quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

OS QUATRO PILARES DA HOMEOPATIA



A Lei Dos Semelhantes

Em Meados do século XIX Samuel Hahnemann muda a história da arte de curar ao enunciar a Lei dos Semelhantes e sistematizar a sua aplicação.
Na verdade, a possibilidade de cura pelos semelhantes já havia sido referida por vários médicos das mais diversas épocas e regiões. Em Hipócrates encontramos no livro “Dos Lugares do Homem”, uma clara referência ao método homeopático de curar.

“As dores serão removidas por meio de seu oposto, cada uma de acordo com suas próprias características. Assim, o calor corresponde à constituição quente que foi acometida pelo frio, e assim por diante. Outra modalidade é a seguinte: por meio do similar, a doença se desenvolve, e pelo emprego do similar a doença se cura.”

“Assim, aquilo que produz tenesmo urinário na saúde, cura-o na doença...Se isso vale para todos os casos, torna-se fácil tratar, ora segundo a natureza e origem da enfermidade pelo contrário, ora segundo a natureza e origem da doença pelo similar.”

O conhecimento dos textos Hipocráticos sobre a relação terapêutica da similitude incitou Hahnemann a buscar na literatura médica outras observações em favor de uma ação curativa pelos semelhantes. Posteriormente ele tentou ver , por uma experimentação provocada nele mesmo , segundo o método recomendado pelo grande fisiologista do século XVIII, Albrecht von Haller, se existia um vínculo lógico entre os efeitos de uma droga no homem sadio e sua atividade sobre o doente.
Paracelso tmbém era adepto da cura pelos similares, como podemos observar neste trecho de um de seus escritos:
“O que causa icterícia também cura icterícia... As drogas que curam a paralisia devem provir daquilo que a causa.”

“ Em 1790, escreve Hahnemann no prefácio do volume III de seu Tratado de Matérioa médica Pura , fiz em mim mesmo a primeira experimentação pura com a casca de quinino(com o intuito de constatar sua propriedade de provocar uma febre intermitente); e estes primeiros ensaios trouxeram com eles a aurora que agora esclarece a terapêutica...”(Hahnemann, 1821, trad. Fr., 1834).

É por sua maior intensidade e pela semelhança de seus sintomas que a doença artificial(medicamentosa) se substituirá à doença natural. Para mostrar que os processos naturais de cura efetuavam-se de acordo com sua hipótese, Hahnemann tomava exemplos clínicos de seus contemporâneos, Larrey, Jenner, Hunter... Cita-os amplamente e, como eles, refere-se a entidades patológicas, a doenças específicas no sentido da antiga medicina, o sarampo, a varíola, etc. Assim, curiosamente, Hahnemann baseia-se sua teoria apoiando em conceitos nosológicos rejeitados por ele(com nuanças referentes às doenças epidêmicas contagiosas).
Isso pode explicar o interesse manifestado por alguns de seus adversários por essa teoria, como Trosseau, e, ao contrário, as crítias severas de numerosos discípulos. Escreve Trousseau:

“Quando Hahnemann emitiu esse princípio terapêutico, Similia Similibus Curentur, provou sua assertiva apoiando-a em fatos retirados da prática dos médicos mais esclarecidos. Com toda certeza, as flegmasias locais são curadas frequentemente pela aplicação direta dos irritantes, que causam uma inflamação análoga, inflamação terapêutica que se substitui à irritação primitiva.
O que era verdadeiro sobre as doenças locais e os agentes tópicos, o era certamente muito menos para afecções gerais e remédios gerais; mas Hahnemann deslumbrado pela verdade de uma idéia que ele entrevira e formulara, logo exagerou, como todos os inovadores, a importância de sua descoberta” (Trosseau e Pidoux, 1862)

 [...] a doença é produzida pelos semelhantes e pelos semelhantes que o produziram [...] o paciente retorna da doença à saúde. Desse modo, o que provoca a estrangúria que não existe, cura a estrangúria que existe; a tosse, como a estrangúria, é causada e curada pelo mesmo agente (HIPÓCRATES apud PUSTIGLIONE, 2000).
Ambos fundamentos hipocráticos foram adotados por Hahnemann no advento da homeopatia como podemos constatar nos parágrafos 19 e 27 do seu Organon da Arte de Curar.


