segunda-feira, 28 de setembro de 2015

MERCURIUS SOLUBILIS DE HAHNEMANN















MERCURIUS SOLUBILIS DE HAHNEMANN
MERCURIUS VIVOS [MERCURIO METÁLICO]

Hahnemann em seus estudos incansáveis, publicou  no ano de 1789 um novo sal de mercúrio, adaptando para o tratamento da Síphilis, descrevendo detalhadamente as propriedades físicas e técnicas de fabricação desse famoso Mercurius Solubilis, que a Europa batizou como: “Mercúrio Solúvel de Hahnemann”.
Publica:
1789 “ Modo exato de preparação do mercúrio solúvel”, na revista Magazine do Dr. Badinger.
1790 “ Exposição completa sobre a maneira de preparar o Mercúrio Solúvel”, nos Anais de Crell.
O Mercúrio solúvel foi elaborado por Hahnemann no laboratório do seu sogro Häseler, em Dessau. Trata-se de um remédio de essência alquimista.
Depois de experimentação patogenética, o mercúrio solúvel continua a ser um dos nossos importantes remédios homeopáticos. Granjeando a Hahnemann uma reputação internacional nos clássicos meios médicos da época, especializados no tratamento das doenças venéreas.
Temos prova disso na clássica obra do professor Lagneau, médico no Hospital dos venéreos de Paris, que, na sua terceira edição datada de 1812, relata o seguinte:
“Tratamento pelo mercúrio solúvel de Hahnemann.
Essa preparação não é mais do que um óxido preto de mercúrio, muito mais puro do que todos aqueles que conhecemos desde há muito por pó cinzento de mercúrio, pó cor da carne, turbito¹ branco, turbito preto, etc. Os médicos alemães usam-no muito, desde que o Sr. Hahnemann chamou a si todas as atenções dos práticos, publicando os vantajosos resultados que tinha obtido na sua prática particular.
Normalmente, a ação do mercúrio solúvel manifesta-se rapidamente, é bastante suave e sempre coroada de sucesso quando administrado em dose suficiente e calculada segundo a natureza dos acidentes venéreos. Aliás, cabe-nos dizer aqui que na Alemanha, onde este remédio está na moda, foi acordado rejeitar, como um erro demonstrado e que se pode tornar perigoso, a afirmação do Sr. Hahnemann de que o remédio só age na medida em que excita uma considerável agitação febril a que ele chama de febre mercurial.
Todos os práticos que utilizaram esta preparação durante mais de vinte anos não lhe reconheceram essa propriedade num grau tão pronunciado como o autor gostaria de deixar assente; a maioria deles nem acreditou que fosse necessário criar um tal transtorno na economia para ter sucesso no seu emprego. O Sr. Spielman, sábio professor da Escola de Estrasburgo, e muitos outros médicos idôneos que consultamos nos vários Estados da Alemanha, juram ter observado essa febre mercurial, embora tenham curado um grande número de venéreos de ambos os sexos pelo método que nos interessa.”
¹ Planta convolvulácea de raiz purgativa( Convolvulus turpethum). T. branco: o mesmo que sene-dos-provençais. T. mineral: sulfato básico de mercúrio, também chamado precipitado amarelo. T. negro: nitrato duplo de mercúrio e de amoníaco (N.R).

Percebe-se que o Dr. Lagneau interessou muito por esse medicamento antivenéreo que Samuel Hahnemann adaptou, prestando-lhe a devida homenagem. Muitos não são simpatizantes da teoria, segundo o qual se baseia a ação do remédio. Ao ilustrar a similitude com sua “febre mercurial”, Hahnemann já começava a gerar incômodos.
Para ilustrar ainda mais o texto, no ano de 1790 foi um ano importante da fundação histórica, o ano em que Hahnemann tem a intuição da homeopatia e em que se confirma sua fé num “Deus todo generoso e todo sábio, que com toda a certeza, deve ter criado um meio de curar as doenças”. A pedido de um de seus editores de Leipzig, Hahnemann tem de assegurar a tradução do tratado de Matéria Médica, em dois volumes, do médico escocês Cullen, no próprio ano da morte do autor.
O Dr. Willian Cullen (1712 – 1790) era um reconhecido acadêmico de tratado acaba de sair na Escócia, em 1789. É nela que Hahnemann trabalhou.
Ao traduzir o artigo consagrado à quinina, droga que vem do Peru e que é justamente conhecida por sua eficácia no tratamento da Malária², Hahnemann fica impressionado com uma informação de Cullen.
Cullen afirma que a quinquina³ cura a malária fortalecendo o estômago, devido as suas bem conhecidas propriedades amargas e adstringentes.
[² é a partir da quinina que os farmacêuticos franceses Pelletier e Caventou conseguirão, em 1820, isolar a quinina, alcaloide mundialmente utilizado no tratamento do paludismo.
³ Planta rubiácea (Cinchona officinalis) (N.R.)]

