Para valorizar a diversidade, não só a sala de aula, mas todo
o ambiente escolar precisa ser pensado diferentemente, inclusive a própria
organização curricular e pedagógica “se não
for ela a primeira a necessitar revisão”.
Qual a razão de todos os alunos terem que absorver o mesmo
conteúdo, da mesma forma, ao mesmo tempo e nas mesmas disciplinas? Uma criança
na 3ª série, que se sente razoavelmente bem, mas não desvendou ainda todos os
segredos da leitura, por que não pode ter aula junto com os colegas da 1ª que
justamente estão lidando com esses segredos? E um aluno da 3ª série que já
domina aqueles básicos de matemática, não pode juntar-se nessa hora aos colegas
da 4ª ou 5ª série? Por que não é encorajado aos alunos trabalharem sozinhos,
assistidos por outro professor, em uma atividade de seu interesse, ou que
atende a uma necessidade primordialmente sua?
Por que as nossas escolas não podem ser pensadas como
“laboratórios de aprendizagem”, orientando a organização e planejamento
pedagógico pelo que está sendo aprendido pelo aluno, ao invés de se concentrar
no que é para ser ensinado pelo professor?
Para que todos e cada um dos alunos continuem a ser o que
são, a se educar e crescer com suas características e não apesar delas, nesse
processo de cultivo da diversidade, a escola vai necessariamente ser empurrada
para além de seus limites, a fim de prover atenção às especificidades
evidenciadas no aluno e nas mais variadas direções. Esse impulso originado na
sua própria organização e projeto pedagógico, implica que a escola amplie seus
limites físicos e sociais.
Educação é um ato de amor pelo qual uma consciência formada
procura elevar uma consciência em formação”
A educação tradicional, fruto de uma sociedade “baseada no
lucro”, não consegue promover a transcendência, o domínio das paixões, a
superação da animalidade, a incapacidade de ser feliz e auxiliar o outro a conseguir
a felicidade. Como uma bola de neve, os problemas do indivíduo da Terra
aumentaram com o desenvolvimento técnico, convidando a exigir a educação
verdadeira que se expressa pelo desenvolvimento das possibilidades, das
perfectibilidades, como queria Kant. A nossa deseducação tem produzido tristes
resultados.
“Como ajustar os fins superiores da
educação às exigências de uma sociedade baseada no lucro?” Quando o “ter” é
mais importante do que o “ser”, o homem, agindo como se fosse de barro, considerando
apenas o corpo de carne, limita a captação da realidade à visão estreita
daquele que só enxerga o barro, que permanece na imanência, incapaz de atingir
a transcendência. Expressa-se como uma paixão inútil, como diria Sartre,
comportando-se como uma espécie e não como um “devir”, um vir a ser, como
escreveria Simone de Beauvoir.
A educação depende do conhecimento menor ou
maior que o educador possua de si mesmo. Porque conhecer-se a si mesmo é o
primeiro passo do conhecimento do ser humano. A Humanidade é uma só. O ser
humano, em todas as épocas e em toda parte, foi sempre o mesmo. Sua
constituição física, sua estrutura psicológica, sua consciência são iguais em
todos os seres humanos. Essa igualdade fundamental e essencial é o que
caracteriza o homem. As diferenças temperamentais, culturais, de tipologia
psicológica, de raça ou nacionalidade, de cor ou tamanho são apenas acidentais.
Por isso mesmo a Educação é universal e seus objetivos são os mesmos em todas
as épocas e em todas as latitudes da Terra.
Essa padronização, que devia simplificar a
educação, na verdade a complica, porque por baixo do aspecto padronizador surgem
as diferenciações individuais e grupais. Cada indivíduo é único, diferente de
todos os demais, mesmo nos grupos afins. O tipo psicológico de cada ser humano
é único e irredutível à massa. O mistério do ser, que aturde os educadores,
chama-se personalidade. Cada
ser humano é uma pessoa. E o é desde o nascimento, pois já nasce formado com
sua complicada estrutura que vai apenas desenvolver-se no crescimento e na
relação social. É difícil para o educador dominar todas essas variações e
orientá-las.
