terça-feira, 7 de dezembro de 2010

RICHARD WAGNER


                                                                                         

                                                                          
                                    
                                         

Na data de 22 de Maio de 1813 em Leipzig, nasceu Richard Wagner, nona criança da família, em meio aos estrondos das armas e do início da “Batalha das Nações”. Napoleão que na véspera perdera vinte e cinco mil combatentes; havia vencido, com dificuldades, a batalha de Boutzen em 21 de maio de 1813. Essas perdas acrescentadas ao levante da Prússia e à insurreição espanhola, mostram bem o declínio da glória imperial.
As semanas seguintes foram as piores, devido às hostilidades cada vez maiores, que levavam a família a seguidas mudanças, à dispersão e ao luto. Albert, o filho mais velho deles, foi para longe da família em um internato em Meissen. Joana Wagner e seus filhos pequenos foram acolhidos em Dresden por Ludwig Geyer, o amigo fiel da família, que se tornara por alguns anos um segundo pai. Logo de volta a Leipzig (onde os hospitais, as escolas e os templos estavam repletos de feridos, e onde os cadáveres dos cavalos não eram nem mais retirados das ruas), surgiu uma epidemia de Tifo que foi fatal para Friedrich Wagner,o filho mais jovem, de apenas 6 meses.
Os nomes das cidades e os anos nos trazem outras referências:
 - Meissen, a cidade natal de Hahnemann, que estava com 58 anos em 1813.
 - Leipzig, onde Hahnemann tratou e curou pela Homeopatia os cidadãos que foram atingidos nas epidemias de tifo e de cólera e, onde em 1805, publicou “Fragmentos sobre os efeitos positivos de medicamentos no homem são”.
- Dresden, onde em 1810, publicou a primeira edição do “Organon da Arte Racional de Curar” e depois , em 1811, a primeira parte da “Matéria Médica Pura”.
Todos os autores, musicólogos, historiadores e biógrafos que estudaram a vida e obra de Wagner, evidentemente salientaram o clima de violência, guerra, insegurança e morte durante o qual ele passou os primeiros anos de sua vida. Antes de completar 09 anos havia perdido seu pai, sua irmã Theresia (4 anos) e aquele segundo pai que havia reunido a família, e também sua avó. Ele, portanto tinha mudado uma dezena de vezes de domicílio e de escola, esteve próximo de vários tios e tias.
Depois de tudo isso, não ficaremos surpresos ao saber que ele tinha crises súbitas de medo, que era hipersensível aos ruídos da natureza, que tinhas terrores noturnos e pesadelos e que, próximo dos 15 anos, compôs uma peça dramática onde morreram, no mínimo, quarenta e duas pessoas.
Era uma criança robusta, com crânio volumoso, pernas delgadas e problemas de crescimento(chegou ao máximo a um metro e sessenta e quatro), “tendo freqüentemente crises de erisipela facial, agravadas pelas mudanças de tempo, principalmente pelo frio invernal”. Seriam esses sintomas uma indicação, mostrando a transferência dos seus inúmeros traumatismos psíquicos? A vivência em meio ao fogo durante a guerra iria estourar no titanesco fogaréu do “Crepúsculo dos Deuses” – peça que faz parte da tetralogia O Anel dos Nibelungos , ópera dramática de Wagner.
Sua receptividade precoce pela música não nos surpreende, sabendo-se que era originário de uma família de melomaníacos e de músicos, e que freqüentava não apenas os compositores e solistas de renome, mas também os membros de sociedades de concertos. Dos sete filhos vivos de Friedrich e Johana Wagner, cinco foram cantores ou músicos profissionais e Richard, o gênio musical que conhecemos, sem no entanto ter adquirido a maestria em um instrumento, só se interessava pelas atmosferas musicais.
Richard Wagner, uma criança, depois um adolescente, bem dotado mas com resultados irregulares devido à instabilidade na sua aplicação, com um espírito vivo e curioso e imaginação original, mas com um temperamento difícil, suscetível, irascível, intolerante à contradição e com medo da solidão, tendo uma imensa necessidade de um ambiente cordial, às vezes perturbado pelas suas variações de humor.
É nesta época que, entre 13 e os 17 anos, e mais uma vez devido às reviravoltas familiares, ele sai de Saxe e vai para Praga.
Este é um período perturbado. O adolescente, deixado a sua própria sorte, exaltou-se com as alternâncias entre imensos impulsos sensuais e castos sonhos amorosos e sofreu a influência de maus elementos e, devido à sua impulsividade costumeira, acabou por acompanhá-los nas bebedeiras. Como a grande maioria da juventude intelectual atingida pelas trágicas desigualdades sociais, Wagner também incorporou as idéias revolucionárias de “liberdade” semeadas pela França.