Hahnemann mal pôde acreditar. O fato é que apanhara na Transilvânia, durante sua estadia na casa do Barão Von Bruckenthal, uma febre perniciosa de tipo periódico. Tinha se tratado com uma importante quantidade do famoso pó de quinquina. Longe de lhe fortalecer o estômago, a droga ocasionara violentos ardores. Cullen estaria portanto errado!
Posteriormente, escreverei mais sobre a Quina.

Voltemos ao Medicamento Mercurius Solubilis de Hahnemann:
Sinomínia: Hydrargyrum depuratum, Mercurius oxydatulus niger, Mercurius vivos. Mercurius solubilis-Mercúrio Solúvel de Hahnemann. Mercúrio Metálico.
Origem do Medicamento: Mercurius vem do “fundo da Terra”. (Schaffer)

A patogenesia de Mercurius é feita com as experimentações práticas de Mercurius vivos e Mercurius solubilis, que são na verdade duas preparações ligeiramente diferentes, mas não o suficiente para os distinguirmos na prática.
Mercurius vivos ou Mercurius metálico é um metal branco prateado, muito brilhante, líquido na temperatura ambiente e extremamente móvel, daí seu nome popular de prata viva. Na natureza raramente é encontrado em estado natural, mas sim em estado de sulfuro vermelho de mercúrio ou cinabre. Este mineral contêm massas cristalinas vermelho vivas encontrada na Alemanha, Espanha e Califórnia. Para obter o mercúrio assa-se o cinabre em um forno especial; forma-se então o ácido sulfúrico e o mercúrio, que está condensado em várias camadas entre o forno e a chaminé, enquanto que o ácido sulfúrico se evapora.
As três primeiras dinamizações do medicamento homeopático se preparam por triturações Hahnemannianas.
TOXICOLOGIA:
Três formas de envenenamento baseando em Tardieu:
Forma Aguda:
É rápida e a morte chega em 24 e 30 horas. Inicia-se com vômitos biliosos ou mucosos com evacuações brancas, o ventre está distendido e doloroso. Face com aspecto marcado pelo sofrimento, palidez , o  corpo fica coberto com um suor profuso. As fezes tornam-se mais frequentes, sanguinolentas e a urina escasseia até desaparecer. O pulso torna-se fraco e fino, a respiração ansiosa, o hálito fétido, a salivação abundante, as bochechas inchadas, vermelho brilhante; a faringe também está tumefeita e o ar tem dificuldade para passar. A pele está fria e viscosa. Após uma reação incompleta e passageira, o resfriamento e o colapso aumentam e o doente morre em síncope consciente. Na autópsia encontramos uma inflamação pultácea, violenta, do início do tubo digestivo até o estômago, que está injetado, contraído, com numerosas equimoses na face exterior. Na face interior a mucosa está amolecida e , no intestino. Os rins estão injetados, o epitélio deformado e descama. As mucosas respiratórias (laringe, traqueia e pulmões) estão congestionadas. O músculo cardíaco apresenta equimoses subpericárdicas e subendocárdicas, preenchido de sangue negro e fluido.

Forma Subaguda:
É menos violenta que a anterior, a evolução é mais lenta e tem outros sintomas. Picadas na laringe, tosse convulsiva, expectoração muco sanguinolenta e sufocação importante. As gengivas e a faringe estão extremamente tumefeitas e recobertas de falsas membranas com inchaço dos gânglios submaxilares. No 5º e 6º dia há remissão dos sintomas mas a palidez, estupor, prostração geral persistem. A urina está albuminosa, algumas vezes hemorrágica. Podemos encontrar hematêmese e petéquias. Em seguida a circulação se altera, a caquexia aumenta, aparecem soluços e aumento da sensibilidade. A morte sobrevém entre 8 a 15 dias, sem convulsão nem agonia. Na autópsia vemos ulcerações intestinais sobretudo no jejuno, lesões renais semelhantes às do Mal de Bright, há escurecimento das substâncias cinza e branca dos centros nervosos.