Educar, como se vê, é decifrar o enigma do
ser em geral e de cada ser em particular, de cada educando. René Hubert, pedagogo
francês contemporâneo, define a Educação como um ato de amor, pelo qual uma
consciência formada procura elevar ao seu nível uma consciência em formação. A
Educação se apresenta, assim, como Ciência, Filosofia, Arte e Religião. É
Ciência quando investiga as leis da complexa estrutura humana. É Filosofia
quando, de posse dessas leis, procura interpretar o homem. É Arte quando o
educador se debruça sobre o educando para tentar orientá-lo no desenvolvimento
de seus poderes internos vitais e espirituais. Não se trata de uma imagem mística
da Educação, mas de uma tentativa de vê-la, compreendê-la e aplicá-la em todas
as suas dimensões. O ato de educar é essencialmente religioso. Não é apenas um
ato de amor individual, do mestre para o discípulo, mas também um ato de
integração e salvação. A Educação não procura integrar o ser em desenvolvimento
numa dada situação social ou cultural, mas na condição humana, salvando-o dos
condicionamentos animais da espécie, elevando-o ao plano superior do espírito
É fácil compreendermos como está longe de
tudo isso o profissionalismo educacional do nosso tempo. Tinham razão os
filósofos gregos quando condenaram o profissionalismo dos sofistas. Não se
tratava apenas de uma diferenciação de classes sociais, mas da luta contra o
abastardamento da Educação pelos que negavam a existência da verdade a troco de
interesses imediatistas.
Como ajustar os fins superiores da Educação
às exigências de uma civilização baseada no lucro? A falta de uma solução para
esse ajustamento é a origem da crise universal da Educação em nosso tempo. Não
obstante, a solução poderia ser encontrada na aplicação de processos
vocacionais. Nenhum tipo de educação coletiva pode ser eficiente se não estiver
em condições de observar e orientar as tendências vocacionais.
O desenvolvimento da Era Cósmica, apenas
iniciada com as conquistas atuais da Astronáutica, traz novos e graves
problemas ao campo educacional. Toda a Terra está sendo afetada pela nova
concepção do homem e da sua posição no Cosmos. O aceleramento do processo
tecnológico está levando o homem a conhecer melhor a sua própria condição
humana. O ceticismo dos últimos tempos vai cedendo lugar a um despertar de
novas e grandiosas esperanças. A Educação da Era Cósmica começa a nascer e os
educadores começam a perceber que precisam renovar os processos educacionais.
A educação começa no lar. Nas famílias é dever dos pais
iniciar os filhos nos princípios doutrinários desde cedo. A falta de
compreensão da doutrina faz que certas pessoas pensem que as crianças não devem
preocupar-se com o assunto. Essas pessoas se esquecem de que os seus filhos
necessitam de orientação espiritual e que essa orientação será tanto mais
eficiente quanto mais cedo lhes for dada. Kardec, num trecho da Revista Espírita, conta como na França,
já no seu tempo, a educação espírita no lar começava a produzir maravilhosos
efeitos.
É preciso não esquecer que as crianças são
espíritos reencarnados, espíritos adultos que se vestem, como ensina Kardec:
“com a roupagem da inocência” para voltarem à Terra e iniciarem uma vida nova.
Os espíritos que se reencarnam em famílias espíritas já vêm para esse meio para
receberem desde cedo o auxílio de que necessitam. Os pais que, a pretexto de
respeitar a liberdade de escolha de quem ainda não pode escolher, ou de não
forçar os filhos a tomarem um rumo certo na vida, deixam de iniciar os filhos
no Espiritismo, estão faltando com os seus deveres mais graves.
Ensinar às crianças o princípio da
reencarnação, da lei de causas e efeitos, da presença do anjo-guardião em suas
vidas, da comunicabilidade dos espíritos e assim por diante, é um dever
inalienável dos pais. Pensar que isso pode assustar as crianças e criar temores
desnecessários é ignorar que as crianças já trazem consigo o germe desses
conhecimentos e também que estão mais próximos do mundo espiritual do que os
adultos.
Descuidar da educação dos filhos é negar-lhes a verdade. O maior
patrimônio que os pais podem legar aos filhos é o conhecimento de uma doutrina
que vai garantir-lhes a tranqüilidade e a orientação certa no futuro. Os pais
que temem dar educação espírita às crianças não têm uma noção exata do Espiritismo
e por isso mesmo não confiam no valor da doutrina que esposam.
Porque razão os católicos e os protestantes
podem ensinar aos filhos que existe o inferno e o diabo, que a condenação
eterna os ameaça e que o anjo da guarda pode protegê-los, e o espírita não pode
ensinar princípios muito mais confortadores e racionais? Se o medo do diabo e
do inferno não traumatiza as crianças das religiões formalistas, por que razão
o ensino de que não existe o inferno nem existe o diabo vai apavorá-las? Não há
lógica nenhuma nessa atitude que decorre apenas de preconceitos ainda não
superados pelos pais, na educação errônea que receberam quando crianças.
