segunda-feira, 18 de agosto de 2014

O QUE É A VIDA?

A vida perde o seu sentido, a sua significação, a sua razão de ser, quando o homem se afasta da compreensão espiritual, buscando no mundo material a única explicação das coisas. O chamado homem prático dos nossos dias, inteiramente imerso nos problemas imediatos, funciona como uma máquina. Está muito próximo da concepção cartesiana dos animais: corpos em atividade mecânica, sem alma. Se em meio desse funcionamento inconsciente a que se entrega, alguma desgraça lhe ocorrer, os horizontes se fecharão ao seu redor. Nenhuma perspectiva lhe restará. E é por isso que, em geral, o homem prático, atingido por um golpe arrasador, recorre ao suicídio.
Mas, se o materialismo da vida prática é perigoso, também o é o materialismo teórico, intelectual, equivalente a uma cegueira mental, que não permite ao homem divisar os contornos da realidade. O materialista intelectual, que se apóia numa doutrina filosófica negativa, sente-se forte para enfrentar o mundo enquanto não lhe faltam as forças físicas e os recursos materiais da existência. Uma idéia, como bem acentua Annie Besant em sua “`Autobiografia”, o sustenta nas duras lutas da vida: a idéia da dignidade intrínseca do ser humano, que deve manter-se digno pela própria dignidade, sem esperar qualquer recompensa por isso. Mas, diante do desastre, do fracasso temporário, de uma mutilação moral ou física, essa idéia será facilmente eclipsada por outra: a do nada.
Por outro lado, no reverso da medalha, a crendice do religiosismo comum não é menos perigosa que o materialismo. O homem que crê sem indagar, sem compreender nem querer compreender, apegado a crenças que lhe impuseram através da tradição, está sujeito às mesmas dolorosas surpresas daquele que não crê. A fé pela fé é tão insegura quanto a dignidade pela dignidade, a que acima aludimos. Tanto para uma, como para outra, a mente humana exige uma base racional. Fé cega e dignidade cega são frágeis como peças de vidro. Ambas podem quebrar-se com a maior facilidade, ante os golpes da vida. Porque numa como noutra o homem está preso a um ponto de vista estreito, sem a visão global do processo da vida, que lhe daria compreensão e coragem para enfrentar a luta em qualquer circunstância.
Ateísmo e crendice são os dois extremos perigosos da condição humana. E tanto assim, que ambos descambam para as soluções extremas, com a maior facilidade, não somente no plano individual, mas também no coletivo. Os crimes do fanatismo religioso e do fanatismo materialista enodoam a história humana. Porque tanto à descrença absoluta como à crendice beata faltam as luzes do verdadeiro esclarecimento espiritual, da verdadeira ligação do homem com o sentido da vida. O materialismo age como um ímã, fixando a mente no torvelinho da matéria. A crendice fanática faz a mesma coisa com os convencionalismos religiosos, em cujo redemoinho de cerimônias e dogmas prende a mente subjugada. Daí as terríveis contradições que assinalam a história da religião, com os dramas cruéis do fanatismo.

Patricia Jorge Alves

Terapeuta Homeopata

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