“Os
fenômenos da vida podem ser comparados a um sonho, a um fantasma, a uma bolha,
a uma sombra, a uma orvalhada cintilante ou a um raio luminoso, e como tal
deveriam ser contemplados.” Buda (O
Sutra Imutável)
Buda ensinava que a única função da
vida é a luta pela vitória sobre o sofrimento. Empenhar-se em superá-lo deve
ser a constante preocupação do homem.
Após tentá-lo mediante o ascetismo
mais austero e as disciplinas mais rígidas, o jovem Gautama afastou-se do
monastério com alguns candidatos desanimados e foi meditar calmamente, logrando
a Iluminação.
Estabeleceu a teoria do 'caminho do
meio' para alcançar a paz. Nem mais a austeridade cruel, nem as dissipações
comuns, mas o equilíbrio da meditação.
Voltou-se então para a libertação
dos homens e estabeleceu as quatro Nobres Verdades: o sofrimento, suas origens,
a cessação do sofrimento e os caminhos para a libertação do sofrimento.
Segundo as suas reflexões, o
sofrimento se apresenta sob três formas diferentes: o sofrimento do sofrimento;
o sofrimento da impermanência e o sofrimento resultante dos condicionamentos.
O sofrimento do sofrimento é
resultado das aflições que ele mesmo proporciona.
A dor macera os sentimentos, desencoraja as estruturas psicológicas
frágeis, infelicita, leva a conclusões falsas e estimula os estados de
exaltação emocional ou de depressão conforme a estrutura íntima de cada vítima.
Apresenta-se sob dois aspectos:
físico e mental, na imensa área das patologias geradoras de doenças. Nesse
caso, o sofrimento é como uma doença e resultado dela.
As doenças, porém, são inevitáveis
na existência humana, em razão da constituição molecular do corpo, dos
fenômenos biológicos a que está sujeito nas suas incessantes transformações.
A abrangência da ação da matéria
sobre o espírito particularmente nos estágios mais primitivos, enseja
sofrimentos constantes face às doenças físicas contínuas e às distonias mentais
freqüentes.
À semelhança do buril agindo sobre a
pedra bruta e lapidando-a, as doenças são mecanismos buriladores para a alma
despertar as suas potencialidades e brilhar além do vaso orgânico que a
encarcera.
Nessa área, a ciência médica
alcançou um elevado patamar do conhecimento, debelando antigas enfermidades que
dizimavam milhões de existências e alucinavam multidões.
A lucidez do diagnóstico, a
habilidade cirúrgica, a farmacopéia rica e as diversas terapias
alternativas têm contribuído com um
grande contigente de socorro para atender os enfermos. Embora os surtos
periódicos de antigos males e o surgimento de outros que aimprevidência gera,
essa conquista expressiva contribui para que tal sofrimento seja atenuado.
Na área das psicopatologias a visão
humana é hoje mais benigna do que no passado, considerando o enfermo mental um
ser humano, e como tal prossegue, ainda que momentaneamente tenha perdido a
identidade, o equilíbrio, com o direito de receber assistência, oportunidade a
amor.
Multiplicaram-se, lamentavelmente,
porém, os distúrbios existenciais, comportamentais, na
área psicológica, nascendo a chamada geração
neurótica perdida no mare magnum das vítimas do sexo em desalinho, das drogas
alucinantes, da violência e agressividade urbanas, do cinismo desafiador.
Os avanços tecnológicos não
bloquearam os corredores do desespero; a cultura hedonista, fria em relação ao
valores morais, e as guerras contínuas fomentaram o medo, a insatisfação, o
desespero, as fugas emocionais.
A juventude insegura tornou-se-lhe a
grande vítima a um passo da depressão, da loucura, do suicídio.
Ao lado das diversificadas
patologias desesperadoras do momento os fenômenos psicológicos de desequilíbrio
alastram-se incontroláveis.
O Ser Humano passou a sofrer o
efeito desses sofrimentos que se generalizaram.