As crianças de hoje estão preparadas para
enfrentar a realidade do novo mundo que está nascendo. Esse novo mundo tem por
alicerce os fundamentos do Espiritismo, porque os princípios da doutrina estão
sendo confirmados dia a dia pelas Ciências. A mente humana se abre neste século
para o conhecimento racional dos problemas espirituais. Chegou o momento do
Consolador prometido pelo Cristo. Os pais espíritas precisam compreender isso e
iniciar sem temor os seus filhos na doutrina que lhes garantirá tranqüilidade e
confiança na vida nova que iniciam.
A melhor maneira de desenvolver a educação
no lar é organizar festinhas domingueiras com prece, recitativos infantis de
tema que busque a inteligência criativa acentuada com princípios de moral, explicação
de parábolas, canções e brincadeiras
criativas, que ajudem a despertar a criatividade das crianças. Espiritismo é
alegria, espontaneidade, sociabilidade. Essas festinhas preparam o espírito da
criança para o aprendizado na sala de aula e na sociedade.
Esconder às crianças de hoje a verdade é cometer um verdadeiro crime contra o seu
progresso espiritual e a sua integração na cultura espírita do novo mundo que
está nascendo. Que os pais não se furtem
a esse dever. A educação no lar é a base de todo o processo posterior de
educação escolar e de educação social, que os adolescentes e os jovens irão
enfrentar na vida.
É evidente que as dimensões da educação
decorrem das dimensões do homem. Se o homem pode ser encarado, tanto espiritual
como socialmente, numa perspectiva de sucessões dimensionais, então o processo
educativo também será susceptível dessa visualização. E é precisamente numa
teoria dimensional do homem que vamos buscar as possibilidades de uma
formulação teórica da educação nesse sentido. Formulação aliás, que pode
levar-nos a maiores possibilidades metodológicas na colocação filosófica do
processo educacional.
Apesar de termos nos referido a História e
a historicistas, não é num historicista que vamos encontrar a teoria, mas no
existencialista Jean Paul Sartre com seu famoso ensaio de ontologia
fenomenológica. Tanto melhor, pois esse simples fato reforça a nossa referência
às possibilidades de transcendência do processo educacional. Embora Sartre
tenha encontrado a transcendência em termos fenomenológicos no plano social, a
sua teoria nos leva, por um impulso dialético, a superar a polaridade
ontológico-social da educação. E essa superação vai nos fazer sentir as suas
possibilidades num ensaio de Denis de Rougemont sobre o desenvolvimento das
dimensões humanas na civilização ocidental. É nesse ensaio que podemos avaliar
a fecundidade da aplicação da teoria dimensional aos processos sociais.
O homem é apresentado por Sartre, em L'être
et le Néant, na sua conhecida formulação dialética: uma forma rígida ou fechada,
len-soi, primeira dimensão do ser,
que se nega a si mesma na especificidade humana, atingindo em le pour soi a segunda dimensão, da qual
resulta necessariamente a terceira dimensão de l'être pour autrui, na relação social. Essa formulação se repete no
capítulo sobre a terceira dimensão ontológica do corpo da seguinte maneira:
antes de tudo, o corpo existe, e este existir é a sua primeira dimensão;
depois, o corpo entra em relação com os outros, e nesta relação surge a sua
segunda dimensão; por fim, no conhecimento do corpo pelos outros tem ele a sua
terceira dimensão. (“J'existe pour moi comme connu
par autrui à titre de corps. Telle est la troisième dimension ontologique de mon
corps.”)
Em Denis de Rougemont essa dialética das
dimensões adquire maior densidade ontológica, passando do plano da
fenomenologia para o da metafísica. Apresenta-se, porém, numa perspectiva
fideísta. A transcendência do ser, que é a sua terceira dimensão, equivale a um
duplo processo de relações: no plano social como amor do próximo, e no
metafísico como amor de Deus. Essas dimensões se tornam mais claras numa
enfocação histórico-cultural: a primeira dimensão é a do horizonte tribal, que
o autor define servindo-se da teoria do corpo mágico ou corpo-sagrado do
ensaísta austríaco Rudolf Kessner, e em que o homem primitivo aparece como
simples parcela de um todo fechado sobre si mesmo; a segunda dimensão é a do
horizonte civilizado em que surgem o indivíduo urbano que se torna cidadão. A
terceira dimensão é a do transcendente em que o homem se torna cristão,
integrando-se nos princípios espirituais da civilização. Esse particularismo de
Rougemont equivale, entretanto, ao conceito universal da transcendência pela
cultura, que encontramos no horizonte profético de John Murphy em seus estudos sobre as Origens e a História das Religiões.
