terça-feira, 16 de novembro de 2010



Pablo Picasso


Foi o pintor mais dotado e mais conhecido do século XX. Representa por meio de sua arte, e de uma frenética procura pelas inovações e pelos rompimentos, as esperanças e as desilusões de uma civilização que sofre com a falta de mudanças.
Para Picasso, a forma que se impôs, pouco a pouco, não foi aquela de uma lição clínica” e menos ainda de um estudo repertorial, mas a de um balanço de personalidade, uma tradução psicológica que lembra, eventualmente, uma investigação policial.
Foi em Málaga, em 25 de outubro de 1881, às vinte e três horas e quinze minutos, que nasceu Pablo Ruiz, primeiro filho de Don José Ruiz e de sua esposa, Dona Maria Picasso.
Manifestou precocemente extraordinários dons de desenhista e colorista. Com 8 anos, mesmo sendo um estudante medíocre e fantasista, sua facilidade era surpreendente. Seu Pai artista amador e apaixonado pela pintura, conservador do Museu Municipal de Málaga, e depois professor de desenho na La Corogne durante quatro anos( 1891- 1895), foi o primeiro a reconhecer o excepcional talento do qual o jovem Pablo Picasso era perfeitamente consciente.
Antes de Partir para Catalunha onde seu pai fora nomeado professor de desenho, Picasso teve duas experiências dolorosas. A primeira foi um ferimento afetivo. Com 13 anos ficou perdidamente apaixonado. Os pais da menina, imbuídos pelo seu meio social, mandando sua filha para um colégio interno em Pampelune. Paulo I Fabro, cronista catalão dos anos de juventude de Picasso, explicou: “Algo de muito tenro e muito profundo foi destruído nele.”
Rejeitado porque não era rico, nem de uma classe social importante, a dor foi forte e o ferimento profundo.
A Segunda experiência dolorosa foi a morte de sua irmã menor Conchita durante uma difteria por angina asfixiante, um quadro de cianose. Após este episódio tão marcante, conservou as angústias da sufocação, a fobia de locais fechados, das golas fechadas e das gravatas.
Picasso   com a ajuda de seu pai expôs , muito modestamente em um bazar, descobriu que o pintor não tinha ainda nem 14 anos. Grande maestria e surpreendente sensibilidade, com profunda compaixão e uma intensa ternura nos quadros que havia feito(Moças descalças, Cabeça de Velho, Os Velhos Peregrinos), havia uma riqueza inesgotável em seus rostos, mesmo os mais miseráveis.
A simpatia por Picasso por pessoas do povo era inesgotável, e o que permaneceu constantemente nas suas obras foi a atmosfera das cenas da vida dos humildes, nunca expressa com crueldade.
A dupla paixão de Picasso: A Pintura e as Mulheres.

“...Prefiro renunciar definitivamente ao desenho e à pintura do que me submeter às regras alheias...”
Dizia não ter aprendido nada na escola, estando com os olhos constantemente fixados no relógio, angustiado pela perda de tempo. Na escola de Belas Artes de Barcelona, se destacou como provocador, desafiando as regras e normas, os professores o reconheciam seus dons de aluno prodígio.
Pode-se dizer que Picasso foi movido por uma curiosidade tão cansativa quanto desconfiada pelo ser feminino o seu medo de ser sufocado e abandonado. Tinha desejos que as mulheres se submetiam a ele com uma intensa sexualidade, às vezes no limite da obcessão sexual.
Dizia frases cruéis: “Como todo artista, sou inicialmente o pintor da mulher e, para mim, a mulher é essencialmente uma máquina de sofrer”.
“Não se abandona um homem como eu!”
“Prefiro vê-la morta a feliz com um outro”.
A inegável profunda relação que tinha Picasso entre provocação, erotismo, e criação artística é particularmente evidente. “O corpo só leva ao corpo, expressão de um convívio insaciável”
Picasso estava sempre inquieto, agindo como se olhasse uma ampulheta, não podendo reter o tempo que escorria.
Para Carl Gustav Jung a arte deste pintor é uma interpretação típica de esquizofrenia, das suas contradições de sentimentos e até uma ausência total de sensibilidade. Ele vê nas pinturas de Picasso uma espécie de ferimento moral, que “se manifesta nas linhas quebradas, isto é, espécie de fissuras físicas que atravessam a imagem, gelam ou surpreendem pelas suas audácias paradoxais, confusas, pavorosas ou grotescas”. Para Jung, tudo isso evidencia “a força da atração demoníaca pelo feio e pelo mal”.
As fantasias de deformação dos membros que o aterrorizavam(visões hipnóticas, e não sonhos, do início do sono, geralmente devido à uma hipoasfixia, têm a mesma origem; porém de maneira mais abrangente.
A mãe de Pablo falava sobre seu filho: “Para a beleza, foi um anjo e um diabo”. James Tyler Kent, um grande Médico Homeopata descrevendo como alucinação o que é fantasia saída do inconsciente, ou a consciência atormentada por uma ambigüidade moral: “Pensa ter um demônio sobre um ombro e um anjo sobre outro”. Esta dualidade da sua personalidade o artista manifestou nos seus quadros, onde os rostos são desdobrados e defasados, a partir da técnica cubista que desenvolveu e enriqueceu.
No final da sua vida, devido à sua celebridade mundial, suas manifestações de arrogância, da sua ironia cruel e mesmo do desprezo (por perversidade ou com o pretexto que tudo e todos deveriam estar à disposição da sua arte), Picasso se indispôs com vários de seus amigos. Alguns já aviam falecido, e isto, na sua maneira de sentir, era como “se o tivessem abandonado, o que sentia como uma escandalosa injustiça, da mesma forma que não admitia que seus próximos pudessem não precisar dele”(mas se recusava a ver seus netos, pois a qualidade de avô significava a velhice e a proximidade da morte). Já há vinte e cinco anos atrás, Guide ( escritor francês 1869 – 1951), que raramente o viu, lhe havia dito: “Existe uma dimensão da vida interior que você não tem a menor idéia”. E Picasso teria ficado furioso.
Acabou brigando com o bom Chagall (pintor,gravador e decorador francês de origem russa), dizia: “ninguém como Chagall ou como eu haviam percebido a luz”.
Talvez o seu ferimento secreto tenha revelado a Picasso que esta luz que lhe escapava era algo indizível e reprimido, isto é, uma irradiação de amor.
Durante todo o seu longo percurso existencial e artístico, Picasso manifestou os traços e as diversas expressões de uma personalidade conflituosa, dividida entre impulsos instintivos contraditórios, nos quais os Homeopatas percebem bem os sintomas psíquicos e comportamentais trazendo para estudo os remédios que mais contém os sinais e sintomas deste grande pintor.
Termino dizendo que Picasso traduziu muito bem o espírito profundo da sua época, e que sua obra constitui um testemunho entre outros, desta espécie de encarceramento que o homem se inflige, cada dia mais, no seio da sua própria humanidade; enfim, que Picasso tenha contribuído a apertar esta espécie de mundo fechado onde o homem, diante de suas obras, imagina que ele próprio se basta.


Patricia Jorge Alves
Terapeuta Homeopata





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