§ 19 do Organon da Arte de Curar sobre o poder de curar depende do poder de fazer adoecer: "As doenças nada mais são do que alterações do estado de saúde do indivíduo expressos por sinais mórbidos e a cura só é possível pela volta ao estado de saúde. É evidente, portanto, que os medicamentos jamais poderiam curar caso não possuíssem o poder de alterar a saúde do homem, isto é, de perturbar suas sensações e funções".(HAHNEMANN, 1810).

§ 27 do Organon da Arte de Curar sobre o aforismo Similia Similibus Curentur: "Portanto, o potencial curativo das substâncias medicinais depende do fato de sua ação produzir sintomas semelhantes os da doença e ser superior em força. Desta forma, cada caso individual de doença só é destruído e curado da forma mais segura, radical, rápida e permanente com o medicamento capaz de produzir, d forma mais semelhante e completa, a totalidade dos sintomas daquela doença e que ao mesmo tempo seja um estímulo de categoria mais forte do que o que provoca a doença".(HAHNEMANN, 1810).


Remédio Único

A simplicidade dos meios terapêuticos é outra grande característica da doutrina homeopática. Conhece-se a luta empreendida por Hahnemann durante toda a sua vida contra a complexidade da medicina de sua época. E à partir de 1805, em seu opúsculo dedicado à “medicina da experiência”, ele escreve:

Nunca é necessário usar mais de um medicamento simples ao mesmo tempo quando encontramos um que se adapte bem ao caso mórbido”. (Hahnemann 1805 a).

Hahnemann, sob fundamentação vitalista, afirmava que toda alteração do estado de saúde devia-se a uma alteração da Força Vital que anima o homem e que mantém a harmonia de todas suas funções mentais, emocionais e orgânicas conforme podemos verificar nos parágrafos 10, 11 e 12 de seu Organon.

§ 10 do Organon da Arte de Curar sobre a função da força vital: "Sem a força vital, o organismo material é incapaz de sentir, agir ou conservar-se. Todas as sensações nascem e todas as funções vitais se realizam através do princípio vital que anima o organismo, seja no estado de saúde, seja no de doença".(HAHNEMANN, 1810).

§ 11 do Organon da Arte de Curar sobre o processo de adoecer: "Quando o indivíduo adoece, inicialmente, é apenas a força vital que sofre o desvio imposto pela influência dinâmica do agente mórbido hostil à vida . É unicamente o princípio vital perturbado que pode dotar o organismo de sensações desagradáveis e incliná-lo às manifestações irregulares que chamamos doença. Porém, como a força vital é invisível e reconhecível somente por seus efeitos no organismo, sua perturbação mórbida só pode revelar-se através de manifestações anormais das sensações e funções nas partes do corpo que são acessíveis aos sentidos do observador e do médico".(HAHNEMANN, 1810).

§ 12 do Organon da Arte de Curar sobre a causa das causas das doenças: "A única causa das doenças é a força vital afetada. Portanto, os fenômenos mórbidos acessíveis aos nossos sentidos expressam em seu conjunto toda mudança interior, isto é, o transtorno mórbido do dinamismo interno. Em poucas palavras: revelam a doença toda. Por isso, quando, devido ao tratamento, houver o desaparecimento de todos os fenômenos e alterações mórbidas das funções vitais, este fato, sem a menor dúvida, implica necessariamente no restabelecimento integral da força vital e portanto, à volta de todo o organismo ao estado de saúde".(HAHNEMANN, 1810).

Definia também que a única missão do médico era a de curar os pacientes.

§ 1 do Organon da Arte de Curar sobre a missão do médico: "A única e nobre missão do médico é curar, ato que consiste em restabelecer a saúde ao indivíduo doente". (HAHNEMANN, 1810).

Afirmava que para cumprir sua missão o homeopata deveria observar atentamente seus pacientes a fim de verificar quaisquer alterações no estado de saúde que só poderiam ser constatados a partir dos sintomas objetivos (observáveis pelo homeopata) e/ou subjetivos (descritos pelo doente). O conjunto de sintomas mórbidos representariam, por assim dizer, a doença.