Vemos, assim, que as limitações daquilo que
chamamos perspectiva fideísta, no ensaio de Rougemont, não diminuem a
importância de sua tentativa de aplicação da teoria das dimensões humanas num
plano mais fecundo que o da ontologia fenomenológica de Sartre. Vejamos de que
maneira Rougemont esquematiza a sua teoria das dimensões do espírito ocidental,
que se eleva à terceira dimensão pelo impacto de uma religião oriental. É
curiosa essa aplicação sectária da teoria das dimensões, que servindo-se de
elementos orientais, faz surgir no ocidente, no fenômeno da pessoa, o homem tridimensional, ao mesmo
tempo em que nega aos orientais essa possibilidade.
É o seguinte o esquema apresentado pelo
próprio Denis de Rougemont: “Se o homem do clã, da tribo ou da casta, só tinha
uma dimensão real: sua relação com o corpo sagrado; se a segunda dimensão,
inventada pelos gregos, é a que reúne o indivíduo e seu modo de relações, a
cidade; São Paulo definiu a terceira dimensão: a relação dialética com o
transcendente, religando o indivíduo como vocação divina à comunidade, como
amor do próximo. Esse homem, melhor liberado que o indivíduo grego, melhor
entrosado que o cidadão romano, mais livre pela fé mesma que o entrosa, é o
arquétipo do Ocidente que nasce, é a pessoa.”
Murphy, porém, ao tratar do
horizonte-profético como uma conseqüência universal do desenvolvimento do
horizonte civilizado, acentua o aparecimento “das condições novas que tornaram
possível o advento de grandes individualidades, profetas, filósofos,
instrutores éticos e religiosos, desde cerca de dois mil anos antes da nossa
era.” Situando o período desse desenvolvimento entre o IX e o III séculos antes
de Cristo, e limitando-o geograficamente à região compreendida entre a Grécia e
o Egito, passando pela Palestina e a Mesopotâmia, até a índia e a China,
demonstra historicamente o aparecimento da pessoa, equivalente à terceira
dimensão de Rougemont, muito antes do advento do Cristianismo. Anulamos, assim,
o exagero fideísta de Rougemont, como esse mesmo exagero anulou o negativismo
existencial de Sartre, que limitava a terceira dimensão ao plano das relações
sociais. E assim, por um processo dialético, temos a pureza conceptual da
teoria das dimensões humanas, capaz de nos servir, sem qualquer limitação
sectarista, para uma possível tentativa de elaboração metodológica, visando a
mais ampla e mais profunda enfocação filosófica do problema da educação.
A validade da teoria dimensional do
espírito parece-nos pelo menos bem sustentada nas formulações de Dilthey,
Sartre e Rougemont. Claro que ela se funda, para o primeiro e o último, nos
pressupostos da evolução histórica, e para o segundo, na problemática do ser.
Temos assim, na sua base, a polaridade ontológico-social, com todas as
implicações que vão de um pólo a outro. Convém lembrar, como demonstra Jean
Vahl,
que as raízes da teoria dimensional, por assim dizer, se aprofundam no passado
filosófico. De qualquer maneira, o que nos interessa é a possibilidade de sua
aplicação metodológica. Essa possibilidade parece fecunda principalmente por
oferecer à Filosofia da Educação perspectivas filosóficas para a solução dos
seus problemas até agora frustrados, em grande parte, pela falta dessas perspectivas.
Em 1854 o Prof. Denizard Rivail começou a
investigar os fenômenos psíquicos que haviam, nove anos antes, abalado os
Estados Unidos e repercutido intensamente na Europa. Discípulo de Pestalozzi, o
grande pedagogo da época, e ele também pedagogo, interessava-se por todos os
fenômenos que pudessem dar-lhe um conhecimento mais profundo da natureza
humana. Partia do princípio de que o objeto da Educação é o homem e por isso o
pedagogo tinha por dever aprofundar o conhecimento deste. Em 1857 lançava em
Paris O Livro dos Espíritos como primeiro fruto de suas pesquisas. Havia
descoberto o espírito, determinado a sua forma, a sua estrutura, as leis
naturais (e não sobrenaturais) que regem as suas relações com a matéria. Podia
afirmar, baseado em provas, que a natureza do homem é espiritual e não
material, que ele sobrevive à morte, que possui um corpo energético, e se submete
ao processo biológico da reencarnação para evoluir como Ser, despertando em
sucessivas existências as suas potencialidades ônticas.
Para bem configurarmos o nascimento da
Educação Espírita convém lembrar que Amélie Boudet, esposa de Kardec, era
também professora. Sabemos como ela colaborou na obra do marido e como, após o
passamento deste, empenhou-se em honrar-lhe a memória. O casal não teve filhos.
A Educação Espírita foi assim a sua única filha. Essa filha mimada, extremamente
querida, esteve junto ao seu coração até o fim de sua existência. O Prof.
Rivail serviu-se dela para educar e instruir o seu tempo, não só no tocante à
França, mas a todo o mundo.
