sexta-feira, 18 de outubro de 2013

A NATUREZA DE HAHNEMANN








“Os mais inestimáveis tesouros são a consciência irrepreensível e a boa saúde. O amor à Deus e o estudo de si mesmo oferecem uma; a homeopatia oferece a outra.”
Samuel Hahnemann



“Seguindo o preceito de Celso, o médico aplicará à cura das doenças o mesmo tanto de celeridade e segurança que de doçura: Cito, Tuto ET jucunde.”
Samuel Hahnemann


Mas, afinal, quem era Hahnemann?


Cristian Frédéric Samuel Hahnemann (1755 – 1843) viveu 88 anos em nosso Planeta, levou uma vida austera de penúria, lutos, humilhações, mas conheceu o fim de sua vida as riquezas da vida parisiense.
Teve dois amores, Henrietta e depois Mélanie, mas um só ideal, a arte de curar respeitando o indivíduo.
Não temos a pretensão de entender todos os impulsos que moveram, ao longo de sua existência, um caráter tão complexo, nem de nos entregar a algum tipo de psicanálise grosseira. Mas a partir dos fatos, nascem explicações que não podem deixar-nos indiferentes.
Uma primeira constante aparece ao longo desta vida movimentada: uma força de aço colocada a serviço das idéias.

A infância, a juventude difícil e laboriosa, quase miserável, contribuíam decerto para dar a Hahnemann essa tenacidade.
As dificuldades do começo forjaram em Hahnemann um temperamento capaz de resistir às tempestades da vida.

Contam muito as dificuldades materiais do lar paterno; conseqüência de guerras intermináveis; e o pai admirado, muito presente em seu papel de educador, mas que periodicamente questiona os estudos do filho. Para extrema infelicidade dessa criança seduzida pelos estudos, o pai arranja-lhe trabalho numa mercearia, o que ele não suportará. Teve então, a intervenção ativa do reitor Müller, para que Hahnemann pudesse estudar. Teve que lutar muito, ser brilhante para não decepcionar Müller. Trabalhou como repetidor na escola de Saint-Afra para pagar sua pensão.

Em seguida, vem anos de estudos médicos em Leipzig e Viena, sendo muito ajudado pelo professor Quarin. Jovem extremamente inteligente e criativo com um grande entusiasmo para pesquisas obteve muitas simpatias.

Hahnemann foi incontestavelmente um diligente trabalhador. Foi um erudito. Seu extraordinário conhecimento de línguas permitiu-lhe saciar uma intensa sede de saber. Hahnemann falava e escrevia fluentemente o alemão, sua língua materna, o inglês, o francês e o italiano. Decifrava o árabe. Além disso, tal como a maioria dos espíritos cultivados, dominava o latim, o grego e o hebreu. Esse dom lingüístico assegurou-lhe sua sobrevivência durante os períodos difíceis, traduzindo livros.

Sobretudo, serviu para que adquirisse um conhecimento médico enciclopédico.Todas as obras que Hahnemann publicou estão recheadas de referências históricas, de notáveis citações extraída de todas as fontes.

Para obter o posto de mestre de conferência em Leipzig, realizou um enorme trabalho sobre o heléboro, Veratrum álbum, baseado numa análise aprofundada de todas as aplicações anteriores desde a remota antigüidade.

Hahnemann é um cientista; não é um filósofo apesar de seu espírito filosófico. Tem uma abordagem fenomenológica dos acontecimentos. Opõe-se às grandes doutrinas, às vastas “teorias que querem tudo explicar sem nada provar”. Sua concepção da força vital, a dinamis, é muito materialista, embora também seja imaterial. O paradoxo é só aparente.

Estamos no domínio energético, no mesmo terreno da eletricidade. Para ele o ser vivo é ternário. Compreende o corpo, do qual se ocupará, a alma, da qual nunca fala porque não faz parte do domínio científico, e, finalmente a força vital – conceito vitalista herdado de Barthez e ilustrado por Bichat. “Força Organizadora Natural”, energia emanada pelo corpo, que assegura o equilíbrio dos órgãos e a harmonia das funções fisiológicas e cujo desequilíbrio cria a doença.

Hahnemann, um pesquisador nato, um homem de ciência. No começo, seu único interesse é a medicina, tratar seus semelhantes. Estudou para ser médico. Mas a prática médica de sua época não lhe agradava.