No ano de 1830, Wagner estava com 17 anos. Tomado há muito tempo pelo daïmon (em Alemão no original significado demônio) da poesia dramática, toma consciência de sua necessidade interior de unir a linguagem poética e a linguagem musical, em uma complementaridade indissolúvel.
Tentou desta forma, realizar esta união, sonho sempre perseguido, com a condição de nada renunciar de si mesmo.
E assim fez, não abandonando, a não ser no limite extremo das suas forças, nem a abundante produção dos seus textos artísticos e filosóficos, nem a prodigiosa obra poética representada pela redação dos seus cadernos de óperas. Com isso, descobriu e renovou seus recursos técnicos de expressão musical entre 1832(com a composição de sua Sinfonia em Ut maior) e 1882 (com a conclusão da obra Parsifal), apenas um ano antes de sua morte.
Durante estes cinqüenta anos de textos literários e musicais, Wagner passou tanto por fases onde se sentiu impregnado por inspirações extraordinárias, quanto por outras onde se sentiu abatido pelo desânimo, ou até mesmo pelo desespero, sentindo-se desprovido do poder inventivo, pensando, às vezes, que até era “maldito”, por causa de todas as suas falhas.
Encontram-se freqüentemente, as típicas alternâncias de humor: excitação hipomaníaca, projetos às vezes megalomaníacos e períodos depressivos. Nos momentos em que duvidava de sua criatividade e da sua obra, seu pavor da esterilidade de inspiração podia se exprimir através de acessos de raiva orgulhosa, por intensas crises de ciúmes(principalmente contra o Meyerbeer, cujo sucesso o exasperava) e contra tudo que representasse o risco de se encontrar frente a um obstáculo colocado diante de suas aspirações complexas e opostas.
Voltava-se, então, contra seus rivais reais ou supostos, proferindo apreciações apaixonadas, odiosas e desprezíveis, sem desconfiar do que poderiam sentir os infelizes destinatários.
É fácil perceber como no emaranhado de uma existência bastante conhecida, e na qual contribui amplamente na divulgação dos incidentes e das múltiplas variações artísticas, políticas e sentimentais.
Desde 1854, em uma carta à Liszt, Wagner escrevia: “Nenhum destes últimos anos transcorreu sem que, pelo menos uma vez, tenha me passado pela cabeça a solução extrema, sem que eu tenha imaginado colocar um fim na minha vida”.
Sem esperar os excessos e as fases dramáticas da grande patologia maníaco- depressiva, é bem evidente que esta organização de caráter é uma das mais ricas expressões, que represente bem Richard Wagner.
Em setembro de 1822, estava morando em Veneza, no palácio Vendramin, com Cosima, sua segunda esposa, e seus filhos Isolda, Eva e Siegfried, com 13 anos.
Ainda não tinha 70 anos mas sentia-se esgotado, com humor triste e amargurado, mas não resignado, ainda sujeito a crises de nervos súbitas, e mantendo ainda seu gosto pela escrita e o projeto de modificar certas passagens de Tannhaüser.
Tinha penosas crises de mal- estar: “Cãibras” cada vez mais freqüentes e violentas atravessavam seu peito. Seu sofrimento era indescritível. Arrastava-se com dificuldade pelas ruelas e praças de Veneza, andava lentamente e parava com freqüência, levando a mão ao peito. O sofrimento e o esgotamento obrigavam-no a se sentar constantemente.
Lendo este trecho no Diário de Cosima, a admirável perfeição das imagens de Visconti em Morte em Veneza  se sobrepõem na nossa mente aos dolorosos encantamentos de Tristan ( ou como dizia Thomas Mann, à “beleza azul-prateada do prelúdio de Lohengrin”). É Richard Wagner ou Gustav Aschenbach que tropeça na Piazetta?
As semanas passam com dificuldade. Na noite de 12 de fevereiro de 1883, com uma insônia, agitado, ele se levanta, vai ao Piano e toca e canta o tema queixoso: Ouro do Reno! Ouro do Reno!
No dia seguinte, 13 de fevereiro, próximo das 14 horas, queixa-se novamente de “cãibras”. Às 15 horas pede ajuda, pois acabava de ter um infarto.
O Dr. Keller, médico da família, falou de uma “imensa cardiectasia adiantada, de uma importante dilatação do ventrículo direito, de um meteorismo gástrico intenso e de uma hérnia”. “Evitei ao máximo que pude um tratamento farmacêutico, pois tinha o mau costume de tomar freqüentemente, e em grande quantidade, os inúmeros e fortes medicamentos, que lhe prescreviam os vários médicos que tinha consultado anteriormente.”
Vários Médicos? Podemos sonhar, já que entre 1839 e 1841, Wagner morava em Paris. Poderia ter consultado um bom médico, seu compatriota e vizinho em Saxe, Samuel Hahnemann....

Patricia Jorge Alves
Terapeuta Homeopata

INSTITUTO CULTURAL IMHOTEP