Forma Crônica ou com intoxicação lenta
O primeiro sintoma é a halitose, em seguida aparecem náuseas e vômitos. O doente torna-se lânguido, pálido, com olheiras, queixa-se de calor na cabeça, principalmente na fronte e raiz do nariz, não pode suportar o calor da cama à noite. Em seguida a mucosa bucal se edemacia, as gengivas tornam-se dolorosas, esponjosas, branco amareladas, se ulceram, e o hálito fica fétido; os dentes caem, as gengivas estão bordeadas de vermelho, a salivação é abundante, as parótidas estão inchadas, assim como os gânglios cervicais e o canal de Stenon está ulcerado e vermelho. O hálito torna-se mais e mais fétido, a língua incha e tem a marca dos dentes. O fígado e o pâncreas se inflamam, podendo chegar a apresentar  abcessos. Pode aparecer catarro duodenal e diarreia. Pouco a pouco o sangue se empobrece, o corpo edemacia, a pele fica amarronzada e se ulcera facilmente principalmente na tíbia. O  doente apresenta febre héctica com calafrios, o periósteo se inflama produzindo dores, recebendo o nome de dores “mercuriais”; pioram pela mudança de tempo, pelo calor da cama, impedindo de dormir, tendo  muita ansiedade, agitação, nervosismo, sufocação com angústia precordial, transpiração abundante. A agitação não melhora durante o dia, tendo movimentos musculares que simulam a dança de São Guido; tremores nas mãos (tremores mercuriais) podendo afetar todo o corpo levando à paralisia. Este quadro final de paralisia afeta inicialmente as pernas, sendo que a mente também é afetada, não fazendo mais a higiene, terminando por apresentar um quadro de imbecilidade completa e morte.
Se observarmos somente a ação patogenética do medicamento, vemos que age eletivamente no sistema linfático. Este é seu centro de ação e é por isso que é um policresto importante. Todos os órgão são afetados, mais ou menos profundamente dependendo do desenvolvimento linfático. Age nos gânglios e vasos linfáticos, nas serosas e nas sinóvias, no periósteo, ossos, tecido celular, glândulas, mucosas, e principalmente no tubo digestivo, com predileção marcada pelas extremidades: boca, faringe, cólon e reto, enfim, a pele e seus anexos.
O sistema venoso, pelas suas conexões íntimas com o aparelho linfático, sofre também, sobretudo o sistema porta, fígado e útero; órgãos ricamente vascularizados são afetados.
Ao examinarmos a ação de Mercurius vivus sobre a pele, mucosa e órgãos, vemos que ele provoca, nas criptas dos folículos, gânglios, vasos linfáticos e capilares venosos inflamações exsudativas, que tendem a ulcerar; podendo estar envoltas por um inchaço sub inflamatório ou edematoso, mas jamais chegam à gangrena. Nas cavidades linfáticas, sinoviais, nas serosas articulares ou viscerais, nos espaços intercelulares, Mercurius vivus provoca exsudação serosa ou pseudo membranosas que não chegam a supuração. Mais tarde, afeta o sistema nervoso (centro e nervos) desenvolvendo uma sintomatologia que nos lembra a esclerose em placas ou a paralisia. Age nos líquidos orgânicos, fluidificando e decompondo, afeta a plasticidade levando caquexia com alteração dos glóbulos sanguíneos, amolecimento e infiltração dos tecidos.
É um medicamento linfático venoso de primeira linha; age bem nas afecções causadas pelo vírus específico levando a cura em muitas afecções herpéticas ou escrofulosas.
Ação tóxica sobre o SNC (excitação com agitação motora e tremores; depressão com tendência à paralisia flácida sem atrofia); sobre o sangue (hipocoagulação, tendência hemorrágica); sobre certos parênquimas (hepático, renal, pancreático).


SIMBOLISMO
Vê água correndo onde não há. E sobre as águas diz a simbologia: “que fluem, são como pensamentos que fluem uns nos outros” (Hah). (Schaffer).
Ilusão de ver águas, símbolo do cumprimento da vida e morte, com renascimento à vida espiritual; o sofrimento de todas as torturas do inferno, no caos de patogenesia de Mercurius como ruptura da harmonia da vida e a somatização da vida.
Sensação de parasita na vagina, símbolo criador feminino, expressando a profunda problemática de Mercurius, perdendo a sabedoria ambivalente da criação e destruição.
Aquele que se encarregava das alianças e dos tratados de paz entre as nações, continuará na queda, tentará conduzir os homens, mas fará de maneira anarquista e revolucionária, pois perdeu seu “caduceu”, seu poder de integração.
Mercurius é o único medicamento que sonha com javalis, representando a luta do poder espiritual contra o poder temporal . Para caçar o javali há de ter em conta os ventos porque seu olfato é muito agudo, percebendo logo a presença do homem. Para os hiperbóreos (povo em que os Gregos mantêm uma recordação nostálgica), o javali representa a autoridade espiritual, tornando-se muito perigoso se é ferido e ficam muito solidários quando atacado. Aparece nas histórias clínicas de Mercurius muita solidariedade.
Pode-se definir Mercurius como um intoxicado que às vezes se “abafa” ou que é logo de início “abafado”, ou então se debate vigorosamente com desarmonia, irracionalidade, podendo terminar por um desbloqueio e uma renúncia.
Demóstenes, como Mercurius vendo a inutilidade de seus esforços, se suicida, se envenena, para ele tudo vai fracassar.
Se não acatam suas “ordens” há que encomendar-se a Deus um vendaval. Chevalier diz a respeito  do vento: “Símbolo da vaidade, da inconstância.”
Na Astrologia, Mercúrio é definido na astrologia como “energia intelectual”

Vijnovsky diz: “ O desejo ou tendência de matar aos outros, inclusive pessoas de seu convívio. Apresentam uma predisposição criminal, assim escondem as facas e navalhas de suas casas, pois são capazes de cometer assassinatos”.

