PRINCÍPIO DE INFINITESIMAL
Dentre os princípios que regem a homeopatia, aquele que provoca mais discussões apaixonadas é o princípio de infinitesimalidade. Como aceitar que soluções cada vez mais diluídas até limites inconcebíveis possam manter uma atividade terapêutica?
Definir a infinitesimalidade traduz-se por dar limites ao que, etimologicamente, não os tem. O termo infinitesimalidade está ausente do dicionário; figura apenas o adjetivo infinitesimal, termo retirado da língua inglesa e que significa “extremamente pequeno”. Ele vem do latim, finis (“baliza”), expressando no sentido próprio, o limite de um campo ou de um território,e, no sentido figurado, o termo, a meta. Finire é, traduzido por “delimitar”, e infinitus, por “sem limites, indeterminado”. O termo “infinitesimalidade”, com a noção de desconhecido e até de “vago”, “impreciso”, é capaz de preocupar e chocar médicos e pesquisadores que não escolhem explorar de imediato um mundo científico radicalmente novo e cujos pontos de referência devem ser inteiramente elaborados.Infinitas é a “imensidão”. Quanto ao infinito , é um conceito facilmente administrado pelas ciências matemáticas, que não experimentam nenhum embaraço com isso, provando, assim, que ele é compreendido pelo ser humano. Não sendo estranho ao homem, o infinitesimal não pode e não deve ser estranho ao médico. A infinitesimalidade é um assunto inteiramente justificado na pesquisa científica e médica.
Em Homeopatia, a noção de infinitesimalidade aplica-se à preparação dos medicamentos que serão administrados segundo o princípio da similitude. Os medicamentos são diluídos sucessivamente a 1/100 (centesimal hahnemaniana) em álcool a 70º, um número considerável de vezes. Isso tem como conseqüência a administração de doses extremamente fracas do produto de origem. A partir de um determinado número de diluições, a presença de moléculas é mesmo improvável.
“ Não é em virtude de uma opinião preconcebida, nem por amor da singularidade, que me decidi em favor de doses diluídas, tanto para o quinino ( China offic.) tanto para qualquer outra substância. Cheguei a isso após experiências e observações muitas vezes renovadas, e elas me demonstraram que maiores quantidades de medicamentos, mesmo nos casos em que elas fazem bem, agem com mais intensidade do que o necessário para obter a cura. Assim, as diminuí, e como eu sempre observava os mesmos efeitos, desci até as doses mínimas que me pareciam suficientes para exercer uma ação salutar, sem agir com uma violência capaz de retardar a cura.” Hahnemann - Organon
A demonstração experimental por Hahnemann e seus alunos de uma atividade curativa de diluições cada vez maiores das substâncias de origem vegetal, animal e mineral, escolhidas de acordo com o quadro de sintomas que elas desenvolvem no sujeito sadio.(patogenesias).
O método hahnemaniano é preparado com frascos separados, comporta uma agitação muito forte, chamada dinamização. A técnica consiste em bater o fundo do frasco em posição vertical com golpes secos sobre uma superfície firme, cem vezes, chamadas de diluições centesimais(diluições sucessivas a 1/100).
É natural que as diluições infinitesimais utilizadas em homeopatia tenham provocado críticas desde sua introdução em terapêutica.
Quando não encontramos mais moléculas em uma dinamização homeopática pelo método da sucussão temos a memória medicamentosa instalada “in vitro”.
Diluições totalmente desprovidas de moléculas são, portanto, capazes de transmitir uma informação; os fatos experimentais estão aí para demonstrar a realidade do fenômeno. É necessário tentar compreender qual poderia ser o suporte material dessa informação. Cinco áreas de pesquisa estão envolvidas: a memória dos átomos, o crescimento fractal, o método do grupo de renormatização, aplicado aos fenômenos físicos de acordo com as escalas de comprimento, a física relativista e o movimento browniano, e a eletrodinâmica quântica.
Se analisarmos nossas células contém memórias de todo o universo, somos compostos por elementos químicos que estão nas estrelas, planetas, nas rochas, plantas, em todos os lugares. Fazemos parte de um todo.
Existe um equilíbrio delicado e dinâmico entre todas as formas de vida e o ambiente.
“O DNA é que controla a vida. Na verdade, a epigenética, que é o estudo dos mecanismos moleculares por meio dos quais o meio ambiente controla a atividade genética, é hoje uma das áreas mais atuantes da pesquisa científica em geral.”