Não tendo qualquer meio terapêutico válido, abandona o exercício de sua arte.

Hahnemann volta-se para a química, a bromatologia, a toxicologia. Os manuais que traduz para se sustentar enriquecem consideravelmente sua bagagem científica e fecundam sua pesquisa. O vinho não tem mais segredos para ele; descobre todas as adulterações de que o líquido é alvo. Não dá tréguas ao café, que acusa de todos os males. 

Também se ocupa da higiene citadina. Preconiza a condução das águas, a descarga de autoclismo, a utilização do carvão de terra, cujas minas são numerosas na Saxônia. Preocupa-se com as prisões.

Interessa-se muito por numerosos produtos químicos cujas propriedades corantes são utilizadas na indústria. Esse interesse devia-se provavelmente a suas lembranças de infância, quando acostumava acompanhar seu pai à fábrica real de porcelana, podendo observar o manuseio de todos os pós empregados na decoração e as nefastas conseqüências para a saúde dos operários. Pintava-se com qualquer precaução com alvaiade (óxido de chumbo), azul da prússia (cianeto de cobre), vermelho cobalto, amarelo cromo. Todos esses sais de metais pesados podem, através da lenta impregnação, causar graves acidentes neurológicos.

A pista desta proximidade com as doenças profissionais podem ser encontradas em certas patogenesias, como a do Plumbum metallicum, o “chumbo”, ou a do Cuprum metallicum, o “cobre”. Entre outros como: Alumina, o “alumínio”; Ferrum metallicum, o “ferro”; Aurum metallicum, o “ouro”, etc. Quanto à de Graphites, nasce diretamente dos eczemas observado nos espelheiros de Veneza, que usavam pó de grafite para polir seus famosos espelhos.

Hahnemann não era  só um químico, também tinha algo de Alquimista. Naquele tempo a Alquimia e a Química estavam interligadas.

Hahnemann recusava com furor qualquer comparação com Paracelso. Mas notava-se nele a profunda preocupação em atingir a essência, até mesmo a quintessência da substância medicinal utilizada, trabalhada, como se faz para a grande edificação.
Foi com seu sogro, o farmacêutico Häseler, com quem ele obteve sua formação de químico. Encontrou curiosos produtos químicos, etapas tradicionais na rota do ouro potável, mítico elixir da imortalidade e garantia de libertação do “eu” profundo.

Foi assim que a farmacopéia homeopática começou. Citemos Causticum, “espírito acre dos álcalis”, Hepar Sulphur, “fígado de enxofre” e, o famoso Mercurius solubilis, batizado de “mercúrio solúvel de Hahnemann”; entre outros.

Esses medicamentos como todos, são sempre preparados pelos farmacêuticos e receitados pelos homeopatas. Tem qualidade científica porque muitos deles foram submetidos pelo próprio Hahnemann a uma rigorosa experimentação patogenética. Podem ser receitados racionalmente, segundo o critério do princípio da similitude, e “não intuitivamente”, com base em alguma intuição qualquer.

As descobertas do processo de potencialização e da Lei dos Semelhantes, feitas por Hahnemann, realmente revolucionaram a potencialidade científica da terapêutica.
Se refletirmos sobre o fato de que cada substância tem um campo eletromagnético (desde os organismos simples até o Planeta como um todo), podemos afirmar que qualquer substância administrada a uma pessoa tem pelo menos o potencial para afetar o organismo de duas formas. Por um lado, a substância pode ter um efeito químico, como o que percebemos nos alimentos, vitaminas, drogas, tabaco, café, etc. E, por outro lado, pode ter um efeito sobre o campo eletromagnético do corpo, causado pelo campo eletromagnético correspondente da substância, especialmente se os níveis de vibração forem suficientemente próximos, tendo a mesma ressonância. O efeito eletrodinâmico de uma substância em estado natural pode ser muito fraco para ser notado; por outro lado, pode desempenhar um papel importante em circunstâncias tais como os banhos minerais, os banhos de mar, os cataplasmas, etc.

Uma pessoa com um grau muito alto de sensibilidade, pode reagir de maneira tão violenta que lhe sobrevenha a morte, ao passo que outra pessoa com menor sensibilidade a substância pode ter uma reação mais amena. Hahnemann com seus estudos e pesquisas descobriu a sintomatologia dos envenenamentos, a própria sensibilidade da pessoa a uma determinada substância pode ser a expressão da ressonância entre a pessoa e a substância; na homeopatia essa ressonância é utilizada como princípio terapêutico.