Sua agressividade se manifesta por seu ódio a quem o ofendeu com crueldade e perversidade.
É o único medicamento que tem o sintoma do bom humor, alegre alternando com falta de compaixão, (parece se divertir com o sofrimento alheio).
Maldoso com desejo de matar a pessoa que o contradiz. Desconfiado e insultante.

Para darmos uma ilustração, no Livro de Ester, Capítulo 3, a história de Hamã:
Depois desses acontecimentos, o rei Xerxes honrou Hamã, filho de Hamedata, descendente de Agague, promovendo-o e dando-lhe uma posição mais elevada do que a de todos os demais nobres. Todos os oficiais do palácio real, curvavam-se e prostravam-se diante de Hamã, conforme as ordens do rei. Mardoqueu, porém, não se curvava nem se prostrava diante dele. Então, os oficiais do palácio real perguntaram a Mardoqueu: ‘Por que você desobedece a ordem do rei?’. Dia após dia eles lhe falavam, mas ele não lhes dava atenção e dizia que era judeu. Então contaram tudo a Hamã para ver se o comportamento de Mardoqueu seria tolerado. Quando Hamã viu que Mardoqueu não se curvava nem se prostrava, ficou muito irado. Contudo, sabendo quem era o povo de Mardoqueu, achou que não bastava mata-lo. Em vez disso, Hamã procurou uma forma de exterminar todos os judeus, o povo de Mardoqueu, em todo o império de Xerxes.” (Ester 3: 1 – 6)

Hamã, foi vizir(primeiro ministro) do rei Assuero, também chamado de Xerxes, rei da Pérsia. Ele planejou a destruição do povo judeu como vingança de uma desconsideração feita por Mordecai ou Mardoqueu (em algumas versões), um judeu, que era parente da rainha Ester. Pela interferência da rainha, que também era judia, o rei contornou a situação e permitiu  que os judeus se defendessem de ataques propostos por Hamã. Na ansiedade de matar Mordecai, Hamã mandou construir uma forca, entretanto ele próprio quem acaba inaugurando a referida forca. Hamã simboliza um grande inimigo do povo judeu, e um homem cruel, sendo que atá nos dias de hoje, as sinagogas comemoram a vitória política da rainha Ester, com uma festa, chamada de Purim, e quando o nome de Hamã é citado nas sinagogas, recebe uma vais, ou arrastam os pés no chão em sinal de repúdio. Foi um personagem frio, cruel, inquieto e destrutivo.
A relação entre mitologia e religião, ajuda-nos a compreender quem era Mercurius na sua pré-psora e qual foi sua queda e consequente perda. Os mensageiros de Deus são os anjos, os executores das ordens de Deus, da vontade divina, realizando missões visando corrigir, ensinar, repreender e consolar cidades, povos e indivíduo. Entre esses anjos havia um que estava mais próximo do criador e era o portador da luz divina, Lúcifer ( na mitologia Mercúrio transforma as trevas em luz pelo toque de seu caduceu). Lúcifer, em sua soberba, desejou ser mais que o criador, comandando a revolução dos anjos, anarquizando as forças cósmicas e caindo, em seu castigo, como um raio nas profundezas do inferno, perdendo a luz, passando a viver nas trevas ( Mercurius Solubilis, sofre os tormentos infernais sem ser capaz de explicar).
O Conto da Bela e a Fera, revela a síntese do Mercúrio na mitologia, da astrologia, da alquimia, da religião e o mercúrio da própria matéria médica, tornando-se  um precioso recurso didático, nos facilitando na memorização da personalidade mercuriana. Pelos símbolos dos contos de fada, procura-se captar mais do que o significado evidente e imediato, sendo que o desejo da Bela pela rosa vermelha, é o símbolo do desejo de perfeição, aquele dom que foi perdido por Mercurius, e o cuidado da Fera, guardando-a cuidadosamente, é a expressão simbólica da grande expectativa de Mercurius por sua regeneração e purificação. A rosa é o elemento de ligação entre os polos opostos de Mercurius, o objeto que vai permitir a Bela e a Fera se integrarem numa síntese perfeita. Procuram destruir tudo o que impede seu florescimento, com a finalidade de construir um mundo de forças integradas e perfeito.
Sua evolução começando com astúcia e ativo, tendo um contato fácil com o sentido de mostrar seu valor.
Demóstenes como Mercurius, vendo a inutilidade de seus esforços, se suicida, se envenena, pois para ele tudo vai fracassar.
Mercurius é um “vendaval”; vento “símbolo da vaidade, da instabilidade, da inconstância”.