§ 6 do Organon da Arte de Curar sobre a observação do doente: "Sabedor das especulações transcendentais que não são confirmadas pela experiência, o observador, sem preconceitos, deverá notar, em cada caso individual de doença, somente os desvios ou mudanças na saúde do corpo e da mente que podem ser percebidos através dos sentidos. Deverá notar somente os desvios ocorridos no estado primitivo de saúde do indivíduo, agora, doente, tanto aqueles por ele sentidos, quanto os observados pelos que o rodeiam e pelo médico. Este conjunto de sinais representa a doença por inteiro, isto é, compõe sua única e verdadeira imagem". (HAHNEMANN, 1810).

Coletando os principais sintomas do paciente, o homeopata encontraria a Totalidade Sintomática que representaria o próprio doente que deve ser curado.

§ 18 do Organon da Arte de Curar sobre a totalidade sintomática: "Para chegar-se à cura, nada existe a ser descoberto ou tem de ser levado em conta além dos sintomas e suas modalidades. Desta verdade incontestável, podemos deduzir que a única indicação e guia para eleição do remédio deve ser a soma de todos os sintomas e condições de cada caso individual de doença". (HAHNEMANN, 1810).

A partir da Totalidade Sintomática, o homeopata deveria escolher um Medicamento Único para que o doente fosse curado por similitude (em respeito ao princípio Similia Similibus Curentur).

§ 169 do Organon da Arte de Curar sobre a escolha do Simillimum: "Na escolha do melhor simillimum, pode ocorrer a dúvida entre dois medicamentos muito parecidos, mas que cobrem com mais perfeição sintomas diferentes da totalidade sintomática, sendo ambos, aparentemente, incompletos ao caso. Seguindo o princípio UNICISTA, devemos prescrever um único medicamento e acompanharmos todas as alterações antes de indicar o uso do outro, sem, em hipótese alguma, indicarmos o uso dos dois em conjunto, conforme retifica o § 273: “não é absolutamente permitido dar mais de uma substância medicamentosa diferente por vez ao doente!” (HAHNEMANN, 1810)


 Experimentação no Homem São

A partir do princípio Similia Similibus Curentur, Hahnemann catalogou o conjunto de sintomas que cada medicamento homeopático era capaz de produzir por meio da Experimentação no Homem São.

§ 20 do Organon da Arte de Curar sobre as justificativas para experimentação no homem sadio: "Não somos capazes de descobrir esta força imaterial que se encontra latente na essência íntima dos medicamentos apenas com os esforços da razão. Só pela experiência podemos observar claramente os fenômenos que ela provoca quando age sobre o organismo sadio". (HAHNEMANN, 1810).

§ 21 do Organon da Arte de Curar sobre o poder patogenético e curativo dos medicamentos desenvolvidos a partir da experimentação: "Como vimos, o princípio curativo dos medicamentos é imperceptível por si mesmo. Não há portanto, nas experimentações puras realizadas com eles nada mais passível de observação que leve a considerá-los como substâncias medicinais ou remédios do que o poder de alterar a saúde do organismo humano promovendo o aparecimento de sintomas mórbidos definidos. Desta forma, podemos deduzir que as substâncias medicinais agindo como remédios, só podem exercer suas virtudes curativas alterando a saúde do homem com a produção de sintomas peculiares. Portanto, como revelação de seu poder curativo íntimo, só podemos contar com os fenômenos mórbidos produzem em sua ação sobre o organismo são". (HAHNEMANN, 1810).

§ 106 do Organon da Arte de Curar sobre a importância do conhecimento dos efeitos patogenéticos dos medicamentos homeopáticos: "(Através da experimentação), devem ser conhecidos todos os efeitos patogenéticos dos medicamentos. Ou seja, antes de ter esperança de encontrar e eleger, entre eles, os remédios homeopáticos mais apropriados para a maior parte das doenças naturais, devemos observar todos os sintomas mórbidos e alterações da saúde que cada um deles é capaz de desenvolver no indivíduo sadio". (HAHNEMANN, 1810).

Para realizar a Experimentação no Homem São, Hahnemann selecionava experimentadores de sua confiança e saudáveis que fossem capazes de descrever os sintomas patogenéticos oriundos da experimentação de substâncias dinamizadas à 30 CH.