Para produzir resultados curativos de longa duração, é necessário aumentar a intensidade do campo eletromagnético do agente terapêutico, ou, em outras palavras, liberar a energia contida na substância a fim de torná-la mais disponível para a interação com o plano dinâmico do organismo. Foi nesse ponto que Samuel Hahnemann fez sua segunda engenhosa contribuição para a medicina, projetando a técnica da potencialização. Desenvolveu um método bastante simples para extrair a energia terapêutica de uma substância sem alterar seu grau de vibração. Assim, o “medicamento homeopático” resultante é uma forma de energia intensificada que pode ainda ser administrada de acordo com o princípio básico de ressonância da Lei dos Semelhantes, mas agora com capacidade acentuada para afetar o plano dinâmico do organismo e, por conseguinte, produzir uma cura duradoura de todo o organismo.

A primeira grande descoberta de Hahnemann foi a importância de “experimentar” as substâncias em seres humanos voluntários e saudáveis para obter uma completa descrição da sintomatologia da substância. No entanto, a maioria das substâncias potencialmente úteis são altamente tóxicas em sua ação biológica. Substâncias como o arsênico, o mercúrio, a beladona, os venenos de cobra,etc. Dispunha-se de alguma informação sobre os envenenamentos provocados por essas substâncias. Foi nesse processo de luta que Hahnemann fez sua descoberta.

De início ele tentou diluir as substâncias. Isso acontecia naturalmente, ao reduzir a toxicidade dos agentes, mas o processo também reduzia proporcionalmente o efeito terapêutico. Hahnemann, então, descobriu, de alguma forma, a técnica de adicionar energia cinética às diluições, agitando, ou seja, por meio da “sucussão”. A essa combinação da sucussão com a diluição serial, Hahnemann chamou de “potencialização” ou “dinamização”. A observação decisiva foi a de que, quanto mais a substância for submetida à sucussão, e diluída, maior será o efeito terapêutico, enquanto ao mesmo tempo fica neutralizado o efeito tóxico.

As descobertas do processo de potencialização e da Lei dos Semelhantes, feitas por Hahnemann, revolucionaram a potencialidade científica da terapêutica. Por um lado, o princípio da Lei dos Semelhantes virtualmente nos forneceu um método para combinar as vibrações ressonantes de quaisquer substâncias do meio ambiente com a do paciente. Com a descoberta feita por Hahnemann de uma técnica para aumentar indefinidamente a intensidade terapêutica do plano dinâmico, possuímos agora , um modo de estimular o mecanismo de defesa do paciente com a intensidade necessária, seja qual ela for, para dominar a intensidade da doença.

Com efeito, a diluição é uma operação necessária para a homeopatia.

Se quero, segundo o princípio da similitude, curar por administração de uma dada substância, terei de receitá-la muito diluída. Do contrário, haverá agravamento por adição de efeitos tóxicos.


“Um medicamento cujos sintomas imediatos estarão em perfeita concordância com os da doença será tanto mais salutar quanto mais sua dose se aproximar da exigüidade à qual precisa ser reduzida para trazer calmamente a cura.” (Organon, 4ª edição, § 275)


“Por um processo que lhe é próprio, a medicina homeopática desenvolve de tal forma as virtudes medicinais dinâmicas das substâncias que dá a todas uma ação das mais penetrantes, mesmo às que, antes de serem tratadas, não exerciam a mínima influência medicamentosa sobre o corpo.” ( Organon, 5ª edição §269)


Hahnemann fornece a explicação da atividade de substâncias aparentemente banais, inertes. É assim que utilizamos como medicamentos o sal marinho, Natrum muriaticum, o calcário, Calcarea carbônica , a sílica, Silicea, dentre outros. É a dinamização que confere a essas substâncias de todos os dias uma atividade medicamentosa absolutamente notável.

