente culturas em sua maioria intactas, somente que menos agressivas. As condições de vida não eram nem respeitadas nem poupadas, e as pessoas que se encontravam eram declaradas minorias e escravizadas. Cada império estava de tal maneira convencido da própria megalomania a ponto de querer lançar em todo o mundo grandes ou pequenas edições da Inglaterra, da Espanha, de Portugal, da França ou da Alemanha. Somente os outros impérios, igualmente “canceromorfos”, colocavam limites a seu crescimento invasivo. Tal como seu pendant anatômico, os reinos coloniais freqüentemente tinham problemas de abastecimento, mas tratava-se sobretudo de expansão, e muito menos da falta de infra-estrutura necessária para tal. Assim como nos tumores, pode-se encontrar nos restos, digamos, do império colonial português, uma notável carência de infra-estrutura. Com essa espécie de crescimento indiferenciado, muito veio abaixo tanto nas colônias metastáticas como na matriz das numerosas filhas malvadas. Em um determinado momento, tumores matrizes minúsculos tais como Portugal ou a Inglaterra tinham pendentes de si impérios gigantescos, que continuavam a se expandir e a consumir energia. A Inglaterra aproximou-se especialmente da imagem do câncer com suas colônias totalmente emancipadas do “tumor matriz” (EUA, Canadá, Austrália, Rodésia, África do Sul, Brasil). A história da época colonial deixa claro que, no que se refere aos tumores nacionais, tratava-se muito mais de expansão e ostentação de poder que de comércio e intercâmbio.De maneira semelhante a cabeças hidrocefálicas, administrações coloniais infladas parasitavam países economicamente indigentes cuja estrutura própria tinha sido saqueada, apoiando-se nas costas de “primitivos” escravizados cujo caráter certamente jamais atingiu o grau de primitivismo daqueles que os colonizavam. As células cancerígenas, com seus núcleos superdimensionados exibem, em relação a seu entorno, um excesso de primitivismo semelhante.
O padrão do câncer não confirma o de nosso mundo apenas em grandes traços, podendo ser seguido em detalhes para aqueles que tem olhos para vê-lo. O crescimento das grandes cidades modernas oferece uma imagem explícita de ânsia de expansão de tipo “canceromorfo”. As fotos tiradas por satélites mostram como elas devoram e ulceram a paisagem circundante. Tal como um tumor canceroso, elas confiam no crescimento desalojador e infiltrante, enquanto ao mesmo tempo emissários isolados são enviados sob a forma de cidades-satélite, cidades-dormitório, zonas industriais e outras atividades metastáticas.
Quando se considera a Terra como um todo, a maneira como por toda parte ela é cancerigenamente devorada, saqueada impiedosamente e privada de sua capacidade de reação, a imagem corresponde àquela de um corpo que sucumbiu ao câncer. Quanto a avaliação do estágio em que ela se encontra, se ainda pode lutar para defender-se ou se já está em estado terminal, os economistas, biólogos, teólogos e outros “istas” e “ólogos” não chegaram a um acordo. O correspondente estado de resignação do corpo frente à energia vital juvenil do câncer chama-se caquexia. Ele se entrega a consumação, demonstrando em sua atitude de entrega que está aberto para passar ao outro mundo. Como a nossa Terra continua tentando regenerar-se e se defender energeticamente do pululante gênero humano, ainda há esperança para ela. Como se não bastasse, a ganância de poder do homem foi mais longe; explorar nossa galáxia e se apropriar indevidamente de planetas, para a construção de “bases” de exploração, planejando a construção de “hotéis” para visitação. O Homem é o único animal neste Planeta que por onde passa destrói a tudo e a todos. O “cômico” é que se acham “superiores”!
Mas não somente os princípios de nossa maneira de pensar no que se refere à Terra assemelham-se àqueles da célula cancerígena, nós compartilhamos também um lapso decisivo, ou seja, não medimos as conseqüências de nosso comportamento: a morte de todo o organismo implica inevitavelmente na morte de todas as suas células, inclusive as células do câncer. Somente o começo de todo o empreendimento é promissor para as células do câncer. Elas conseguem liberar-se de seu ambiente e aproximar-se do ideal de autarquia, onipotência e onipresença. Tal como um organismo unicelular, que depende unicamente de si mesmo, concentrando todas as funções em um único corpo, elas se transformam em um guerreiro solitário praticamente independente em meio a comunidade celular. Elas trocam suas habilidades altamente especializadas pela imortalidade potencial, tal como possui o organismo celular. Os organismos unicelulares e as células cancerígenas permanecem vivos enquanto há alimento suficiente. Todas as outras células organizadas estão ligadas a uma expectativa de vida natural, estabelecida em seu material genético. As células do câncer desativaram essa limitação e não mostram nenhuma tendência ao envelhecimento, como o demonstra um experimento macabro. As células de um tumor cujo proprietário morreu nos anos 20, justamente devido a este tumor, vivem e se dividem até hoje em uma solução nutriente sem mostrar qualquer sinal de envelhecimento ou cansaço. O fato de as células cancerígenas normalmente morrerem logo após a morte de seu hospedeiro deve-se ao esgotamento do suprimento de alimento e energia. Enquanto o organismo unicelular realmente perdura independente e imortal em seu mundo aquático de superabundância, a célula cancerígena não percebe que é apenas potencialmente imortal e já não pode tornar-se independente. Exatamente como o ser humano no mundo, seu destino estará sempre ligado ao corpo que vive.
A caricatura de nossos ideais representada pelo câncer deixa claro que nosso planeta já atingiu a fase de erupção da doença. Mais decepcionante ainda, no entanto, é o incômodo conhecimento de que nós mesmos somos o câncer da Terra. Do mesmo modo, o crescimento de nossa ciência é tão demente como o do câncer. Os índices de crescimento são enormes, mas o empreendimento não tem nenhum objetivo. Que possa ser alcançado. O objetivo do progresso é mais progresso e assim, por princípio, caminha rumo ao futuro e para fora de nosso alcance. O câncer também tem um objetivo pouco realista. Este se encontra em sua sombra e é a ruína do organismo. Se fôssemos mais honestos, teríamos de admitir que o objetivo final de nosso progresso é igualmente a ruína do organismo Terra. Bastaria que os piedosos desejos dos políticos se tornassem realidade e os países em desenvolvimento saíssem do atraso tecnológico em que se encontram para que a já ameaçada ecologia deste planeta recebesse um golpe mortal. Em todo caso, pode-se ficar tranqüilo em relação a isso, já que esses desejos não são levados com muita seriedade. Entretanto aqueles desejos que insistem em um progresso linear para nossa parte de mundo o são totalmente, e eles tem algo de degenerado, já que colocam a espécie em risco. Sem a consciência de nossa origem na “Natureza” e sem ter um objetivo no âmbito espiritual, corremos o perigo de nos tornarmos um câncer. Que não pode mais ser controlado. Este perigo é eminente e se situa em uma linha tênue, imperceptível aos olhos do ego. Nós preenchemos todos os pré-requisitos. “A fome do Poder, da Ganância, da Morte”.
Quando essa doença maligna mostra sua face terrível, nos assustamos porque reconhecemos a nós mesmos. Não queremos ver-nos de maneira tão honesta, recusamos um espelho tão nítido. A humanidade tem isso em comum com todos os pacientes de câncer.

Patricia Jorge Alves
Terapeuta Homeopata







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