§ 108 do Organon da Arte de Curar sobre experimentação em indivíduos sadios: "Portanto, para averiguar os efeitos peculiares dos medicamentos, não há outra maneira possível, nem caminho mais seguro e natural do que administrar os diversos medicamentos, em doses moderadas a pessoas sadias a fim de descobrir o que, graças a sua influência individual, produzem na saúde física e mental [...] Deve-se investigar que elementos mórbidos os medicamentos são capazes ou tendem a produzir, visto que, como já foi mostrado: “toda potência curativa dos medicamentos reside unicamente no poder que eles possuem de alterar o estado de saúde do homem”. (HAHNEMANN, 1810).

§ 111 do Organon da Arte de Curar sobre o efeito patogenético (ou sintomas mórbidos) das substâncias: "As substâncias medicinais produzem no corpo humano sadio modificações patológicas segundo leis definidas e imutáveis da natureza. Em virtude destas, são capazes de produzir sintomas mórbidos seguros e dignos de confiança, cada um com sua própria individualidade [...] A concordância de minhas observações sobre os efeitos puros dos medicamentos com aquelas observações mais antigas e a coincidência destes relatos com outros do mesmo gênero feitos por outros autores, podem, facilmente, convencer-nos disto". (HAHNEMANN, 1810).




 Doses Infinitesimais

Definir a infinitesimalidade traduz-se por dar limites ao que, etimologicamente, não os tem. O termo infinitesimalidade está ausente do dicionário; figura apenas o adjetivo infinitesimal, termo retirado da língua inglesa e que significa “extremamente pequeno”. Ele vem do latim, finis (“baliza”), expressando no sentido próprio, o limite de um campo ou de um território,e, no sentido figurado, o termo, a meta. Finireé, traduzido por “delimitar”, e infinitus, por “sem limites, indeterminado”. O termo “infinitesimalidade”, com a noção de desconhecido e até de “vago”, “impreciso”, é capaz de preocupar e chocar médicos e pesquisadores que não escolhem explorar de imediato um mundo científico radicalmente novo e cujos pontos de referência devem ser inteiramente elaborados.Infinitas é a “imensidão”. Quanto ao infinito , é um conceito facilmente administrado pelas ciências matemáticas, que não experimentam nenhum embaraço com isso, provando, assim, que ele é compreendido pelo ser humano. Não sendo estranho ao homem, o infinitesimal não pode e não deve ser estranho ao médico. A infinitesimalidade é um assunto inteiramente justificado na pesquisa científica e médica.
Em Homeopatia, a noção de infinitesimalidade aplica-se à preparação dos medicamentos que serão administrados segundo o princípio da similitude. Os medicamentos são diluídos sucessivamente a 1/100 (centesimal hahnemaniana) em álcool a 70º, um número considerável de vezes. Isso tem como conseqüência a administração de doses extremamente fracas do produto de origem. A partir de um determinado número de diluições, a presença de moléculas é mesmo improvável.

“ Não é em virtude de uma opinião preconcebida, nem por amor da singularidade, que me decidi em favor de doses diluídas, tanto para o quinino ( China offic.) tanto para qualquer outra substância. Cheguei a isso após experiências e observações muitas vezes renovadas, e elas me demonstraram que maiores quantidades de medicamentos, mesmo nos casos em que elas fazem bem, agem com mais intensidade do que o necessário para obter a cura. Assim, as diminuí, e como eu sempre observava os mesmos efeitos, desci até as doses mínimas que me pareciam suficientes para exercer uma ação salutar, sem agir com uma violência capaz de retardar a cura.” Hahnemann – Organon.