Patogenesia \ Patologia

Mercurius lesa preferencialmente o córtex cerebral, afetando a inteligência. Marcado déficit intelectual com obtusão para as operações mentais, lentidão na elaboração das respostas. Personalidade imatura com regressão infantil.
Ação tóxica sobre o SNC – excitação com agitação motora e tremores, depressão com tendência a paralisia, sem atrofia. Hipocoagulação e tendência a hemorragia. Sistema hepático, pancreático, renal.

Características

Inexpressável dor de alma e corpo com inquietude ansiosa como se algo de mal o ameaçasse com angústia noturna precordial. Suor no rosto e nas mãos; desgosto consigo mesmo, sem coragem para seguir vivendo, Melancólico. Considera à todos seus inimigos.
Sofre os tormentos do inferno, sem ser capaz de explica-lo. Agrava estando só. Disposição amorosa e sexual. As surpresas que são agradáveis o lastimam, sofre as brigas entre parentes e amigos. Deseja vingança, cuspindo na cara das pessoas, grita, blasfema, xinga. Não suporta que o consolem. Torna-se indiferente as pessoas que o amam, os ignora, com aversão aos seus familiares.
Debate-se vigorosamente, desarmonicamente e irracionalmente contra a “intoxicação” vivida como angústia, asfixia existencial, com reações em sobressaltos com instabilidade e insatisfação, tendo a necessidade de provar que é capaz de ter sucesso. Avalia mal o real, medindo mal seus meios, ocultando riscos e perigos. Mercurius tem sempre altos ideais, estando relacionados com o inalcançável.
Mercurius Solubilis é um medicamento sifilítico. A Homeopatia deve ser individualizada, procurando encontrar o núcleo específico, entre os milhares existentes, caracterizando o indivíduo.
 Dor na cabeça após secreção suprimida, alterando com transpiração nos pés. (Allen).
Cabeça muito volumosa, coberta de suores gordurosos e fétidos (Calcarea Carbonica, Sulphur e Silicea), gânglios hipertrofiados; hiperativo. Fontanelas abertas. Crianças precoces ou tardias na aprendizagem, na dentição, no caminhar; poliadenopatias.
Pletóricos de aspecto sifilítico com o rosto inchado ao redor dos olhos, tez pálida, pálpebras tumefeitas e roxas, lábios secos e fissurados com boqueiras. Transpiração e hálito fétido. Língua característica.

A ansiedade e agitação estéril podem levar a impulsos agressivos impregnados de culpabilidade chegando a um fracasso punitivo. Seja a uma renúncia, ao desespero, ao desejo de morte. A respeito de seu triplo e glorioso apadrinhamento astronômico, mitológico e alquímico, Mercurius permanece profundamente representativo de um modo reacional desarmônico e insano, tanto psíquica quanto fisicamente, só mantendo seu equilíbrio precário através de tentativas de restabelecimento desigualmente conseguidas. ( BARBANCEY).

O indivíduo Mercurius Solubilis é sensível às mudanças de tempo e de temperatura (termômetro), sentindo-se bem em dias frios e chuvosos.

Sintomas bucais característicos: sialorréia, hálito fétido, língua flácida e inchada com as impressões dentárias nas bordas. Cospe e lambe frequentemente sua saliva. Dentes como limpa trilhos (locomotiva tipo Maria Fumaça).
Dores ósseas, desgaste ou quebra; amolecimento dos ossos; osteoporose; inflamação de ossos; agrava todos os sintomas à noite.
Deseja matar a quem o contradiz ou a pessoa que Mais ama. Muito ciumento. Mercurius é mais criminoso do que suicida como  Aurum Metallicum. (Pachero)
Ditatorial, expressam o domínio sem escrúpulos.
Ansiedade de consciência relacionada com o aparecimento de uma janela com um vidro quebrado ( simbolismo de consciência, quando vê uma janela aberta ou um elemento cortante, fica suando com incontrolável desejo de se suicidar) (Syphylinismo). (Schaffer).