André Moreil, em sua Vida e Obra de
Allan Kardec, mostra-nos
que o Prof. Rivail não foi apenas discípulo de Pestalozzi, mas o continuador da
obra educacional do mestre: “É interessante notar que a impressão das obras
completas de Pestalozzi termina exatamente no ano em que Rivail publicou a sua
primeira obra, em 1824. Esta coincidência vem provar que uma tocha foi passada
de mão para mão. Rivail iria trabalhar durante trinta anos para a educação da
juventude francesa, antes de se consagrar, nos seus últimos quinze anos, aos
princípios do Espiritismo.”
Encarando o problema da evolução do mundo,
Kardec adverte em sua obra fundamental: “O Espírito só pode avançar
gradualmente. Não pode transpor de um salto a distância que separa a barbárie
da civilização” (perg. 271). A importância da Educação Espírita ressalta deste
trecho: “Encarnando-se com o fim de se aperfeiçoar, o Espírito é mais acessível
na infância às impressões que recebe e que podem ajudar o seu adiantamento,
para o qual devem contribuir os que estão encarregados da sua educação.” (perg.
383.)
“ Os seres orgânicos são os que trazem em si mesmos uma fonte
de atividade íntima que lhes dá vida; nascem, crescem, reproduzem-se e morrem;
são providos de órgãos especiais para a realização dos diferentes atos da vida
e apropriados às necessidades da sua conservação. Compreendem os homens, os
animais e as plantas. Os seres inorgânicos são os que não possuem vitalidade
nem movimentos próprios, sendo formados apenas pela agregação da matéria: os
minerais, a água e o ar etc.” (J. Herculano Pires- Livro dos Espíritos
Cap.IV-princípio vital,pág74 ed. Lake)
Pergunta nº 60. É a mesma força que une os elementos
materiais nos corpos orgânicos?
R. Sim, a lei de atração é a mesma para todos.
Pergunta nº 61. Há uma diferença entre a matéria dos corpos
orgânicos e inorgânicos?
R. É sempre a mesma matéria, mas nos corpos orgânicos é
animalizada.
Pergunta nº 62. Qual a causa da animalização da matéria?
R. Sua união com o princípio vital.
Pergunta nº 63. O princípio vital é propriedade de um agente
especial, ou apenas da matéria organizada; numa palavra, é o efeito ou uma
causa?
R. É uma e outra coisa. A vida é um efeito produzido pela
ação de um agente sobre a matéria. Esse agente sobre a matéria não é vida, da
mesma forma que a matéria não pode viver sem ele. É ele que dá vida a todos os
seres, que os absorvem e o assimilam.
Pergunta nº 64. Vimos que o espírito e a matéria são dois
elementos constitutivos do Universo. O princípio vital formaria um terceiro?
R. É um dos elementos necessários à constituição do Universo,
mas tem a sua fonte nas modificações da matéria universal. É um elemento para
vós, como o oxigênio e o hidrogênio que, entretanto, não são elementos
primitivos, pois todos procedem de um mesmo princípio.
64-a. Parece resultar daí que a vitalidade não tem como
princípio um agente primitivo distinto, sendo antes uma propriedade especial da
matéria universal, devida a certas observações destas?
R. É essa conseqüência do que dissemos.
Pergunta nº65. O princípio vital reside num dos corpos que
conhecemos?
R. Ele tem como fonte o fluído universal; é o que chamais
fluído magnético ou fluído elétrico animalizado. É o intermediário, o liame
entre o espírito e a matéria.
Pergunta nº66. O princípio vital é o mesmo para todos os
seres orgânicos?
R. Sim, modificado segundo as espécies. É ele que lhes dá
movimento e atividade, e os distingue da matéria inerte: pois o movimento da
matéria não é a vida; ela recebe este movimento, não o produz.
Pergunta nº67. A vitalidade é um atributo permanente do
agente vital, ou somente se desenvolve com o funcionamento dos órgãos?
R. Só se desenvolve com o corpo. Não dissemos que esse
agente, sem a matéria, não é vida? É necessária a união de ambos para produzir
a vida.
67-a. Podemos dizer que a vitalidade permanece, quando o
agente vital ainda não se uniu ao corpo?
R. Sim, é isso.
“O Conjunto dos órgãos constitui uma espécie de mecanismo,
impulsionado pela atividade íntima ou princípio vital que neles existe. O
princípio vital é a força motriz dos corpos orgânicos. Ao mesmo tempo que o
agente vital impulsiona os órgãos, a ação destes entretem e desenvolve o agente
vital, mais ou menos como o atrito produz calor.(J. Herculano Pires)
Pergunta nº71. A Inteligência é um atributo do princípio
vital?
