sábado, 14 de outubro de 2017

CICUTA VIROSA






São três as cicutas: Cicuta virosa ou Aquática(salsa dos loucos); o Conium Maculatum (Cicuta officinalis) e Aethusa sinapium, pertencentes à família das umbelíferas, crescendo em lugares pantanosos, mares e lagos, principalmente da Alemanha e França. Florece em Julho e Agosto. O odor da Cicuta virosa é fétido, nauseante, sabor amargo, seu suco é acre e sua raiz é muito venenosa, com o sabor que lembra o da salsa. Seu veneno se obtém pela raiz; seu princípio ativo é a cicutoxina. A toxidade foi utilizada na Grécia para a execução dos condenados à morte.

Intoxicação:
Minutos depois de ingerida, provoca nos seres humanos forte ardor na boca. Ânsia de vômito, tontura, desfalecimento, paralisia, estado de coma. Depois seguem-se convulsões, a boca começa a espumar, os dentes a ranger, as extremidades do corpo são atacadas e atormentadas por fortes cãibras ( o que já é indicativo do seu emprego nos epilépticos e convulsivos), o lábio e a face tornam-se roxo, as pupilas dilatam-se, tornando-se sem reação, a respiração e algumas vezes a pulsação sofrem  paralisia no auge de uma forte convulsão.
A morte sobrevém, decorridas algumas horas após a ingestão, no auge de uma convulsão ou no estado de paralisia que à mesma segue, ou pode ocorrer dez, doze ou vinte horas após o individuo ter ingerido a droga.
Muitos acidentes fatais ocorreram pela ingestão de raiz de Cicuta Virosa, por engano, pensando se tratar de salsa.


Cicuta virosa age violentamente no sistema nervoso, irritante cérebro espinhal; em doses ponderais, na base do cérebro e no bulbo. É um veneno convulsivo: pouco tempo após ser absorvida o indivíduo cai em estado de rigidez característica com olhar fixo, face azulada, violácea e com espuma na boca; depois aparecem as convulsões epileptiformes com agitação muscular espasmódica violenta, seguida de depressão, não menos violenta.
Estados convulsivos seguidos de traumatismos crânio-encefálicos ou medulares. Podem aparecer sintomas físicos e mentais logo após lesões ou golpes na cabeça. Maus efeitos de traumatismos da medula espinhal ou do cérebro.
As causas podem ocorrer  em acidentes, quedas, por erros de dieta, por engolir uma espinha de peixe; em crianças durante a dentição, durante a gravidez e puerpério. As convulsões são muito violentas, precedidas por um grito, um violento espasmo do diafragma em forma de brusco choque epigástrico. Após as convulsões se estenderem por todo o corpo, este fica em opistótonos¹  com a cabeça para trás ou para um lado, trismos², gritos, perda de consciência, violentas contorções, com fortes sacudidas e contrações espasmódicas dos músculos de todo o corpo, com os polegares metidos dentro dos demais dedos flexionados. Quando o ataque cessa, permanece em prostração, não recordando do ocorrido apresentando insensibilidade. (Lathould) (Vannier).

¹ “Opistótono é um estado de distensão e espasticidade grave, no qual a cabeça, pescoço e coluna vertebral de um indivíduo formam uma posição em arco côncavo para trás, fazendo com que se apoie apenas na cabeça e nos calcanhares.”

² “Trismo representa uma contratura dolorosa da musculatura da mandíbula (masseteres). ... É uma contratura dos dentes, ocorre geralmente ao acordar e quando finalizamos uma atividade, como a mastigação. Pode ser indício de problemas na articulação temporomandibular (ATM).” https://pt.wikipedia.org/wiki/Trismo


Choques violentos através da cabeça, braço e pernas, causando repuxões súbitos. Efeitos crônicos nocivos de concussões³ do cérebro e coluna, especialmente espasmos; trismo e tétano, por lasca enfiada na carne.