A demonstração experimental por Hahnemann e seus alunos de uma atividade curativa de diluições cada vez maiores das substâncias de origem vegetal, animal e mineral, escolhidas de acordo com o quadro de sintomas que elas desenvolvem no sujeito sadio.(patogenesias).
O método hahnemaniano é preparado com frascos separados, comporta uma agitação muito forte, chamada dinamização. A técnica consiste em bater o fundo do frasco em posição vertical com golpes secos sobre uma superfície firme, cem vezes, chamadas de diluições centesimais(diluições sucessivas a 1/100).
É natural que as diluições infinitesimais utilizadas em homeopatia tenham provocado críticas desde sua introdução em terapêutica.
Quando não encontramos mais moléculas em uma dinamização homeopática pelo método da sucussão temos a memória medicamentosa instalada “in vitro”.
Diluições totalmente desprovidas de moléculas são, portanto, capazes de transmitir uma informação; os fatos experimentais estão aí para demonstrar a realidade do fenômeno. É necessário tentar compreender qual poderia ser o suporte material dessa informação. Cinco áreas de pesquisa estão envolvidas: a memória dos átomos, o crescimento fractal, o método do grupo de renormatização, aplicado aos fenômenos físicos de acordo com as escalas de comprimento, a física relativista e o movimento browniano, e a eletrodinâmica quântica.
Se analisarmos nossas células contém memórias de todo o universo, somos compostos por elementos químicos que estão nas estrelas, planetas, nas rochas, plantas, em todos os lugares. Fazemos parte de um todo.

§ 51 do Organon da Arte de Curar sobre as substâncias medicinais e a cura homeopática suave: "Esta Lei Terapêutica manifesta-se, claramente, a todo cérebro inteligente através destes fatos amplamente suficientes para demonstrá-la. Nos faz também perceber quanta vantagem tem o Homem sobre as “operações fortuitas”da rude Natureza! Para tanto, basta imaginar quantos milhares de agentes morbíficos homeopáticos dispõe o Homem nas substâncias medicinais universalmente distribuídas por toda a Criação para aliviar seus irmãos sofredores! [...] Estas substâncias contém “produtores de doenças” semelhantes a todas inumeráveis, concebíveis ou inconcebíveis doenças naturais às quais se pode prestar ajuda homeopática. São agentes morbíficos artificiais que: ao finalizar seu emprego como remédio, têm seu poder destruído pela força vital, então desaparecem espontaneamente, sem necessidade de tratamento para sua extirpação, como ocorre com a sarna; o médico pode atenuar, subdividir e potencializar quase ao infinito e; cuja dose pode ser tão diminuída que se tornam apenas ligeiramente mais fortes que a doença natural semelhante que se pretende curar [...] Neste incomparável método de cura, portanto, não há necessidade de qualquer ataque violento ao organismo para erradicação mesmo de ume doença antiga e inveterada. A cura por este método homeopático se realiza através de transição calma, imperceptível, porém rápida da doença natural que atormenta o organismo para o estado de saúde permanente desejado. (HAHNEMANN, 1810).

§ 66 do Organon da Arte de Curar sobre a ação secundária às doses mínimas: "Como podemos concluir facilmente, o organismo sadio não manifesta nenhuma reação secundária contrária à ação de agentes perturbadores [...] Uma pequena dose, certamente, produz ação primária perceptível apenas ao observador extremamente atento, mas o organismo vivo emprega contra ela somente a reação que for necessária para o restabelecimento do estado normal. (HAHNEMANN, 1810).

§ 68 do Organon da Arte de Curar sobre a suficiência das doses mínimas: "No que diz respeito às curas homeopáticas, a experiência nos ensina que as doses extraordinariamente pequenas de medicamentos, fundamentais neste método de “tratamento pele semelhança sintomática”, são suficientes para vencer e remover doenças naturais semelhantes [...] Após a destruição da doença natural, certamente, resta alguma doença medicinal no organismo. Mas, devida a extraordinária pequenez da dose ela é tão pequena e passageira que desaparece por si rapidamente [...] A força vital apenas emprega contra este distúrbio artificial da saúde a reação necessária e suficiente para levar o estado atual para o nível habitual de saúde. Isto é, usa apenas o que falta para o restabelecimento completo [...] Para alcançar o perfeito equilíbrio, após a extinção do desarranjo mórbido, ela necessita apenas de um pequeno esforço. (HAHNEMANN, 1810).


Patricia Jorge Alves

Terapeuta Homeopata

ARNICA MONTANA







Arnica Montana é uma planta da família das Compostas, chamada vulgarmente de tabaco do Voga ou Betonia das montanhas, pela propriedade esternutatória das suas flores. É uma planta vivaz, com rizoma marrom escuro, que cresce especialmente em lugares úmidos das montanhas, onde florece entre julho e agosto.