R. Não; pois as plantas vivem e não pensam, não tendo mais do
que vida orgânica. A Inteligência e a matéria são independentes, pois um corpo
pode viver sem inteligência, mas a inteligência não pode manifestar-se senão
por meio dos órgãos materiais: somente a união com o espírito dá inteligência à
matéria animalizada.
“Não é o cérebro ou os neurônios que pensam, mas o espírito
que está acoplado ao corpo pelo perispírito juntamente com a força vital que é
um elo de ligação entre matéria e espírito.”
A Inteligência é uma faculdade especial, própria de certas
classes de seres orgânicos, aos quais dá, com o pensamento de sua
individualidade, assim como os meios de estabelecer, a vontade de agir, a
consciência de sua existência e relações com o mundo exterior e de prover às
suas necessidades.
Podemos fazer a seguinte distinção:
1º Os seres inanimados, formado somente de matéria, sem
vitalidade nem inteligência; são os corpos brutos.
2º Os seres animados não pensantes, formados de matéria e
dotados de vitalidade, mas desprovidos de inteligência.
3º Os seres animados pensantes, formados de matéria, dotados
de vitalidade e tendo ainda um princípio inteligente que lhes dá faculdade de
pensar.
Pergunta nº72. Qual é a fonte da Inteligência?
R. A Inteligência Universal.
72-a. Poderíamos dizer que cada Ser tira uma porção de
Inteligência da Fonte Universal e a assimila, como tira e assimila o princípio
da vida material?
R. Isto não é mais do que uma comparação; mas não exata,
porque a inteligência é uma faculdade própria de cada Ser e Constitui a sua
INDIVIDUALIDADE MORAL.
Pergunta nº73. O Instinto é independente da Inteligência?
R. Precisamente, não, porque é uma espécie de inteligência. O
instinto é uma inteligência não racional; é por ele que todos os seres provêm
às suas necessidades.
Pergunta nº74. Pode-se assinalar um limite entre o Instinto e
a Inteligência, ou seja, precisar onde acaba um e começa o outro?
R. Não, porque eles freqüentemente se confundem; mas podemos
muito bem distinguir os atos que pertencem ao instinto dos que pertencem à
inteligência.
Pergunta nº75. É acertado dizer que as faculdades instintivas
diminuem, à medida que crescem as intelectuais?
R. Não. O instinto existe sempre, mas o homem o negligencia.
O instinto pode também conduzir ao bem; ele nos guia quase sempre, e às vezes
mais seguramente que a razão; ele nunca se engana.
75-a.Por que a razão não é sempre um guia infalível?
R. Ela seria infalível se não existisse falseada pela má
educação, pelo orgulho e o egoísmo do Espírito, que trazemos ou adquirimos
nesta ou em outras vidas(banco de registro-tendências). O instinto não
raciocina; a razão permite ao homem escolher, dando-lhe o livre-arbítrio.
(Livro dos Espíritos- ALLAN KARDEC, tradução J.Herculano
Pires, Ed. Lake – cap.IV- Princípio Vital; págs. 74 à 77.)
Há muitas coisas que não compreendeis porque a vossa
inteligência é limitada; mas isso não é razão para as repelirdes. O filho não
compreende tudo o que o Pai compreende, nem o ignorante tudo o que o sábio
compreende. Nós te dizemos que a existência não tem fim. O que vemos,
percebemos e sentimos é uma partícula infinitamente pequena do que realmente
somos e o que podemos ser. Pense nisso.
Para que as instituições de ensino possam realmente ensinar,
precisam antes de tudo ter profissionais capacitados com uma visão holística do
Ser e Do Mundo que os rodeia. Cada Ser Compõe um Todo. Fazemos parte do Todo.
Para que realmente possamos ter um ensino com uma visão ampla, precisamos saber
ver e ouvir, sem colocar limites, ampliar a inteligência e deixar de olhar só
para nosso umbigo; perceber o quanto temos que galgar. Temos ainda
uma percepção e inteligência
limitada!
Parágrafo §9 – “Na
condição de saúde do homem, a força vital espiritual, a energia(dynamis) que
anima o corpo material, domina com poder ilimitado, e mantém todas as partes do
organismo em admirável e harmonioso funcionamento vital, tanto quanto às
funções como às sensações, de forma que a mente, dotada de razão, que nos
habita, possa livremente empregar este instrumento vivo e sadio para os altos
fins de nossa existência.”
“Organon da Arte de Cura”- Samuel Hahnemann
“O Fundo ou a essência
fundamental deste princípio vital espiritual, comunicado a nós, homens, pelo
infinitamente misericordioso Criador, é incrivelmente enorme, se os médicos
soubessem como manter sua integridade nos dias de saúde, direcionando o homem a
um modo saudável de viver, e como invocar e aumentá-lo nas enfermidades
puramente através do tratamento homeopático.”