O que muitos cientistas ainda consideram antropomorfismo, ou melhor, citopomorfismo, eu chamo de “biologia 101” . Você pode se considerar um indivíduo, mas eu digo que seu corpo físico é uma grande comunidade cooperativa de aproximadamente 50 trilhões de células e que a maioria delas vive como amebas, ou seja, organismos que desenvolvem uma estratégia cooperativista para a sobrevivência de todos. Assim como uma nação reflete as características de seus cidadãos, nossa condição humana reflete a natureza de nossa comunidade celular.
Embasado nesse raciocínio, as nossas reações emocionais, mentais, comportamentais e biológicas reagem em cadeia. Se na Malásia por exemplo está acontecendo um foco de meningite, conseqüentemente nos afetará com muita rapidez. Vou mais longe, criamos forma pensamento e damos vida. Hahnemann chamou de “miasmas”. Muitas vezes vibramos pela nossa maneira de agir, pensar e sentir em algum adoecimento, exemplo, o câncer que hoje em dia é muito comum entre os seres humanos. As células estão destruídas e há uma guerra dentro do organismo para promover a cura, então sua vida, seus pensamentos, sentimentos e ações como estão? Mágoas, raiva, indignação, orgulho em não aceitar as coisas, querer se impor sempre com arrogância e prepotência, agressividade etc. Somos responsáveis pelo que acontecemos conosco.
O medicamento homeopático contém a memória energética, ao tomarmos, vibraremos em uma freqüência maior e semelhante, onde o restabelecimento do desequilíbrio acontecerá.
Todos os pesquisadores podem incluir em seus trabalhos a Homeopatia, que se tornou realidade, mas será necessário associar ao estudo das diluições, como suportes da informação; será preciso verificar se o paradigma mecanicista não é um entrave à progressão da inteligência da Homeopatia. Refugia-se no mundo dos objetos traz o risco de limitar o campo interpretativo de uma terapêutica da globalidade e do ser vivo. Um novo paradigma, o paradigma do sentido, nos propõe uma nova abordagem do ser vivo; fundada na comunicação sensível em que o corpo e a mente se organizam em torno das trocas significantes de informação; ele pode ser proposto para especificar a finalidade da informação veiculada pelas diluições infinitesimais.
Patricia Jorge Alves
Hahnemann concebia a força vital pela qual somos governados como superior à natureza inanimada de outros corpos, porém ela seria inacessível aos sentidos. A sua afirmação de que a doença é “dinâmica e imaterial” prova simultaneamente que ela é cognoscível, “a natureza íntima desta perturbação”, e que somente os efeitos desta perturbação “nas nossas funções e sentimentos” podem ser detectados para possibilitar a cura. Deste raciocínio depreende-se que somente uma oposição de força “igualmente energética” poderá promover a cura por meio da Lei dos Semelhantes. Para Hahnemann e para os vitalistas do século XIX, a energia corresponde ao primeiro movimento das atividades dos seres vivos que regem suas sensações e funções. Hahnemann recusa-se e entregar todo o seu projeto vitalista, como constatamos em seu texto de 1813 traduzido como “O Espírito Da Doutrina Médica Homeopática”.
“A vida humana não é, de forma alguma, regulada por leis puramente físicas que só imperam entre as substâncias inorgânicas.”
“Aqui um poder fundamental inominável reina onipotente e suspende toda tendência das partes componentes do corpo para obedecer às leis de gravitação, do momentum, das vis inertiae, da fermentação da putrefação, etc. e as coloca sob as maravilhosas leis da vida, sozinha. Em outras palavras, mantém-nas sob as condições de sensibilidade e atividade necessárias para a preservação do ser vivo completo, uma condição quase espiritualmente dinâmica...”
“Então torna-se óbvio que as doenças excitadas pela influencia especial e dinâmica dos injuriosos agentes morbíficos podem somente ser originadas dinamicamente(causadas quase unicamente por um processo espiritual) perturbando o caráter vital de nosso organismo.”
Hahnemann identifica, na nota do parágrafo 22 do “Organon”, a energia vital como a única possibilidade de expressão e de produção de sintomas.
“A energia vital, deprimida morbidamente, possui tão pouca habilidade curativa digna de imitação, posto que todas as mudanças e sintomas produzidos por ela no organismo são a própria doença.”