Atitudes de escape; crítico; espírito de contradição; medo de ladrões; medo de ficar louco; falta de confiança; sensação de que tudo vai falhar; sente como se estivesse condenado ao fracasso; Agravação de todos os sintomas à noite com impulsos agressivos; nostalgia com a qual Mercurius recorda o paraíso perdido; agrava estando só; pressentimento de morte. (Hahnemann)

Alternância de personalidade, ora alegre positivo, ou momentos depressivos .
É doce, mas tem um animal por dentro; reage bem ao beijo, contestando essa afetividade. Olhar doce \ agressivo. (Bipolaridade).
Altos ideais estão relacionados com o inalcançável. É como se lhe desse uma explicação a grande parte da agressividade de Mercurius, que é uma agressividade que está profundamente enraizada a valores afetivos muito profundos, não podendo evoluir, Mercurius faz uma revolução.
Mercurius é o único metal líquido ou volátil. Tem os dois estados ( líquido e gasoso), único que não é sólido. Quando o termômetro é rompido, o Mercúrio se fragmenta, podendo voltar a se unir, recuperando sua  forma inicial. Assim é o discurso de Mercurius, um discurso dogmático sem fissuras. “Perco-me por caminhos laterais, porém volto ao caminho real, não fico fragmentado”.
O lado maligno, o pólo inferior de Mercúrius, não chega a cobrir totalmente a sua bondade, evidenciando fazendo surgir o ser amoroso e carinhoso com desejo de companhia.
Mercurius pode corresponder àquelas pessoas devotadas a uma administração, a uma associação ou a uma causa a qual se identificam , servindo no contexto de uma hierarquia, encontrando aí uma armadura protetora sendo necessária moralmente, estimulando-os para lutar contra sua indolência Mercurius Solubilis, o anarquista, revolucionário, sendo ditador criminoso em potencial tamanha é sua agressividade com violência.
Malicioso, rancoroso, insultante; desassossego. Atarefado, caótico, confuso, esbanjador.
Briga com tudo e com todos, queixando-se de suas relações e das condições de sua vida.
Ansiedade de consciência, o sentir-se a mercê de seus impulsos agressivos que o urgem a matar ou suicidar-se.
Mercúrio é o único medicamento da Matéria Médica que deseja matar por “contradição”(Bronf.)
Inquieto, nervoso, com atitudes de escape. Desespero por sua recuperação, hipocondria. A ansiedade de Mercurius está ligada a algo profundo, visceral, levando de um lugar para outro com sentimentos apreensivos.
Não tem confiança em si mesmo, covardia, antecipado, tendo a sensação de que tudo falhará, assustando-se por bagatelas.

Mercurius Solubilis é mais criminoso do que suicida, modalizando sua culpa com um estado de agitação e apuro.

Pessoas devotadas a uma administração, a uma associação ou a uma causa, a qual se identificam (o que dá um sentido a sua vida), servindo no contexto de uma hierarquia. Eles encontram aí, uma armadura protetora que lhes é necessária moralmente e o estímulo indispensável para lutar contra sua indolência, sob pena de perder sua  função e seu cargo. (Barbancey).
Característica de Mercurius Solubilis um déficit intelectual com aparente dificuldade de concentração, sendo extremamente apurados (apressados) do ponto de vista físico, extrema agitação psicomotora com letargia mental.
Ele não tem descanso, precisando ir de um lugar para outro, não permanecendo um longo período num mesmo lugar.
Movimentos desordenados; diz Hahnemann: “vê água correndo onde não há”.
Impressionável e sugestionável, havendo um comportamento masoquista.

MIASMAS

Psora

O Tema da Nostalgia em Mercurius, modalizada pela ideia de que tudo está em desordem, é um pilar importante sobre o qual podemos armar a dinâmica miasmática do medicamento.
Ansiedade e apreensão no sangue. Ebulição do sangue. Orgasmo de sangue com ansiedade. Essa ansiedade está ligada a algo profundo, visceral. Essa ansiedade que o leva de um lugar para outro, com tentativas de fugir. Escape com ansiedade à noite. “Desejo incontrolável de viajar longe. O interessante é saber qual é o sentido de viagem de Mercurius? Tenho a impressão que este desejo de viajar de Mercurius é uma mescla de nostalgia , de buscar o paraíso perdido, fugindo da culpa do impulso da própria veemência.

Eixo psórico de Mercurius está em seu corpo não caminhar junto com sua mente, sentindo-se culpado de um crime e compulsoriamente tem uma mente embotada débil,  em um corpo com excesso de energia, que não quer ficar um minuto só parado. Havendo através desta desintegração , a explicação de todo o sofrimento deste remédio e o alto tributo que acarreta através de seus sintomas. Graças a este processo de desintegração psíquica , quando a mente não acompanha o corpo, o movimento psíquico em relação a si mesmo, é de auto agressividade externalizada através de seus sintomas psóricos. Odor forte das secreções, transpiração, mau hálito, gengivas inflamadas, aftas, sede intensa, piorreia, amígdalas inflamada, com frequência úlcera de pele, supuração, furunculose, parotidites, língua marcada pelos dentes, saliva fétida, rânulas, range os dentes dormindo, diarreia com catarro, úlceras fétidas, grande dor na uretra quando começa urinar. Menstruação copiosa com coágulos fétidos, corrimentos vaginais e outros tantos sintomas expurgativos, demonstra nestes sintomas uma necessidade do medicamento de colocar no sentido centrífugo, suas angústias psóricas.
Medo de morrer, crê que está perdendo a razão.
Ilusão de que cada um é seu inimigo; de que está por ser ferido; de que será envenenado; vê ladrões em sua casa; sensação de perseguição. “Estou condenado neste inferno porque aqui fui abandonado, me sinto um fracassado”.
Mercurius procura desta forma, encontrar uma explicação ou justificativa exógena para seu sofrimento endógeno.

