segunda-feira, 27 de setembro de 2010


DIVINA  HOMEOPATIA
 “A ARTE DE CURAR”


A Homeopatia é uma prática única em seu gênero. Concebida, há dois séculos, por Samuel Hahnemann, ela coloca em jogo um processo terapêutico original apoiado numa abordagem tanto empírica como conceitual da doença, de sua integração na personalização do doente e de seu tratamento. Sendo um sistema de tratamento que usa substâncias especialmente preparadas e altamente diluídas para colocar em ação os mecanismos de cura ( força vital) do próprio corpo, de forma abrangente. Utiliza uma série de substâncias derivadas de plantas, animais, minerais, substâncias químicas sintéticas, drogas convencionais, órgãos, todas em quantidades ínfimas, usando um processo de preparação especial. Diluições em etapas com agitação entre as etapas; contendo somente a memória da substância sem a presença de moléculas.
É difícil dar a homeopatia todo o seu significado e não situarmos o seu fundador no contexto da época, uma época especialmente movimentada, tanto na Alemanha como na França; na Medicina como nas Ciências ou na Filosofia; na Política como na Arte, na Música ou na Literatura. Samuel Hahnemann inscreve-se nessa engrenagem de renovação: está a par das novas ciências, pois traduziu, durante seus estudos, textos de Química, de Física, de Fisiologia entre outros. E quando para momentaneamente de exercer a Medicina, em 1790, por insatisfação e revolta contra os meios terapêuticos, Justificando:


“ [...] meu senso do dever não me permitia ocupar-me do estado patológico desconhecido de meus “irmãos” que sofrem com a ajuda de medicamentos desconhecidos[...]. A idéia de transformar-me assim em assassino ou em malfeitor, tratando-se da vida de meus companheiros, era terrível para mim, tão espantosa e inquietante que deixei toda a minha prática de lado durante meus primeiros anos de recém – casado...” ( Hahnemann 1808).

“É preferível não ter nenhum médico nem medicamento do que deixar-se tratar à maneira da escola antiga”. (Hahnemann)


Mas sua pausa também foi para pensar, informar-se, conhecer. Mantendo simultaneamente uma produção científica pessoal, especialmente em Química, ele traduz obras que refletem suas ordens de preocupações: As pesquisas sobre tísica pulmonar, de M. Ryan, A advertência às mulheres, de J. Grigg, a Matéria Médica de Cullen, o tratado de química médica e farmacêutica, de De La Métherie, etc. O importante é relatar que na Faculdade de Medicina traduziu obras de Paracelso, Hipócrates, etc. pois dominava línguas como: Grego, Latim, Francês, Inglês Aramaico, entre outros.
Se impôs por vários anos para não continuar a utilizar métodos em que já não acreditava levou-o a uma reflexão aprofundada sobre o próprio fundamento do saber médico e das práticas terapêuticas. É nesse contexto que nasceu na mente deste grande gênio Samuel Hahnemann a busca de outra coisa, ainda inteiramente aureolada de pronunciada fé no “poder divino” e em sua capacidade de finalizar os empreendimentos humanos:
Não, há um Deus que é bondade, a própria sabedoria, deve também haver um meio criado por Ele de curar as doenças, com certeza[...]. Por que este meio não foi encontrado em vinte séculos em que há homens que se dizem médicos? É porque estava muito próximo de nós e muito fácil, porque, para consegui-lo, não eram necessários brilhantes sofismas nem hipóteses sedutoras. Bem![...] buscarei bem perto de mim onde deve estar aquele meio em que ninguém pensou por ser simples demais[...]. Eu pensava: deves observar a maneira pela qual os medicamentos agem sobre o corpo do homem quando se acha no tranqüilo equilíbrio da saúde. As mudanças que eles então determinam não ocorrem em vão e devem certamente significar algo; pois, sem isso, por que operariam?...”(Hahnemann, Carta sobre a urgência de uma reforma em medicina, 1805, traduzida em Estudos de Medicina Homeopática,v.I, Paris, 1855, citado por L. Simon, nota histórica e médica sobre a vida e as obras de Samuel Hahnemann, 4. ed.fr. de O Organon da Arte de Curar; Exposição da Doutrina Médicca Homeopática, publicada em Paris por J. B. Baillière, em 1856, a partir da 5. ed.original) (Hahnemann, 1834, trad.fr.;1856).