A doença, todavia, é resultado do
desequilíbrio energético do corpo em razão da fragilidade emocional do espírito
que o aciona. Os vírus, as bactérias e os demais microorganismos devastadores
não são os responsáveis pela presença da doença, porquanto eles se nutrem das
células quando se instalam nas áreas em que a energia se debilita. Causando fraqueza
física e mental, favorecendo o surgimento da doença, por falta da restauração
da energia mantenedora da saúde. Os medicamentos matam os invasores, mas não
restituem o equilíbrio como se deseja, se a fonte conservadora não irradia a
força que sustenta o corpo.
Momentaneamente, com a morte dos
micróbios, a pessoa parece recuperada, ressurgindo, porém, a situação, em outro
quadro patológico mais tarde.
A conduta moral e mental dos homens,
quando cultiva as emoções da irritabilidade, do ódio, do ciúme, do rancor, das
dissipações, impregna o organismo, o sistema nervoso, com vibrações deletérias
que bloqueiam áreas por onde se espraia a energia saudável, abrindo campo para
a instalação das enfermidades, graças à proliferação dos agentes viróticos
degenerativos que ali se instalam.
Quase sempre as terapias
tradicionais removem os sintomas sem alcançarem as causas profundas das
enfermidades.
A cura sempre provém da força da
própria vida, quando canalizada corretamente.
As tensões físicas, mentais e
emocionais são, igualmente, responsáveis pelas doenças – sofrimento que gera
sofrimento.
O homem, desde as suas origens
sociais, aprende a ter medo, a conservar mágoas, a desequilibrar-se por acontecimentos
de somenos importância, desarticulando o seu sistema energético. Passa de um
aborrecimento para outro, cultivando vírus emocionais que facultam a instalação
dos outros, degenerativos, responsáveis pelo agravamento das suas doenças.
Os condicionamentos, as idéias
pessimistas, as crenças absurdas, as ações vexatórias são responsáveis pelas
tensões que levam à desarmonia.
Evitando essas cargas, o sistema
energético-imunológico liberará de doenças o indivíduo, e a sua vida mudará,
passando a melhorar o seu estado de saúde.
As causas profundas das doenças,
portanto, estão no indivíduo´memso, que se deve auto-examinar, autoconhecer-se
a fim de liberar-se desse tipo de sofrimento.
De imediato há o prazer que gera
sofrimento.
O cotidiano demonstra que a busca
insaciável do prazer constitui um tormento que aflige sem compensação. Quando se
tem a oportunidade de fruí-lo, constata-se que o preço pago foi muito alto e a
sensação conseguida não recebeu retribuição correspondente.
Ademais, há aquisições que
proporcionam prazer em um momento para logo se transformarem em dores acerbas.
E o responsável por esse resultado é a ilusão. A maioria dos sofrimentos
decorre da forma incorreta por que a vida é encarada. Na sua transitoriedade,
os valores reais transcendem ao aspecto e à motivação que geram prazer.
Esse é o sofrimento da impermanência
das coisas terrenas. Esfumam-se como palha ao fogo, atiçado pelo vento, logo se
transformando em cinza flutuando no ar.
Para conseguir desfrutar de
determinado prazer o indivíduo investe além das possibilidades, constatando, depois,
quantas dificuldades tem a enfrentar para manter essa conquista. A luta para
possuir um automóvel último modelo expõe-no a compromissos pesados para o
futuro. A imaginação estimula-o com a ilusão da posse para averiguar, passado o
prazer, que não tem condições para preservar o veículo adquirido, ou os móveis,
ou a residência, enfim, tudo quanto é impermanente e brilha com atração apenas
por um dia...
Medidas as possibilidades sem
sacrifícios, é factível constatar até onde pode aventurar-se, sem os riscos de
sofrer dores e arrependimentos tardios.
Essa visão correta, realista, que se
adquire da existência, emoldura-a de harmonia. No entanto, a fantasia
injustificada responde pelo choque inevitável com a realidade.
Certamente, a cautela nas decisões
não se pode converter em medo de agir, em cultivo de pessimismo para o futuro.
São a ambição irrefreada, a precipitação, a falta de controle, que abrem
espaços emocionais para o prazer que gera dor.