É no momento da floração que recolhemos a planta para preparar o medicamento. Há uma mosca, a mosca – arnica, que coloca seus ovos na flor da planta, e assim acrescenta suas propriedades às da planta, propriedades essas irritantes, semelhantes aos efeitos da “mosca espanhola”. Por isso certas farmacopéias homeopáticas recomendam preparar a tintura mãe apenas com raízes frescas; outras recomendam uma boa limpeza das flores e depois a preparação da tintura mãe com a planta inteira.

Na Homeopatia emprega-se a planta inteira, inclusive com raízes recolhida no momento da floração no hemisfério norte.

As flores de Arnica Montana são empregadas desde a Idade Média para curar e cicatriza as feridas.
Extrai-se de Arnica um princípio cristalizado de um belo amarelo ouro, sabor acre e amargo, pouco solúvel na água e de natureza alcalóidica: A Arnicina; uma essência completa, concentrando éteres, ácido fórmico, acético, isobutírico, assim como uma quinona.

A experimentação homeopática confirmou a toxicologia, acrescentando os sintomas subjetivos, fazendo uma síntese completa da ação do remédio. Arnica corresponde em homeopatia aos traumatismos e suas conseqüências, pelo fato que provoca um estado hemorrágico, criando em seguida um estado subjetivo de hipersensibilidade muito grande ao toque como encontramos nos traumatismos: um órgão contuso fica sensível e doloroso ao toque. Corresponde também ao estado de intoxicação do organismo que criam os traumatismo. Os tecidos machucados, contusos ou mesmo destruídos pelo traumatismo, têm suas células dilaceradas ou esmagadas. A substância intracelular espalha-se pelo organismo sob a forma de dejetos orgânicos tóxicos e mesmo sépticos; os grandes feridos estando em estado de choque, quer sejam traumática ou não, porque quando uma doença mesmo infecciosa, um estado circulatório ou outro, desenvolver este estado de choque, Arnica será o remédio na Lei de Semelhança. Arnica é mais que um remédio dos estados traumáticos: pelo seu poder hemorrágico altera profundamente a circulação. Corresponderá a transtornos circulatórios variados. Agindo sobre o tecido muscular, podendo corresponder à fadiga, excessos físicos e notadamente à hipertrofia do coração, causadas por excessos físicos ou conseqüência de uma hipertensão. Associando o estado hemorrágico, o esforço cardíaco e o transtorno circulatório na sua sintomatologia, torna-se um remédio da hipertensão e suas conseqüências: congestão, hemorragia cerebral, hemiplegia e mesmo coma. O coma é de qualquer forma resultado de um traumatismo; Arnica se junta com Opium, Glonoinum e mesmo outros remédios deste estado. Além de ser um remédio dos traumatismos, será um grande remédio dos transtornos musculares, das hemorragias, da hipertensão, do coma, das doenças infecciosas em certos estados e mesmo um remédio mental quando o sujeito apresentar de uma forma marcada a mentalidade particular que corresponde a esses estados.

Arnica Montana age efetivamente nos músculos e no tecido celular. Pela sua influência especial sobre a fibra muscular, determina alterações na circulação arterial e capilar, pelos quais se explica sua ação nas vísceras e particularmente no cérebro e no bulbo.

Afeta de tal forma os vasos sanguíneos e especialmente os capilares, que sua dilatação e o extravasamento sanguíneo tornam-se possíveis. Produz no organismo quadros semelhantes aos que resultam de uma contusão ou traumatismo e é útil sobretudo nos casos onde o traumatismo , mesmo curado, parece ser a causa dos problemas existentes. O remédio está imperiosamente indicado após uma contusão ou desgaste excessivo de um órgão, um esforço muscular, quando o corpo e os membros doem como se tivessem sido golpeados ou que a cama fosse muito dura.

Na sua patogenesia Arnica Montana produz sob a pele equimoses como as que vemos após uma contusão e favorecem a reabsorção do sangue extravasado, evitando a supuração. Está especialmente indicado quando um traumatismo anterior é a causa primitiva da doença que afeta o indivíduo. Após um traumatismo ou excesso do uso algum músculo ou uma entorse.
Em uma contusão, arnica será o primeiro, mas para a fraqueza dos tendões, podendo seguir um quadro semelhante, Rux Toxicodendron será seu complementar.
Se a fraqueza e sensibilidade dolorosa persistirem nas articulações, após Rux Toxicodendron, estará indicado Calcarea ostrearum.