³ “Concussão caracteriza-se pela presença de sintomas neurológicos sem nenhuma lesão identificada, mas com danos microscópicos, dependendo da situação, reversíveis ou não. Podem ocorrer perda da consciência, prejuízo da memória, cefaleia, náuseas e vômitos, distúrbios visuais e da movimentação dos olhos. A concussão cerebral é a perda da consciência de curta duração, que acontece logo após um traumatismo craniano (bater com a cabeça). Uma concussão pode deixar o indivíduo um pouco confuso, com dor de cabeça e com uma sonolência anormal, podendo ser acompanhada de tontura, dificuldade de concentração, esquecimento, depressão, falta de sensibilidade ou de emoções e ansiedade. Diferente da contusão, as concussões causam uma disfunção cerebral temporária, sem apresentar fratura do crânio ou feridas na cabeça. Elas podem ocorrer mesmo após um traumatismo crânio-encefálico menor, dependendo da intensidade com que o cérebro foi mobilizado no interior da caixa craniana. A maioria dos indivíduos se recupera completamente em algumas horas ou dias, sem necessitar de nenhum tipo de tratamento específico. Mas, é necessário que este fique sob observação médica por pelo menos 12 horas. Durante este tempo, recomenda-se fazer uma ressonância magnética ou tomografia computadorizada para verificar a integridade cerebral. Caso os sintomas da concussão persistam, novos exames são feitos e, dependendo da avaliação médica, o tratamento é expandido, podendo envolver soluções farmacológicas.” https://pt.wikipedia.org/wiki/Concussão

Hahnemann:
   A-Mania, calor em todo corpo após sono não habitual; saltou da cama, dançou, riu e fez todo o tipo de bobagens, bebeu uma generosa quantidade de vinho, pulou à toa constantemente, bateu palmas por toda noite. Ele sentia-se como uma criança de sete a oito anos de idade.
   B-Depreciação e desprezo pela raça humana; afastou-se dos amigos, estava desgostoso com eles e a sua disposição direcionava-se para a misantropia; retirou-se para a solidão.
Perda da crença nas pessoas e fobia pelos homens; pensamento sobre seus erros e a si próprio. Excitação com relação ao futuro, tudo o que fosse acontecer contigo, o ameaçava, representando algo perigoso.


Observando as citações (A) e  (B) em relação aos sintomas mentais, vemos que são contraditórios e paradoxais. Na coluna (A) encontramos uma criança imatura, inconsequente, mas cheia de vida, que dança, canta e faz algazarras, e na coluna (B) indivíduos misantrópicos, desalentados e sem o menor entusiasmo para a vida, sem fé na humanidade.

Isso passa a fazer sentido pelo conhecimento das polaridades miasmáticas, quando os indivíduos sofrem seus medicamentos e vivem defesas equivocadas e antagônicas.
Ao buscarmos penetrar no “gênio” de Cicuta Virosa, é apresentarmos indivíduos que buscam a vida através da morte, sendo que isto é um ato equivocado, uma ideia errada de ser, sendo seu mal pensar, seu digno de cura e graças a isto Cicuta adoece.
Cicuta tem ao mesmo tempo compaixão e compassividade, tem falta de confiança nos homens e os deprecia. Alterna cólera com estados de indiferença. Calado, silencioso em seu mundo interior, podendo ser crítico, gritar e fazer alaridos; ingênuo e desconfiado; podendo ser infantil em seus comportamentos ou mesmo mostrar maturidade nas suas introspecções. Temperamento tranquilo, alternando com momentos cheios de sobressaltos; enfim uma dialética interna, faz desse indivíduo Cicuta Virosa um dos mais dual da Matéria Médica.
Assim como a planta Cicuta Virosa vive às margens, bordas e pântanos, o indivíduo Cicuta fica à margem do mundo, foge em estado absorto, apresentando convulsões crônicas, sem consciência, epilépticas, histéricas por ruídos, por susto, catalepsias, aversão à companhia, êxtase, gritos, fastio da vida, desprezo pelos homens, ilusão imbecilidade, inconsciência, irritabilidade, humor chorão, melancólico, perda de memória, pensativo, suicídio, temor, timidez, tristeza por histórias tristes, mania por danças, comportamento infantil.