Samuel Hahnemann. The Chronic Diseases their Peculiar Nature and their
Homeopathic Cure.
“A moderação em tudo,
até no que diz respeito ao que é inofensivo, deve ser a norma principal dos
pacientes crônicos.” Hahnemann
§ 210. “ Não existe
nenhuma doença dita somática onde não possamos descobrir modificações constante
do estado psíquico do doente”.
“Organon da Arte de
Cura” – Samuel Hahnemann
A aplicação da homeopatia em distúrbios psicológicos e em
patologia psiquiátrica, pode ser considerada como grandemente positiva.
O que traz então de original e especificamente útil, neste
domínio, o método médico descoberto e fundado por Samuel Hahnemann?
Um conhecimento global e dinâmico da personalidade do doente
levando a um modo de relação individualizado; uma possibilidade de prevenção de
emergências psicopatológicas; uma terapêutica personalizada, estimuladora e
reativa, farmacologicamente ativa, mas caminhando no mesmo sentido que uma ação
psicoterápica.
Em toda sua obra, Hahnemann insistiu sobre a importância dos
sintomas psíquicos, tanto na valorização das observações experimentais quanto
na pesquisa e identificação com o medicamento “simullimum”. Seus sucessores
(Boenninghausen, Jahr, Kent, Allen,Hering), reconheceram nos indivíduos
justificáveis(somáticas diversas) de um mesmo medicamento, a freqüência
significativa de certas seqüências de sintomas psíquicos: Modalidades
intelectuais e emocionais; traços de caráter e tonalidade de humor;
particularidades do comportamento.
Esta contribuição da experiência clínica completou e modulou
as contribuições patogenéticas, conduzindo a uma compreensão mais global e
dinâmica deste “conjunto semiológico” reconhecível, específico de um
medicamento.
Os comentários descritivos substituíram a enumeração dos
sintomas experimentais de verdadeiros “quadros clínicos” viu-se constituir esta
galeria de psicotipos, ao mesmo tempo surpreendentes e sedutores, que
encontramos nas matérias médicas homeopáticas. Corre-se então o risco de se
afastar demais dos sintomas experimentais e, por força de interpretações
pessoais, travestir a verdade.
A este risco real, a única atitude honesta é a obtenção
perseverante e rigorosa de observações cuidadosas, tão objetivas quanto
possível, num domínio onde toda história clínica é, de uma certa maneira,
única, onde todo sintoma tem seu valor somente pelas suas nuâncias conotativas.
A Semiologia somática e semiologia psíquica contribuem de
maneira indissociável, segundo sua importância e concomitância, em determinar
com exatidão o medicamento cuja indicação é manifestada pela patologia do
doente.
“Angústia que ocorre ao acordar”: este sintoma é,
indiscutivelmente, uma queixa freqüente durante os estados depressivos. Em
Homeopatia, dirigimo-nos a possibilidades terapêuticas bem diferentes segundo o
quadro clínico do conjunto:
Se é o caso de uma mulher pletórica, congestiva, agitada,
logorréica, reinvindicadora mas desanimada, durante uma depressão reacional (a
um choque emocional ou a sua menopausa), e que é acordada por uma crise de
angústia.
Se é o caso de um adolescente longilíneo, de tórax magro, de
pele malsã e com espinhas, triste, abúlico, com despertar difícil e tardio,
confrontando-se a partir deste momento com a angústia de um vazio existencial,
de um futuro sem atração e de um intransponível torpor intelectual;
Se é o caso de um grande depressivo melancólico, que abre
seus olhos com o desgosto do dia que terá que viver; ou se é o caso de um idoso
esgotado, caquético, impaciente, irritável, acordando repentinamente durante um
sonho de morte eminente.
Pra um a indicação de Lachesis Muta, para o outro de
Phosphoricum acidum, o outro Aurum metalicum e o terceiro de Arsenicum álbum;
para o último, é provável, sob reserva, que outras informações clínicas
corrijam ou corroborem.
Os distúrbios orgânicos e as perturbações psíquicas causadas
por uma intoxicação a estes produtos podem ser, a experiência mostrou(Lei de
Semelhança), melhoradas ou curadas por estes mesmos produtos em diferentes
graus de atenuação e de dinamização.
Através do interesse dedicado às suas queixas diversas, o
interrogatório minucioso no que concerne toda sua fisiologia, o exame clínico
tradicional, o doente se vê aceito na sua unidade somatopsíquica.