“Essa magnífica transformação das substâncias naturais faz-se pela ação mecânica da fricção e da sucussão e pela adição de um excipiente neutro, sólido ou líquido, que serve de suporte para que as partículas da matéria assim transformadas fiquem separadas. Ela desenvolve e enaltece suas forças farmacodinâmicas até então encobertas porque essa ação mecânica atinge a própria estrutura elementar da matéria. É por isso que essa operação se chama “dinamizar” ou “potencializar”, e os produtos assim preparados , “dinamizações” ou “elevações” de tal ou tal grau.” ( Organon, 6ª edição, §269)

No final de sua existência, Hahnemann concebeu um outro processo aumentando ainda mais a diluição e a dinamização. A técnica das “cinqüenta milimesimais” figura na famosa sexta edição de seu Organon, publicada postumamente.
Acima de tudo, porém, Hahnemann foi essencialmente um grande gênio médico.

Descobriu e inventou  a homeopatia. E essa é sua glória.
Tornou-se público o princípio da similitude.

O capítulo consagrado à quina, na matéria médica de Cullen que Hahnemann traduzia, não oferecia nenhuma tradução óbvia do princípio da similitude.

É verdade que Hahnemann conhecia os três grandes princípios de Hipócrates. Certas doenças são curadas pelos contrários, outras pelos semelhantes, outras pelo idêntico.
Também não ignorava a descoberta de Jenner, que fabricava, a partir de animais atingidos pela vacina (doença semelhante à varíola humana), um produto capaz de proteger da varíola, o que era uma aplicação do princípio da similitude.

O gênio de Hahnemann manifesta-se na sua enorme surpresa ao ler o texto que indicava que a quina cura as febres palúdicas fortificando o estômago. Por sorte ou acaso, Hahnemann havia contraído paludismo na Transilvânia, quando estava a serviço do barão Von Brückental. Fora tratado com quina, que o curara da febre mas ao mesmo tempo arruinara seu estômago. Eram os efeitos iatrogênicos que se faziam sentir.

Além disso, é preciso salientar, como muito fez bem o doutor Rabane ( O. Rabane, Histoire ET fondements conceptueis de I’ homéopathie, Encyclopédie des médecines naturelles – Homéopathie, Frison-Roche, 1995) que o contexto histórico médico explica em parte essa inspiração original.

Cullen era aluno direto de um outro escocês, Robert Whytt (1714-1766), professor em Edimburgo, para quem todas as doenças estavam relacionadas com um desarranjo da sensibilidade nervosa, primeiro ao nível de um órgão, depois, mas geralmente, de um sensorium commune.
Na primeira edição de seu Tratado das Doenças Venéreas, datado de 1789, portanto, antes de sua descoberta da homeopatia, Hahnemann retoma a tese sobre o mercúrio, enriquecendo-a com as reflexões vitalistas de um outro médico escocês, Hunter, que em 1781 também escrevera um Tratado de Doenças Venéreas. O mercúrio atuaria através de uma “força de irritação” específica que se opõe à irritação venérea, por meio do tecido nervoso. Não se fala aqui em qualquer órgão!

Estamos num domínio vizinho ao da força vital.

Subordinar a atividade da quina unicamente ao órgão estômago é pura heresia.

Seria possível que o grande Cullen, médico que desfrutava naquele momento de enorme reputação, estivesse enganado?
Hahnemann decide experimentar em si próprio, como lhe ensinara um de seus mestres vienenses, Von Störk(Von Störk, sucessor de Van Swieten, reitor da Universidade de Viena na época em que Hahnemann estudava em 1777.) outro nome importante nessa volta às origens.

Com efeito, Störk experimentou nele próprio numerosas substâncias venenosas, tentando descobrir suas propriedades terapêuticas. Essas auto – experimentações o puseram no caminho da similitude, mas ele não compreendeu sua importância.
Escreve o seguinte:

“A partir do momento em que o estramônio, ao transtornar o espírito, causa loucura nos homens sãos, será que não temos o direito de experimentar se, ao transtornar, ao modificar as idéias e o sensorium commune dos malucos e dos doentes, não lhes traria de volta um espírito são. Se não conseguiria, com um movimento contrário, fazer desaparecer as convulsões naqueles que delas padecem.”

*Datura  Stramonium – Figueira-brava, Figueira do inferno,Zabumba ou Manzana, também chamada de erva dos magos, erva do diabo. É uma planta herbácea, da família das Solanáceas. É uma planta originária do Oriente e da Índia, mas aclimatada espontaneamente na Europa e nos Estados Unidos. Crece entre os escombros, terrenos baldios,ao redor de velhos muros ou ao longo de caminhos e lugares incultos, não longe dos habitantes, o que faz com que os casos de envenenamentos não sejam raros. Contém propriedades tóxicas e medicinais, folhas grandes e irregulares, flores alvas ou azuladas, solitárias, que brotam do ângulo de bifurcação dos ramos, e cujos frutos são cápsulas ovóides, eriçadas de grossos espinhos, que contém sementes amarelas e, quando maduras de cor preta.
A Datura Stramonium é composta de três alcalóides: a hyoscianamina, a atropina e a escopolamina, que geram convulsões e muita força.