Os Temas deste medicamento: dualidade; vida/morte; infância/velhice.

Os sentidos fazem nosso contato com o mundo. A planta de Cicuta Virosa libera um odor pestífero e estupefaciente como se quisesse dizer: não se aproxime. É assim que reage o indivíduo Cicuta.
Sensível a ruídos, desaparecimento dos sentidos, sentidos embotados, sobressalto por ruído, contato o agrava, convulsão por ar frio, diplopia a objetos próximos; inchação e movimento difícil da língua; secura na língua.
A pele, que é o receptor de um dos sentidos, ao mesmo tempo separa a constituição interna do indivíduo do meio exterior. O indivíduo Cicuta Virosa, concentra na pele uma série de manifestações, que demonstram a sua dificuldade de relacionamento com a vida: erupções amarelas, ardentes, crostosas, herpéticas, úmidas, vermelhas, supurantes; prurido/úlceras com secreções corrosivas, com muita sensibilidade e espessamento da pele.
A face é onde se localizam vários dos sentidos, portanto, a percepção do mundo exterior; ao mesmo tempo, expressa o estado interior do indivíduo. É interessante notar a relação que existe com o medicamento de Cicuta, no qual há um tropismo maior de lesões e alterações na face: epitelioma, discromias, espasmos, erupções, convulsões, trismo, expressão ansiosa, expressão vazia e úlceras.
Outra forma de se afastar do mundo é a sua não localização no tempo e no espaço. Não se sabe onde está, enganos no tempo, enganos de localidades, confunde o futuro com o passado, confunde presente com passado, os lugares lhe parecem estranhos. As coisas familiares parecem estranhas, desconhece as pessoas, erro sobre sua identidade pessoal.
Existe uma citação de Picasso, que ao final de sua vida, após exercer todo o seu enorme talento pintando e criando telas rebuscadas e complexas, ao pintar a pomba da Paz, disse: “Gastei toda uma vida para pintar como uma criança”, lembrando a conflitiva de Cicuta Virosa, a busca da essência simples da vida. Elaborando caminhos difíceis e complicados, por vezes tortuosos, entretanto ao encontrar sua paz interior, reconhece e demonstra que a felicidade e o encontro com o seu “eu” estavam na simplicidade de encarar a vida; de um modo infantil e ingênuo(o quanto foi contraditória e excêntrica a vida deste gênio da pintura.
Na sua sintomatologia geral, o descontrole energético persistirá, apresentando uma grande dificuldade de controlar todos os músculos de seu corpo, desenvolvendo estrabismo, epistaxes com espirros incontroláveis, ranger de dentes, engasgando ao engolir, tendo fome depois de comer, náuseas enquanto come, cólicas intestinais, ardor e distensão abdominal, sangramentos digestivos, testículos retraídos, poluções eróticas, sensação de sacudidas do útero, espasmos de musculatura torácica, palpitações.
Existem três plantas medicinais da família das umbelíferas, vulgarmente chamadas de Cicuta. Possuem propriedades terapêuticas muito diferentes:
A Cicuta Virosa, o Conium Maculatum (grande Cicuta) e a Aethusa Cynapium (pequena Cicuta).

Abaixo uma pequena descrição das:

Aethusa Cynapium – é usada para bebês que não toleram leite, que tem vômitos súbitos (com sonolência e fraqueza após o vômito), diarreia, cólica extrema e convulsões. O leite pode ser vomitado após  ter sido ingerido, ou pode ficar um pouco de tempo sendo que será devolvido em coalhos azedos. Observa-se que existe inabilidade para manter a cabeça em pé.
As convulsões são peculiares, os olhos ficam virados para cima, as pupilas dilatadas, a face avermelhada, os dentes apertados, a boca espumando e o pulso fino e rápido.
É usada em casos de antecipação antes de exames, quando a pessoa se sente incapaz de pensar e de reter uma ideia, chegando a seu limite de assimilação mental, ficando paralisada, sem conseguir realizar nada. (Cabe a diferenciação de Argentum Nitricum em que a ansiedade e preocupação com premonição de fracasso, só que não ocorre esta paralisia de Aethusa, pois Argentum, assim que inicia sua tarefa, adquire confiança conseguindo termina-la bem).