Em busca de outro meio de curar as doenças e, mais amplamente, de dar outro sentido à doença e ao seu tratamento, inscreve-se dentro do movimento surpreendentemente vigoroso cultivado pelo pensamento europeu no final do século XVIII, ruptura epistemológica, com os fundamentos teístas que geravam de fato os saberes humanos e até a ordem do pensamento e da sociedade.
Curiosamente, a medicina marca passo quando se comparam seus avanços com os da filosofia ou das ciências. Enquanto a química e a física fazem com que a indústria transponha etapas decisivas, enquanto a eletricidade, a fotografia e a máquina a vapor vão revolucionar as sociedades, a biologia está apenas em seu início, e a medicina continua enredada em seus conflitos, suas teorias nebulosas, seus capitais de situação e suas querelas de distinção. Alguns nomes evocadores de etapas, de combates e às vezes também de nomadismo, já se incorporaram sempre em busca de um novo saber: Réaumur, Spallanzani, Pinel, Lavoisier, Bichat, Broussais, Dupuytren, Laennec e Magendie, que lançará as bases da fisiologia moderna.
O Caráter profundamente inovador da trajetória de Samuel Hahnemann em sua época, e ainda hoje, reside na combinação de algumas idéias-força:

- um medicamento não age diretamente sobre o agente mórbido, e sim sobre os desarranjos que este introduziu na harmonia vital, expressa pela boa saúde, “quando a força vital instintiva, automática e incapaz de raciocínio foi levada pela doença a reações anormais...” (hahnemann, 1834, trad.fr.,1856, Introdução);
- um medicamento age tanto naquele que goza de boa saúde quanto no doente, e é a observação de seus efeitos no sujeito sadio que permite deduzir seu estudo terapêutico;
- na aplicação do tratamento pelos similares (similia similibus curantur) e em virtude do princípio de similitude, o médico deve buscar a dose mais fraca de medicamento capaz de provocar uma reação salvadora no organismo, “por meio de um poder morbífico capaz de produzir sintomas semelhantes e um pouco mais fortes...”(Hahnemann, 1834, trad.fr.,1856);
- a experimentação dos medicamentos em si mesmo permite ao médico conhecer, pela experiência pessoal,os distúrbios gerados por cada um deles em dose elevada. É uma atitude de alto valor ético e que confere ao profissional um real conhecimento do produto prescrito. (Hahnemann,1834,trad.fr.,1856).

Na Homeopatia são defendidas três princípios:  Similitude, Infinitesimalidade e
Globalidade – e a experiência individual das patogenesias.
O princípio de vitalidade ou de força vital parece ter-se apagado um pouco da memória coletiva em favor da globalidade, embora representasse, e ainda represente, um espinho irritante para os organicistas, mecanicistas e materialistas, sendo ele sem dúvida, o principal agente do pensamento hahnemanniano. O princípio de globalidade encontra sua verdadeira dimensão, como explica com muita clareza M. Guermonprez em seu artigo “Globalidade” (Capítulo II. 3), apenas quando assume aquela noção essencial, de onde resultará, por encadeamento lógico, a idéia da reatividade própria de um sujeito como expressão dessa energia interna que abre, ela mesma, um amplo campo de reflexão e de observação em torno da idéia de “terreno” e onde vão inscrever-se as múltiplas tentativas de valorização e de hierarquização dos sintomas, de racionalização das afecções crônicas, de sistematização e tipagem dos indivíduos, que marcam a trajetória da Homeopatia até hoje.
Por ter o discurso de Samuel Hahnemann se oposto frontalmente às idéias recebidas, a Homeopatia desenvolveu-se sem grande concessão aos discursos triunfalistas de uma medicina acadêmica, incapaz de exercer sobre si a crítica e a censura que tão bem sabia prodigalizar a seus oponentes. O talento de polemista do fundador da Homeopatia não lhe deu só amigos; a virulência e a perfídia dos ataques de seus adversários foram muitas vezes alimentadas por seus escritos sem anemidade:

Meus pontos de vista elevam-se bem acima da rotina mecânica, que faz pouco caso da vida tão preciosa dos homens, tomando como guia coleções de receita, cujo número crescente a cada dia prova a que ponto ainda está, infelizmente, disseminado o uso que delas é feito. Deixo esse escândalo à ralé do povo médico e ocupo-me apenas da medicina reinante, que pensa que sua antigüidade lhe dá realmente o caráter de uma ciência.
Esta velha medicina vangloria-se de ser a única que merece o título de racional, porque pensa ser a única que se empenha em pesquisar e afastar as causas das doenças, a única também que segue os rastros da natureza no tratamento das doenças.
Tolle causam!, exclama ela continuamente, mas se atém a esse vão clamor. Pensa poder encontrar a causa da doença, mas na verdade, não a encontra de modo algum...”(Hahnemann,1834,trad.fr.,1856).

Com algum retrocesso no tempo, vemos que as coisas não são tão simples, merecendo portanto, que nos detenhamos um pouco. Especificamente, a obstinação de alguns em ridicularizar a Homeopatia e desconsiderar todos aqueles que se esforçam para validar ou verificar alguns de seus princípios(cf. a polêmica em torno da memória da água e as tentativas, sustentadas especialmente pela revista britânica Nature , para fazer J. Benveniste cair na armadilha sobre a realidade dos efeitos biológicos das altas diluições de anticorpos anti – IgE) expressa principalmente a grande irritação dos defensores de uma certa medicina, com dominância bio – organo – mecanicista, hoje muito cortejada, contrapondo-se a qualquer pensamento discordante, oscilando entre um terrorismo intelectual e profissional insidioso e destrutivo e um pseudo – ecletismo simplório, mostrando com raro brilho no último livro de nosso colega J.J. Aulas (Aulas, 1993).
Reler os fundamentos da Homeopatia, procurar experimentá-los e validá-los através dos conhecimentos atuais é de imperiosa necessidade para a sobrevivência da disciplina. A Homeopatia, por expressar uma abordagem conceitual original da doença, do doente e do tratamento, só pode enriquecer e enriquecer-se com esta participação nos modernos debates sobre a medicina.
O discurso de Samuel Hahnemann sobre as finalidades da medicina, quais sejam, a escuta do doente, as exigências da experimentação no sujeito sadio, a obrigação Moral do médico de experimentar nele mesmo, o cuidado que teve de identificar os precursores da Homeopatia, a consideração da influência do psiquismo sobre o curso dos acontecimentos (“o remédio moral”) são outras tantas lições de total atualidade. Sua preocupação sobre o sentido a ser dado ao conceito de força vital não deve ser reconduzida a um avatar histórico do pensamento médico.
Se existe um processo que confere aos órgãos e aparelhos do organismo humano a vida que os anima transitoriamente, de que modo ele se expressa? Como se transmite? Como se desregula? Como desaparece? Como se expressam os distúrbios? Como intervir sobre ele?
Toda a questão é saber de que maneira esse “princípio vital” se inscreve nos processos mórbidos. Se reconhecemos que a morte é o efeito do desaparecimento dessa “força vital criadora”, tudo leva a crer ser muito provável que doença e alteração desse “princípio vital” estejam associados. A trajetória de Hahnemann consistiu em ver essencialmente nas manifestações mórbidas uma expressão do desarranjo dessa força vital sob o efeito do agente patogênico, e em considerar esse desarranjo como o perigo real. Corrigir esse desarranjo por meio de um estímulo específico provém de uma lógica indiscutível, mas que estabelece, simultaneamente, os termos de um novo processo terapêutico.
Tal abordagem de ação curativa e preventiva em medicina não pode ser jogada fora com um canetaço ou um levantar de ombros. Trata-se de uma concepção fisiopatológica perfeitamente justificada, mas situada nos antípodas da racionalização habitual sobre a origem das doenças e seu tratamento. Isso nos incomoda? De que maneira os especialistas do mundo do ser vivo , e com eles os médicos, poderiam negar que possam coexistir olhares diferentes, abordagens diferentes e lógicas diferentes sobre a maneira de compreender as doenças e tratá-las? O gênio Samuel Hahnemann transcende as concepções de sua época e, conseqüentemente, uma parte de seu próprio discurso e de sua argumentação: “não há nada de incomum na história do pensamento humano. Prender-se a curiosidades da linguagem, a exageros do verbo ou a representações antiquadas equivale a mascarar a dimensão essencial da contribuição de Samuel Hahnemann à evolução do pensamento médico, como a árvore que esconderia a floresta.