Aqui, entramos em cheio na gênese da descoberta da similitude.

Hahnemann ao experimentar quina constatou duas coisas. Primeiro que a quina faz mal ao seu estômago. Portanto não fortifica o órgão, o destrói. Cullen estava enganado. O estômago não é o primum movens da atividade terapêutica.
Mas, o fenômeno ainda mais espantoso, a ingestão de quina produz nele uma espécie de estado febril que lembra a febre palúdica de que fora vítima alguns anos antes.
É aqui que surgiu a faísca genial que incendiou a pólvora.
Hahnemann escreveu na margem do tratado de Cullen:

“Substâncias que parecem provocar uma espécie de febre curam a febre.”

Assim nasceu a Lei do Semelhante, pedra angular de toda a homeopatia.
Esta descoberta é tanto mais extraordinária porque se beneficia de um curioso concurso de circunstâncias. Na maioria das pessoas, a ingestão de quina não provoca febre. Se a febre ocorreu em Hahnemann, é porque ele tinha sido sensibilizado à ação da quina por tratamentos anteriores. Tornando-se hipersensível a essa substância que provavelmente havia desencadeado nele seqüelas do paludismo. É aqui que o destino fez sua intervenção, como o fez também no caso das galinhas com cólera de Pasteur que conduziu à vacina.

Hahnemann estendeu a experimentação em si mesmo a outras substâncias, pressentindo a importância do que descobriu.

Começou com Beladona, depois continuou com os grandes venenos, todos os grandes remédios de sua época, a noz-vômica, o arsênico, o acônito e muitos outros. Essa fúria em experimentar, essa coragem pessoal são as marcas de seu caráter indomável. É o único meio de detectar as propriedades homeopáticas das substâncias já que, para tratar pela similitude, é preciso conhecer os sintomas mórbidos que elas geram no homem de boa saúde.

Essa atitude experimental é científica e absolutamente moderna.

Hahnemann mais uma vez revelou seu gênio nessa abordagem metódica. A idéia de avaliar a ação de um medicamento no homem são e não no animal abre as portas a uma reflexão bastante atual. Trabalhou sem parar e publicou dando a conhecer um novo método. Assim que saíram as primeiras publicações, entrou em guerra contra todo o corpo médico da época, cujos hábitos perturba e cujos privilégios questiona. Contando com o apoio de uma minoria de colegas.
Enfrentou a miséria,as injúrias, a calúnia, os golpes baixos, defendendo suas idéias.Nunca enfraqueceu e nem renunciou. Demonstrou uma coragem física e moral, desafiando o conjunto das autoridades médicas, no meio das piores dificuldades materiais e familiares.Mas recuar estava absolutamente fora de questão. Tratavam-no de charlatão, de visionário, de maluco.Hahnemann respondeu com ardor, veemência, arauto dessa verdade de que sabe ser detentor mas a qual poucos aderiram.

O gênio de Hahnemann não se exprimiu unicamente na descoberta e na comprovação da Lei da Similitude. Aplica-se a noção do terreno.

A segunda fase de sua reflexão, levando muito tempo a exprimir, desembocou na evidência de um terreno patológico próprio de cada um, explicando, condicionando e esclarecendo as afecções agudas de cada um que a medicina é levada a tratar cotidianamente.

A noção de doença crônica ou diátese subjacente à noção de “doença aguda”, expressou no ano de 1828, e a evidencia das grandes orientações patológicas que condicionam as reações de cada um, são extraordinariamente modernas.

Esses conceitos não figuravam em nenhum tratado médico. Encontravam-se aqui e ali, algumas alusões às possibilidades diatésicas, mas não existia ainda nada concreto.

Hahnemann descobriu que toda doença está condicionada por um terreno próprio ao doente, e é esse terreno  que se deve tratar para curar totalmente, definitivamente o doente.

Lembremos que “terreno” significa o conjunto das características físicas, mentais e fisiológicas de um indivíduo que orientam seu futuro patológico. Algumas dessas características estão codificadas geneticamente; outras são adquiridas ao longo da vida.