SICOSE

A defesa sicótica de Mercurius Solubilis não é grande pois o medicamento é Slyphilitico por sua natureza, indo dos oito aos oitenta rapidamente. Porém os fatos de sonhar acerca de estar fazendo uma revolução , com um humor desconfiado e receoso, considerar as pessoas em redor de si mesmo seus inimigos, esquecer os fatos para defender-se, ser irritável, atrevido e egocêntrico, não querendo que ninguém penetre em seu mundo, se escondendo num mundo que criou para si é uma fuga sicótica.
Se os outros são o grande perigo para Mercurius, ele vai enfrenta-los, lutar contra eles, para sair da situação de imperfeição em que se encontra.
Na sua ânsia de buscar a perfeição (perdeu o paraíso), tornar-se-á o revolucionário, anarquista, rompendo laços, desintegrando relações, impondo suas ideias, buscando novos caminhos para sair do seu infortúnio. Mas o lado maligno, o polo inferior de Mercurius, não chega a cobrir totalmente sua bondade, o seu polo superior, se evidenciando, fazendo surgir o ser amoroso e carinhoso com desejo de companhia.

SYPHYLINISMO

Cansaço de viver ; dificuldade do trabalho mental; deficiência de ideias, imbecilidade; frágil mecanismo de defesa levando a instabilidade, ineficiência do organismo; marcado déficit intelectual, obtusão mental; lentidão para responder ; personalidade regressiva infantil.
Orgulho e atitude ditatorial. Longe de compensar uma atitude de insegurança como vemos em Lycopodium, ou plasmar o afã possessivo de afeto como em Lachesis, Mercurius constitui traços sifilíticos de sua deterioração mental, obtusão a ponto de sentir impulso de matar a quem o contradiz.
A agilidade em seus processos mentais, na tentativa de descobrir novos caminhos que o tirem do seu estado sofredor, e o façam encontrar o que julgar perfeito. Após toda a sua agitação e seu caos interior, ele entra em pânico e nos veremos num estado sifilítico de embotado, calado com gestos de imbecilidade, chegando-se a um grau de loucura com medo de perder a razão, com disposição suicida.

FALA, VOZ, LINGUAGEM.
Dificuldades de linguagem aparecem cedo, começa a falar tarde, com frases fragmentadas e mal formadas.
Dificuldades respiratórias, sendo que às vezes auditivas, dando a impressão de que ouve mal  ou que tem uma anomalia na faringe. É o cliente habitual das consultas de ORL e das fonoaudiólogas, sendo sua expressão verbal pouco satisfatória, com um discurso mastigado, apresentando gagueira. Dificuldade de concentração, com muitas dificuldades em período escolar. (Barbancey)
Gago quando fala rápido. As fonoaudiólogas colocam bolinhas na boca.  Demóstenes que era gago, usava pedras na boca. (Schaffer)

ABDOME
Abdome duro e distendido. Dores hepáticas agudas, gastrenterite, colite ulcerativa.

BOCA
Aftas, ulcerações, boca úmida com sede intensa por bebidas frias.Gengivas sangrantes, retraídas, inflamadas, inchadas, roxas, esponjosas, supurando facilmente, língua mapeada, com uma camada branca,  hálito fétido,  gosto e sabor metálico. Salivação abundante. Garganta inflamada, inchada,  ulcerada. Amidalite aguda, faringite, parotidite. Hipertrofia dos gânglios. Angina ou amidalite com tendência à supuração, dores agudas ao deglutir com hipersalivação. Garganta seca, dói como se estivesse muito apertada, com uma pressão ao engolir.


DENTES
Amolecimento dos dentes, doendo quando é tocado pela língua. Sensação de dentes frouxos, cáries. Range os dentes dormindo, dores agudas pulsáteis, rasgante, lacerante.

GENERALIDADES
Mercurius é um dos melhores medicamentos de câncer.
Dores dilacerantes e repuxantes no periósteo, cabeça, face, dores reumáticas.
Ação profunda sobre as glândulas, mucosas e os ossos.
Mercurius é notável por sua putridez e mau cheiro do hálito, transpirações
encharcantes. Leucorreia ofensiva. Tendência destrutiva dos tecidos. Reumatismo inflamatório, com muito inchaço, dores lancinantes e picantes agravando no calor da cama.
É um dos grandes medicamentos de Parkinson. Grande fraqueza e tremores ao menor esforço. Tremores em toda parte.