DOSE INTOXICANTE

Vê-se aparecer simultaneamente transtornos digestivos, nervosos e circulatórios. Há esforços de vômitos, uma ansiedade extrema, um sentimento de constrição no diafragma, em seguida sobrevém uma dispnéia mais ou menos intensa, delírio, abaixamento da velocidade do pulso que se torna cheio; em seguida suores frios, hemorragias, dejeções sanguinolentas, movimentos convulsivos dos membros e mesmo tremores de todo o corpo.


TOXICOLOGIA

A Arnica é segundo Richaud um veneno paralisante medular cuja ação aproxima-se um pouco do extrato fluido, em injeção subcutânea, matam uma cobaia. Em doses mais elevadas no homem, produz náuseas, vômitos e hemorragias. Cazin estudou bem os efeitos tóxicos de Arnica; segundo ele, os efeitos primários consistem em uma viva irritação digestiva; os efeitos secundários em uma excitação do cérebro e do sistema nervoso. Se a dose intoxicante é mais forte, vê-se aparecer simultaneamente transtornos digestivos, nervosos e circulatórios. Há esforços de vômitos, uma ansiedade extrema, um sentimento de constrição do diafragma, em seguida sobrevém uma dispnéia mais ou menos intensa, delírio, abaixamento da velocidade do pulso que se torna cheio; em seguida suores frios, hemorragias, dejeções sanguinolentas, movimentos convulsivos nos membros e mesmo tremores em todo o corpo.

 Envenenamento pela Arnica se apresentará de três maneiras, conforme Charette:
Desencadear crises de espirros, por isso é também conhecida pelo nome de Tabaco dos Voges ou Betonia das montanhas.
Forma Gastrointestinal: câimbras estomacais, náuseas, diarréia coleriforme; sintomas nervosos de sonolência, vertigens , tremores e até convulsões. Vômitos.
Forma Nervosa: coma com perda completa do conhecimento; convulsões tônicas, com contrações fibriliares. Paraplegia.
Forma cardíaca: Pressão dolorosa retro – esternal, com angústia, diarréia, parada cardíaca, pulso fino e irregular. Produz sob a pele equimoses como os resultantes de uma contusão, queda; favorece a reabsorção de sangue extravasado, evitando a supuração.

Transtornos por cólera, más notícias, excitação emocional, susto, pena, apuro, raiva, perdas econômicas. Sensibilidade a todas as impressões externas, à dor, ao ruído. Assusta-se com facilidade, por trivialidades. Irritável.
Principal medicamentos dos traumatismos, contusões e golpes, principalmente de partes moles, acompanhadas de extravasamento sanguíneo.

É útil após uma extração
 dentária e para deter a hemorragia. Será útil para reabsorver os hematomas e para a cicatrização das fraturas, sempre provocadas por traumatismo.
Intervenções cirúrgicas que são sempre traumatizantes para o organismo e após um parto.
Pessoas que ficam em estado de choque por motivos diversos, podendo chegar a uma prostração , inconsciência ou coma.

O esforço cardíaco e o transtorno circulatório. Torna-se um medicamento para hipertensão e suas conseqüências: congestão, hemorragia cerebral, hemiplegia, comoção cerebral, meningites de origem traumática; fraturas no crânio; quando suspeitam de extravasamento sanguíneo.
Em situações de Stress, susto e sobressalto por trivialidades inesperadas; hipersensibilidade ao extremo; traumatismo físico fechado (aberto dê Calendula);  traumatismos oculares (Ledum Palustre); afonia dos oradores, fadiga, esforço físico bem como mental.

Asma por degeneração gordurosa no coração. Dor no coração como se estivesse apertado, ou como se estivesse levado um choque. Fadiga cardíaca, palpitações que sobrevêm depois de um movimento. Angina pectoris: sensação de machucado. Ataques violentos de angústia.Todo eito é doloroso como machucado.