O vislumbramento de uma totalidade viva pressupunha um modelo de organização cósmica inteligente e ordenadora; e a idéia do Criador, além da possibilidades humanas de apreensão, integravam este entendimento. Hahnemann critica no parágrafo 13 aquilo que definiu como os “entendimentos materialistas” que baniram o entendimento correto das propriedades medicinais das substâncias para um pesado ostracismo, condenando a medicina a 2.000 anos de obscuridades e irracionalismos.
A variabilidade e multiplicidade das formas de seres vivos e até dos seres aparentemente não animados fez com que não só os gregos, mas todos os pensadores da Antigüidade clássica, concentrassem suas observações nos fenômenos qualitativos destes seres; que terminam transformando-se numa tentativa de acercar-se ou entender quem os criou. Estas manifestações qualitativas, estas concentrações especiais de forças, são “as essências” independentes e soberanas que governam os seres vivos; além de possuírem como Hahnemann expõe no parágrafo 9, a propriedade da autocracia.
Estas forças estariam além, no sentido de superioridade e precedência, das outras forças de natureza cósmica, conhecidas até então como mecânica, térmica, elétrica, magnética e química. Estas forças segundo Hahnemann, ainda estariam representadas por sua imaterialidade(“immaterellen”, como o autor escreveu no original).
As escolas filosóficas apresentam os mesmos aparentes contra-sensos que a história dos movimentos científicos; na verdade, as crises do pensamento filosófico são mais sérias na medida em que é no seu esteio que outras são desencadeadas em revoluções constantes, em direção às transições para novas etapas de raciocínio.
No entanto, percebe-se uma linha mestra que conecta todas estas contradições. Somos remetidos, então, ao provável conteúdo primitivo do conflito maior: a existência de um fator limitante da compreensão humana, que faria atribuir e remeter ao inexplicável e ao misterioso, toda matéria litigiosa examinada. Ou seja, tudo que escapa no campo científico termina na vala comum do místico e do esotérico.
O que o estudo da história da medicina nos reserva é de fato um evento único.Por ser a seqüência dos eventos da ciência que trata do humano, ela nos reserva surpresas especiais.
Comecemos com as surpresas polêmicas: uma delas é a morte e a ressurreição cíclica da tradição vitalista, a outra é o advento do princípio da similitude depois de um primeiro recesso de quase 2.000 anos (de Hipócrates a Paracelso), reativado novamente quase 300 anos depois, por meio das pesquisas de Hahnemann.
Para a homeopatia o universo vitalista é mais do que um sistema lógico, ele é a única possibilidade conceitual. CAGUILHEM definiu muito claramente as polêmicas inevitáveis que o vitalismo teria que atravessar, a fim de legitimar-se e consolidar-se.
“Mecanismo e vitalismo se afrontam sobre o problema das estruturas e das funções;a descontinuidade e continuidade, sobre o problema da sucessão das formas;pré formação e epigênesis, sobre o problema do desenvolvimento do ser; automicidade e totalidade, sobre o problema da individualidade.”
CAGUILHEM identifica, confirmando a intuição de toda uma escola de pensadores, o vitalismo com a preservação da totalidade e o mecanicismo com a automatização da individualidade. Portanto, sua percepção do vitalismo acopla-se perfeitamente com o princípio vital hahnemaniano de totalidade, conservando os elementos do ser em unidade para torná-lo lógico, a favor da unidade biológica, estrutural, anímica e dinâmica. O vitalismo de Hahnemann é também racional.
Percebemos ainda que apesar das partes de que somos constituídos agirem dentro de funções determinadas, com sofisticação de especificidades e altamente especializadas dentro de sua esfera de ação, elas atuam com assombrosa sincronicidade. Isso fez um grande pesquisador como o fisiologista americano CANNON, no auge das grandes transformações tecnológicas e industriais que atingiam a medicina, criar o termo homeostasia. Buscando sintetizar uma categoria que expressasse a admirável atividade, razoavelmente harmônica, da qual o organismo goza quando está saudável.
Já o dualismo mecanicista representa, em medicina, a oficialização da separação entre o corpo e o restante do ser, portanto, um modelo filosófico incompatível para o “que fazer” da homeopatia. E aqui importa muito pouco o que Hahnemann insinua que a medicina pode ou não ser dual: tanto a categoria de totalidade como a unidade do indivíduo são, para ele, elementos básicos de sustentação de seu sistema.