Aí estão os vícios sociais e morais
estiolando vidas, produzindo a lassidão dos sentidos e, a médio, curto ou longo
prazo conduzindo à loucura, ao autocídio. São alguns deles o inocente cigarro
de exibição no grupo social como afirmação da personalidade, eliminação de tabu,
respondendo por graves problemas respiratórios, cânceres, enfisemas pulmonares;
o prazer etílico gerador de ressacas tormentosas, cirroses hepáticas, úlceras
gástricas e duodenais, distúrbios intestinais e outros, além das alucinações
que levam à violência, à depressão, à destruição de outra vida e tudo quanto é
caro, precioso, com resultados funestos; as drogas, que escravizam,
iniciando-se as dependências nas primeiras tentativas que parecem proporcionar
prazer, estimulando a alegria, a coragem, a realização, vitórias fugidias sobre
os fortes conflitos psicológicos, logo se convertendo em desgraças, às vezes,
irremediáveis...
O engano de considerar-se
invencível, superior, provando o desconhecimento da fragilidade e da
impermanência do conjunto que o constitui, especialmente de seu corpo, faculta,
ao ser, prazer mentiroso, que o desperta sob grande sofrimento.
Ninguém escapa às conjunturas que
constituem a vida. Programada de forma a educar e fortalecer, seus aprendizes
não a podem burlar indefinidamente.
Enfrentar as vicissitudes e superar
os valores indicativos de prosperidade, de prazer injustificável, eis como
poupar-se ao sofrimento. É certo que um número significativo de prazeres se
apresenta, sem riscos de converter-se em fator afligente.
O sofrimento, portanto, quando se
tem dele consciência, é facilmente evitável.
O sofrimento resultante do
condicionamento abarca a educação incorreta, a convivência social pouco
saudável, que propiciam agregados físicos e mentais contaminados.
A escala de valores, para muitos
indivíduos, apresenta-se invertida, tendo por base o imediato, o arriscado, o
vulgar e o promíscuo, o poder transitório, a força, com relevantes para a vida.
Os seus agregados, sob altas cargas de contaminação, produzem sofrimentos
físicos e mentais duradouros.
As festas ruidosas atraem a atenção,
as companhias jovens e irresponsáveis despertam interesse, as conversações
chulas produzem galhofa, que são satisfações de um momento, responsáveis por
sofrimentos de largo porte.
Ao mesmo tempo, a contaminação
psíquica e física, derivada dos condicionamentos doentios dos grupos sociais e
dos indivíduos, promove sofrimentos, que poderiam ser evitados.
A irradiação mórbida de uma pessoa
enviando à outra energia negativa, termina por contaminá-la, caso esta não
possua fatores defensivos, reagentes, que procedem da sua conduta mental e
moral edificante.
O homem vive na Terra sob a ação de
medos: da doença, da pobreza, da solidão, do desamor, do insucesso, da morte.
Essa conduta é resultado de seu despreparo para os fenômenos normais da
existência, que deve encarar como processo da evolução.
Herdeiro da própria consciência, é
também legatário dos atavismos sociais, dos hábitos enfermos, dentre os quais
se destacam esses pavores que resultam das superstições, desinformações e
ilusões ancestrais, formando os condicionamentos perturbadores.
Absorvendo e impregnando-se desses
fatores negativos, os sofrimentos apresentam-se-lhe inevitáveis, produzindo
distúrbios psicológicos, mentais e físicos por somatização automática.
A educação calcada nos valores
ético-morais, não-castradora, que estimule a consciência do dever e da responsabilidade
do indivíduo para com ele próprio, para com o seu próximo e para com a vida,
equipa-o de saúde emocional e valor espiritual para o trânsito equilibrado pela
existência física. Esse conhecimento prepara-o para que saiba selecionar o que
lhe é útil e saudável, ajudando-o no crescimento interior para a sua realização
pessoal. Enquanto este discernimento não se transformar em força canalizadora
para o seu bem, o individuo experimentará o sofrimento resultante do
condicionamento, que lhe advém dos agregados físicos e mentais contaminados.
Patricia
Jorge Alves
Terapeuta
Homeopata
Nenhum comentário:
Postar um comentário