CABEÇA
Paresia cerebral, lentidão para responder às perguntas. Congestão cerebral, dor viva na cabeça como se o crânio estivesse apertado. Sensação de cabeça num torno. Transpiração profusa no couro cabeludo. Vertigem.

ESTÔMAGO
Digestão difícil, náuseas, regurgitações, vômitos e ardores. Úlcera sangrentas e fétidas.

GENITAL FEMININO
Leucorreia escoriante, ardência queimante, contínua, esverdeada, acre, prurido com sensação de carne viva, piorando com o contato com a urina. Dores nos ovários. Regras abundantes com dores abdominais; sangue negro com coágulos volumosos.

GENITAL MASCULINO
Cancro primário, regular, indurado, sangrante, doloroso.
Erotismo lascivo.
Gonorréia com fimose ou afecção cancroide, ardor intolerável na parte anterior da uretra ; Leucorreia escerdeada, picante, com muita coceira; Espermatorréia; corrimento uretral verde de mau odor com ardor ao urinar e tenesmo vesical. Emissão seminal noturna, misturada com sangue. Remédio de Hahnemann contra a sífilis e as doenças do trato geniturinário. Ulceração extensa e sangrante sobre o pênis.

NARIZ
Irritação das asas do nariz com ulceração, coriza aguda, aquosa, abundante, espessa, amarela, ardente, irritante que piora com o tempo úmido, com odor de queijo velho. Ozena com dor nos ossos do nariz. Narinas esfoladas, ulceradas. Catarro abundante,  fluente, acre e purulento. Sinusites.

OLHOS, VISÃO
Blefarite,  pálpebras inflamadas, inchada, vermelha, aglutinada, ardente que piora  ao ar livre. Secreção mucopurulenta, abundante, ardente, corrosiva, com pequenas ulcerações nas pálpebras. Clarões nos olhos, sensação de queimação, como faíscas de fogo. Fotofobia; intolerância absoluta à luz; lacrimejamento.

OUVIDO
Furúnculos e abcesso no meato externo. Otite média; caxumba; perfuração do tímpano; otorréia purulenta, ofensiva e repugnante, descarga de substância sanguinolenta, malcheirosa com dores perfurantes e dilacerantes. Furúnculos no canal externo.
Secreção do ouvido é expessa, amarelo esverdeada, fértida, sanguinolenta, irritante, escoriante com dor desgarrante, piorando a noite e pelo calor.

OSSOS
Cáries nos ossos dos pés. Doenças dos ossos.  Osteoporose, inflamação do periósteo, perna, sendo que tudo é agravado à noite.

PELE
Doenças da pele, prurido, mordência intolerável por todo corpo, como mordidas de insetos, pruridos que se agravam à noite e pelo calor da cama .
Erupções vesiculosas e pustulosas com secreção repugnante. Pele constantemente úmida, suores viscosos de mau odor; furúnculos; prurido insuportável; psoríase eczema; pele doentia; ulceração crônica com tendência a disseminação; transpiração profusa.

CRIANÇA MERCURIUS SOLUBILIS

As características da criança está no aspecto sifilítico destrutivo, com hiperatividade somada à agressividade, demonstrando ódio intenso aos que a tem ofendido. Descontentes com pensamentos suicidas. Pensa e executa a fuga de casa, e pensa em matar os outros, fazendo fantasias a respeito disto.
São crianças censuradoras, colocando defeito em tudo, e graças ao antagonismo miasmático em que vivem, ao mesmo tempo em que desejam um brinquedo, assim que o conquistam jogam no canto ou os destrói imediatamente, não demonstrando o menor zelo por suas coisas. Seu excesso de vitalidade leva à inquietude, acarretando dificuldade de assimilação, de fixar atenção. São crianças esquecidas, com dificuldade para reter; entretanto não são limítrofes.
São medrosas, agravando o medo à noite. Já a partir do entardecer, começam os medos, sendo neste momento a ansiedade é intensa devido ao sofrimento por antecipação.
São apuradas, vivem apressadas sem motivo real. É uma luta coloca-los na cama, pois não param, fogem, escondem-se enquanto o sono não vem, se batem de um lado a outro na cama, vão ao banheiro e a cozinha a cada pouco, sendo motivo de censura dos pais. E se lhe é imposto ficar quieto na cama, então manipulam seu órgão genital, chegando a masturbação precoce. Sua noite é longa, cheia de medo, sobressaltos, bruxismo e choro. Seu humor chorão, alternando com riso, combinando com o caráter histérico deste medicamento.
Dificuldade de relação com os colegas, isolando-se( misantropia). Difícil relacionamento social/ escolar.

E aí, vai uma dose de Mercurius Solubilis?

Patricia Jorge Alves
Terapeuta Homeopata


























INSTITUTO CULTURAL IMHOTEP