Arnica Montana cresce nas montanhas(sobre as pedras). Adapta-se bem as pessoas rudes, duras e ásperas, pouco afeitas ao contato e a conversa. O Paciente Arnica pode ser uma pessoa dura, autoritária e ególatra, acredita saber tudo melhor que ninguém e, portanto, não tem nada que aprender. É orgulhoso, violento e temerário.
Sente que a cama é muito dura(assinatura do medicamento, arnica cresce nas montanhas entre as pedras). Tem a sensação que o corpo está machucado, dolorido e cansado. Não quer que o toquem, temor de ser tocado, nem sequer quer se aproximem. Hipersensibilidade está relacionada com os temores ao dano, à injúria, a que passe algo. A consciência exagerada de sua gravidade e ao mesmo tempo a negação pelo temor da mesma com a indiferença, condicionam o estado de alerta de Arnica.

Arnica é útil quando a mulher tem uma hipersensibilidade excessiva aos movimentos do feto, sendo dolorosos e insuportáveis.
O sono e a mentalidade de um doente são sempre reflexos de seu estado físico. O nosso psiquismo acaba sempre se colocando em diapasão com as nossas misérias corporais. Um traumatizado, machucado, contuso, temendo que o toquem, começa por dormir mal, não podendo permanecer deitado no mesmo lugar, agitando-se e mexendo-se constantemente procurando uma posição melhor. Seu sono será agitado, cheio de pesadelos e sonhos penosos( trauma de um acidente, susto, perda, assalto); podendo ocorrer terrores noturnos, podendo gerar palpitações cardíacas É próximo de Opium pelos maus efeitos do medo. O mental ficará impregnado de tristeza podendo criar um grande vácuo em seu mental bem como no emocional.
Afecções da Bexiga pós traumáticas ou pós operatórias.

O Fundo Psórico de Arnica, apresenta uma hipersensibilidade, insegurança, temor da morte. Temem o infortúnio e divide com Argentum Nitricum o temor que caiam paredes e edifícios em cima. Temem o infortúnio que para ele seria morrer subitamente e de um golpe. É sensível a todo choque, movimento ou exercício, a leitura e reflexão.
Naturalmente é muito sensitivo, sem dúvida sua aguda sensibilidade mental se volta muito exagerada; e as emoções mentais lhe provocam cefaléia, que lhe traz irritabilidade; sobressaltos; aqui vemos claramente sua angústia existencial, o sofrimento de um medicamento que perde sua agilidade física e mental e agora sofre por ter que executar tarefas com limitações mentais e físicas.
Arnica tem a impressão de que a vida já lhe deu uma grande pancada. Ou ainda em Hahnemann quando diz: “Tem sonhos a respeito de pessoas escoriadas que resultam muito aterrantes”.

Desconforto da Mente e do Corpo como se estivesse evitando fazer algo que é extremamente necessário, acompanha total falta de disposição para realizar qualquer tipo de trabalho. Sensação de não ser bom pra nada, falta de esperança. Apreensão por males futuros. Bagatelas inesperadas lhe assustam. Horror de morte instantânea, com angústia cardíaca à noite. Medo de ser atingido por aqueles que vêm em sua direção.

Na sua defesa Sicótica, com sintomas reativos como esquecimento, o que acabou de ler, escapa de sua memória,esquecendo as palavras que está por dizer; apresenta uma alegria irreflexiva com grande frieza e picardia;  arrogância e atrevimento. Diz que não há nada de problema com ele. É contraditório, nada pode ser feito para satisfazê-lo. Obstinado e “cabeça dura”, resiste a opinião dos outros. Rabugice, deseja todo tipo de coisa e posteriormente as repele. Só ele sabe!

No Sifilinismo: desgosto pelo trabalho, aversão ao trabalho mental. Recusa-se a responder, não gosta de simpatia. Sente indiferença por suas ocupações.
Inconsciente quando lhe falam, indolência, indiferença às ocupações. Se sente inútil, não pensa em nada.

A claudicação do intelecto configura o clássico sintoma observado nos estados de perda de consciência: “O estupor retorna rapidamente depois de responder”. O enfermo responde corretamente as perguntas que lhe formular, mas muitas vezes não termina a resposta e cai de novo no estupor.



Uma Planta que nasce nas montanhas, na pedra, parecendo sensível, singela, flores pequenas com caules finos e longos com facilidade de quebra, e que guarda em sua assinatura um grande poder curativo!


Patricia Jorge Alves
Terapeuta Homeopata 

INSTITUTO CULTURAL IMHOTEP