Hahnemann identificou três grandes orientações patológicas que condicionam afecções agudas bem determinadas: psora, sicose e siphilis. Foi muito criticado por causa dessas diáteses. Até mesmo os primeiros homeopatas recusaram-se a segui-lo, a abrir mão de uma similitude concreta por uma similitude diatésica.

Só quando Dausset descobre os marcadores de histocompatibilidade é que se compreendem o caráter inovador e a importância do que Hahnemann já havia elaborado pela mera observação clínica.

A importância do sistema HLA no desenvolvimento de certas doenças não é mais contestada hoje em dia; graças a ele, o controle das doenças genéticas é cada vez maior.

Para curar tanto o agudo como o crônico, utiliza-se similitude. Para compreender, prever, prevenir o patológico, a diátese ilumina o caminho a seguir.

Toda a Homeopatia está aí revelada, desde 1810, depois desde 1828 em suas bases essenciais e modernas, saída do cérebro de Hahnemann com todas as suas armas, tal como Atena do cérebro de Zeus.

Hahnemann foi incontestavelmente um gênio, isto é, um homem que trouxe uma descoberta revolucionária, espantosa, até mesmo escandalosa, não só capaz de aliviar o sofrimento da humanidade mas na qual a própria humanidade se reconhecerá.

Foi com amor e muita dedicação acreditando em seus princípios com a certeza de um dia melhor onde a humanidade transformada com uma nova consciência que o gênio Samuel Hahnemann até os últimos dias de sua encarnação no Planeta Terra, trabalhou incessantemente para a harmonia, resgatando a saúde do homem em equilíbrio com a Natureza.

Impôs sua descoberta a um corpo médico hostil e que, nos dias de hoje, permanecendo hostil na esfera oficial. Golpes não lhe faltaram. Para resistir era preciso um temperamento, um feitio que não o de um menino de coro. E Hahnemann não parecia em nada com um menino de coro. No fundo isso não interessa, já que a homeopatia está aí, fecundada neste Planeta.

Mostrou-se digno da Humanidade.

Em seu túmulo este simples mas belíssimo verso de Virgílio:
“Felix qui potuit verum cognoscere causas”
“Feliz daquele que conheceu o mais secreto das coisas”

A Homeopatia é portanto uma realidade.

- Princípio da Similitude: toda substância que em dose ponderável gera doença torna-se, depois diluída, capaz de curar uma doença análoga.

- Princípio do infinitesimal dinamizado: o remédio atua para além do limiar ponderável até os mais altos limites do infinitesimal, exaltando a informação que transporta por meio da dinamização indisponsável a seu feito.

- Princípio da individualização: não há doenças, há doentes. Cada um cria sua doença à sua maneira e necessita de um tratamento individualizado. Toda terapêutica deve-se adaptar à originalidade do indivíduo.

- Princípio do Terreno: toda afecção aguda tem um significado e é a prova de um terreno patológico permanente e preexistente que se deve tratar a fundo para curar. A diátese permite prever a futura doença.

- Princípio da forca vital: tudo é energia vital, vibração, força orientada para um equilíbrio que é garantia da saúde. É a esse nível energético que se deve levar a atuação da dinamização medicamentosa homeopática.
Cinco grandes princípios herdados de Hahnemann, cinco grandes luzes que fazem da Homeopatia a essência e até a quintessência da medicina de hoje e de amanhã.

Imitem-me, mas imitem-me bem”, disse o velho mestre antes de morrer.
“Saibam sobretudo ver”


Enquanto a homeopatia se torna cada vez mais respeitada pela surpreendente eficácia na cura de doenças de todos os tipos, agudas ou crônicas, podemos ter esperança de que os pesquisadores comecem a investigar a natureza dos medicamentos homeopáticos. Conhecendo mais a respeito de suas propriedades, será possível apurar nossas técnicas de combinação dos medicamentos e potências aos pacientes, individualmente, com uma precisão maior do que nos é possível na atualidade. Essa é a única possibilidade que deve motivar os investigadores a entrar nesse campo; é uma área de pesquisa com amplos campos abertos tanto para as profundas descobertas teóricas quanto para a aplicação prática, em benefício da humanidade.

Patricia Jorge Alves
Terapeuta Homeopata


  
                                                                                                              






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