Organon § 2 parágrafo: “O mais elevado ideal de uma cura é rápida, suave e permanente restauração da saúde ou a remoção e o aniquilamento da doença em toda sua extensão, no mais curto, mais seguro e mais inofensivo modo, baseado em princípios facilmente compreensíveis”. (Hahnemann).


Se perguntássemos a um médico, que não tenha sido treinado em Homeopatia, em que consiste a cura, sua mente giraria em torno da idéia do desaparecimentos do estado patológico; no caso de uma determinada erupção de pele, o desaparecimento da erupção seria chamado de cura, se alguma afecção no joelho, uma amputação acima dele seria considerada uma cura; ou se fosse uma doença aguda e o paciente não morresse, isso seria considerado uma cura da doença. Restabelecer a saúde e não remover sintomas, é o primeiro ponto. Restabelecer a saúde tem em vista e estabelecimento da ordem no ser humano, removendo a constipação, as hemorróidas, o edema do joelho, a doença de pele ou alguma manifestação local ou sinal particular de doença ou mesmo a remoção de um grupo de sintomas, não tem como objetivo a restituição à saúde de toda a economia do homem. Se a remoção dos sintomas não é seguida pela restauração da saúde, não pode ser chamada de cura.

“... O único dever do médico é curar o enfermo e portanto, seu dever não é simplesmente remover sintomas, a aparência da imagem da doença, imaginando que dessa maneira restabeleceu a ordem. Que criatura de mente mais simplista ele deve ser! Que rastejador no lixo e no lodo deve ser, quando pode meditar sobre fazer tais coisas, mesmo por um momento! Quão diferentes seriam suas ações e considerasse que cada violenta mudança que produz no aspecto da doença, agrava a natureza interior da doença, agrava a enfermidade do homem e efetua um aumento do sofrimento dentro dele...”( Lições de filosofia homeopática, ed. Organon, 2002 James Tyler Kent).

A primeira coisa a ser considerada num caso é: quais são as indicações curativas neste caso? Que sinais e sintomas chamam a atenção do Homeopata como sinais e sintomas curativos? Isto significa que nem toda a manifestação é uma indicação curativa. Os resultados da doença que ocorrem nos tecidos, nas doenças crônicas, tais como alterações cancerosas,tumores etc. são de tal caráter, que não podem se constituir em sinais curativos. A Ação da causa da doença é do centro para a periferia, do mais interno do homem para o mais externo. A observação de seu estado mental, emocional consiste em alto grau de adoecimentos. Pois o órgão de maior hierarquia no ser humano é o mental bem como seus sinais e sintomas emocionais.
No homem, o centro do governo está na mente e dele cada célula nervosa é governada. A partir dele todas as ações tem lugar para o bem e o mal, para a ordem ou a desordem; a partir dele as doenças começam (em um campo bem mais sutil) e a partir dele começa o processo de cura. Não é a partir de coisas externas que o homem torna-se enfermo, nem a partir das bactérias ou do meio ambiente, mas a partir das causas dele mesmo. Se o homeopata não vê isso, não pode ter uma verdadeira concepção da doença. A desordem no organismo vital é o estágio primário da questão e essa ordem manifesta-se por sinais e sintomas.
Saibamos que a responsabilidade que temos de nossa própria vida é o que se segue adiante no fluxo de nossa história. A ponta do iceberg não é a solução de cura para todos os males. A profundidade do saber inclui impreterivelmente no sentir o Ser, nos amarmos incondicionalmente e sabermos separar o que é criação da Mente superior e o que é criação do Ego.
Você parou para se observar hoje?

Patricia Jorge Alves
Terapeuta Homeopata

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