Pelo fato do conhecimento das patogenesias e deste olhar diferente
depositado no cliente, a atitude do Homeopata não pode e nem deve ser uma
atitude padronizada.
Sintomas orgânicos e sintomas psíquicos são “decodificados”
como significados de uma certa organização somatopsíquica com a qual trata-se
de se estabelecer uma comunicação “sob medida”.
Ajudar a evolução do
doente para lhe dar mais liberdade interior é, de fato, a meta de toda
psicoterapia, ainda mais sob a perspectiva homeopática.
O trabalho homeopático não é, evidentemente, instaurar uma
espécie de equilíbrio normativo, referindo-se a algum conceito abstrato que só
pode ser uma amputação da personalidade, mas restaurar, tanto quanto se possa,
este equilíbrio original perturbado durante uma história particular.
Parece que esta evidência é, às vezes, mal percebida, daí
certas recusas surpreendentes quanto às possibilidades da Homeopatia em Psiquiatria.
O Que é Curar e o Que Curar?
Curar é reunificar; o fato de ser reconhecida, em Homeopatia,
uma estreita relação entre os distúrbios físicos e os mentais já é um elemento
de resposta, quando sabemos que atualmente numerosos psiquiatras questionam-se
sobre a noção de Totalidade, que os fenomenólogos, após BINSWANGER, procuram
uma resposta terapêutica a esta necessidade de se considerar o indivíduo na sua
totalidade e que Michel SAPIR, exprime:
“ É importante saber
quem trata ainda do corpo no seu conjunto. O Psicanalista, seguramente, trata
do corpo global, mas ao nível do imaginário. Ele não toca, não examina. O
médico especialista examina somente o que é do seu domínio, isto é, de uma
parte do corpo, encaminhando as outras queixas ao clínico geral. Só este último
pode ter o corpo do paciente entre suas mãos, a não ser que ele distribua as
partes aos especialistas, mas sob a condição que ele possa “juntar os pedaços”.
Porém o praticante pode
refazer a unidade do corpo na totalidade, isto é, entre o corpo físico e o
corpo imaginário, e em seguida situar este corpo no discurso do contexto desde
que este contexto seja imediato, histórico ou médico? Ele tem os meios para
isso?...”
O método Homeopático traz uma resposta. Depositar um outro
olhar sobre o cliente, lhe dar uma escuta, mesmo inabitual, prever e prevenir
os riscos de sua evolução.
A originalidade da ação terapêutica em Psiquiatria é que ela
exclui toda contradição de atitude, toda oposição dialética entre a ação de um
medicamento (que não é nem uma supressão artificial de sintomas, nem uma
mordaça colocada sobre o inconsciente); e a ação da palavra que além dos
sintomas significativos, faz surgir e exprimir o significado: em nível
simbólico, o medicamento homeopático, é semelhante ao estado do paciente, é um
espelho estendido a ele pelo terapeuta, refletindo sua própria imagem.
O Fato de procurar e de reconhecer o conjunto patogenético
mais análogo ao estado do doente introduz, na relação homeopática uma qualidade
diferente e um outro ritmo: assumir o caso avaliando de maneira mais precisa as
possibilidades reacionais de cada um. O doente também percebe esta adequação
personalizada como um estímulo exatamente apropriado às suas possibilidades de
esforços, e assim um apelo a participar de seu tratamento.
A Homeopatia me fez ver que somos individualidade. Somos
únicos e o que construímos em decorrer de nossas vidas é a causa de nossas
dores e não o efeito! Portanto, quando as dores se instalam em nosso corpo
físico, sabemos que ela já estava instalada em nosso espírito (corpo
espiritual) e que o que vemos é o efeito. Precisamos perceber que enquanto
nossa visão estiver somente nas dores físicas, continuaremos doentes. O
medicamento alopático tem essa visão de suprimir a doença, mas o corpo para que
ele possa continuar vivo ele drena em outro órgão “surgindo uma outra doença:
falsa doença”. Vira uma bola de neve e conseqüentemente não saímos do médico.
Tudo está interligado, nada está separado, por isso digo que se a nossa
inteligência continuar limitada somente no efeito (extremidades) não veremos o
quanto é Infinito o Ser! O Quanto somos Infinito. Cabe, então a cada um de nós
lapidar o cristal que temos dentro de nós sem ter medo do desconhecido.
Enfrente!
A Inteligência acoplada com a Consciência Moral, eleva nossa percepção a níveis mais
amplos e conseqüentemente nos direciona a caminhos de aprendizado e evolução.
As escolhas são individuais.
“O Plantio é livre a Colheita é Obrigatória”.
Patricia
Jorge Alves
Terapeuta
Homeopata
E
Hipnóloga
Condicionativa