A violência é marcante nos vômitos, nas convulsões, nas dores e nos delírios; ocorrendo depois alternância de estupidez com furor. Só que na Cicuta Virosa, há exacerbação tanto da ambivalência de sintomas quanto da violência dos mesmos.


Conium Maculatum – Para descrever esta droga, nada melhor do que a descrição de Platão a respeito da condenação de Sócrates a tomar a grande Cicuta que é Conium Maculatum, Platão disse: “Quando Sócrates viu o homem destinado a lhe ministrar o veneno aproximou-se dele, perguntando confidencialmente: ‘Dize-me tu, que tens bastante experiência, o que preciso fazer?. E então o homem lhe explicou: ‘ nada mais do que ingerir o líquido, andar de lá para cá até sentir as pernas bem cansadas, então deitar-se de costas e aguardar o restante efeito da droga’. Sócrates, assim o fez. Colocando o cálice nos lábios, ingeriu todo o conteúdo, sem fazer careta, nem alterar a fisionomia. Tendo feito isso, se pôs a caminhar, e logo sentindo suas pernas fracas, deitou-se e cobriu-se. Nesse instante o homem que lhe havia trazido o veneno começou a apalpá-lo. Quando lhe apalpou os pés, perguntou-lhe se o sentia, e Sócrates respondeu-lhe que não.  Nos disse que estava  esfriando e quando o efeito atingisse a altura do coração, estaria aliviado da vida. Quando toda a parte inferior do corpo estava fria, Sócrates se descobriu... Depois teve uma convulsão. Seus olhos mostravam um brilho apagado. Quando Criton viu isto, aproximou-se e lhe cerrou os olhos e a boca. Sócrates estava morto”

O Conium Maculatum convém a pessoas prematuramente envelhecidas, deprimidas, ansiosas e tristes, com hipocondria e histeria, cujos sintomas se desenvolvem a partir da abstinência sexual ou da livre complacência do instinto sexual. Está bem clara a relação dos sintomas da esfera sexual com Conium, onde observamos um desejo sexual intenso com ideias e sonhos eróticos e por outro lado, impotência. Explicando seu uso para solteiros, viúvos e celibatários.

São pessoas ressentidas, voltadas ao passado, com aversão a companhia e agravação pelo consolo, padecendo por desenganos amorosos (não por um caráter afetuoso e sim por sua fraqueza psicofísica). Aqui cabe diferenciá-lo de Natrum Muriaticum, que é muito mais ressentido, afetuoso, tendo agravação pelo consolo, mas que padece por cólera com pena silenciosa. Podemos dizer que Conium Maculatum é um Natrum Muriaticum sofrendo por repressão sexual.

Conium Maculatum ofendem-se facilmente, não toleram ser contrariados, tendo seus sintomas agravados pela manhã.

Na esfera digestiva apresentam-se com falta de apetite, dispepsia fermentativa, vômitos de muco espesso e frialdade no ânus durante flatos e evacuação.
Costumam ter sonolência de dia e dificuldade para dormir à noite.

Organicisticamente muito usado para tumores de mama, tumores fibrosos de útero, epitelioma de pálpebra e afecções glandulares malignas. Excelente medicamento para vertigem aparecendo quando vira a cabeça e os olhos, melhorando quando permanecem imóveis com os olhos fechados. Fraqueza dos membros inferiores de forma ascendentes, com tremores e formigamentos.

Conium Maculatum tem uma ação profunda que a mente fica extenuada tanto quanto os músculos, apresentando inabilidade para suportar qualquer esforço mental ou para concentrar a atenção (formas passivas de insanidade).
A intoxicação pelo Conium Maculatum causa paralisia ascendente que se inicia nas pernas, levando à morte por paralisia da musculatura respiratória, enquanto o cérebro permanece vivo.

Patricia Jorge Alves
Terapeuta Homeopata











INSTITUTO CULTURAL IMHOTEP