O valor real de uma visão vitalista unitária para compreender os fenômenos da saúde e da doença encontram-se nesta fusão, aparentemente incompreensível para uma parcela da ciência, do ser com suas manifestações. Não há duas existências, assim como a matéria e a energia não se antagonizam.
A unidade humana, ao menos para a antropologia homeopática, forma um pacto eficiente. Quando estamos saudáveis a conservação da coesão está relativamente resistente às oscilações internas e externas. Lembremo-nos que a clínica convencional já anatomoclínica. Mas para a homeopatia curar é contemplar uma totalidade que não se restringe à patologia.
O homeopata argentino Vijnovsky comenta:
“que é puramente material, sendo de fato impossível concebê-los existindo separadamente: o corpo, porque sem a energia vital não existiria, estaria morto, e o princípio vital sem o corpo não poderíamos percebê-los com nossos sentidos e, por conseguinte, para nós não existira. De modo que a unidade de ambos é indissolúvel, é um fato que subsiste até que chega a morte para separá-los”.
Se concebermos o fenômeno da morte como elemento de separação entre a vida orgânica e a energética, não se pode especular sobre os eventos que se processam a posteriori do que alcançam nossos sentidos e sensações. Cabe restringir nossas observações aos fenômenos ligados à saúde.
É indispensável para quem quer compreender a homeopatia, é buscar uma ciência da totalidade do sujeito ativo. É possível constatar o bem estar do espírito dos sujeitos tratados.
É necessário não se deixar seduzir pelo “halo místico” que se forma em torno de um tema como este. É racional pensarmos que nosso espírito conduz nosso corpo bem como nossas emoções e conseqüentemente as sensações e reações que produzimos com nosso pensamento, ações e atitudes que tomamos. O corpo age como um drenador e as reações químicas produzidas por ele são comandadas pela força vital.
Esse aspecto da totalidade, da unidade do “ser”, é também um conceito do cerne da doutrina homeopática. É uma das diferenças fundamentais entre a alopatia e homeopatia; diferenciando nitidamente as perspectivas sob as quais uma e outra observarão o ser humano, e suas conseqüências de interpretação e terapêutica. A alopatia observa o órgão, o setor, segmenta o indivíduo (“indivíduo” quer dizer “ não divisível”) e passa a tratar seu coração, sua bexiga, seu sono, ou seu estado de humor, cada um separadamente e por um profissional diferente. A homeopatia enxerga todas as manifestações como um conjunto indivisível. O indivíduo, o ser, é que será tratado; é determinada pessoa que precisa de tratamento, e seu desequilíbrio manifesta-se por seu coração, bexiga,sono e estado de humor, mas é sempre o ser que está doente, e não o órgão.
No prefácio à primeira edição do “Organon da Arte de Curar” Hahnemann escreve:
“...ao comunicar ao mundo esta grande descoberta, sinto muito duvidar de que meus conterrâneos compreendam a seqüência lógica destes meus ensinamentos e os sigam cuidadosamente e assim obtenham para a humanidade sofredora os benefícios infinitos que, inevitavelmente devem provir de uma fiel e acurada observação dos mesmos; ou se, assustados pelo inédito da natureza de muitas destas revelações, eles de preferência deixem-nas sem as provar e sem se iniciarem nelas e, portanto, sem utilidade.”
Hahnemann observou a patologia humana de um ponto de vista global, viu que o mal aflige o ser humano, usualmente tratado por todos esses nomes que damos às patologias, não passa praticamente de um único mal, com “n” formas de se manifestar-se. Para o microuniverso do indivíduo, no qual todas as manifestações representam o desequilíbrio do todo, serve para o macrouniverso da patologia humana. Como se o ser humano como um todo fosse a unidade, e todas as patologias alopaticamente descritas de formas distintas, fossem apenas vários tipos de manifestação do indivisível “gênero humano” desequilibrado, enfim a patologia humana.
Patricia Jorge Alves
Terapeuta Homeopata
Parabéns Patricia, você é mesmo uma destas mulheres precursoras de uma realidade jamais vista.
ResponderExcluirMúcio
Parabéns Patricia, você é mesmo uma destas mulheres precursoras de uma realidade jamais vista.
ResponderExcluirMúcio