“Os
mais inestimáveis tesouros são a consciência irrepreensível e a boa saúde. O
amor à Deus e o estudo de si mesmo oferecem uma; a homeopatia oferece a outra.”
Samuel
Hahnemann
“Seguindo
o preceito de Celso, o médico aplicará à cura das doenças o mesmo tanto de
celeridade e segurança que de doçura: Cito, Tuto ET jucunde.”
Samuel
Hahnemann
Mas, afinal, quem era
Hahnemann?
Cristian Frédéric Samuel
Hahnemann (1755 – 1843) viveu 88 anos em nosso Planeta, levou uma vida austera
de penúria, lutos, humilhações, mas conheceu o fim de sua vida as riquezas da
vida parisiense.
Teve dois amores, Henrietta
e depois Mélanie, mas um só ideal, a arte de curar respeitando o indivíduo.
Não temos a pretensão de
entender todos os impulsos que moveram, ao longo de sua existência, um caráter
tão complexo, nem de nos entregar a algum tipo de psicanálise grosseira. Mas a
partir dos fatos, nascem explicações que não podem deixar-nos indiferentes.
Uma primeira constante
aparece ao longo desta vida movimentada: uma força de aço colocada a serviço
das idéias.
A infância, a juventude
difícil e laboriosa, quase miserável, contribuíam decerto para dar a Hahnemann
essa tenacidade.
As dificuldades do começo
forjaram em Hahnemann um temperamento capaz de resistir às tempestades da vida.
Contam muito as dificuldades
materiais do lar paterno; conseqüência de guerras intermináveis; e o pai
admirado, muito presente em seu papel de educador, mas que periodicamente
questiona os estudos do filho. Para extrema infelicidade dessa criança seduzida
pelos estudos, o pai arranja-lhe trabalho numa mercearia, o que ele não
suportará. Teve então, a intervenção ativa do reitor Müller, para que Hahnemann
pudesse estudar. Teve que lutar muito, ser brilhante para não decepcionar
Müller. Trabalhou como repetidor na escola de Saint-Afra para pagar sua pensão.
Em seguida, vem anos de
estudos médicos em Leipzig e Viena, sendo muito ajudado pelo professor Quarin.
Jovem extremamente inteligente e criativo com um grande entusiasmo para
pesquisas obteve muitas simpatias.
Hahnemann foi incontestavelmente
um diligente trabalhador. Foi um erudito. Seu extraordinário conhecimento de
línguas permitiu-lhe saciar uma intensa sede de saber. Hahnemann falava e
escrevia fluentemente o alemão, sua língua materna, o inglês, o francês e o
italiano. Decifrava o árabe. Além disso, tal como a maioria dos espíritos
cultivados, dominava o latim, o grego e o hebreu. Esse dom lingüístico
assegurou-lhe sua sobrevivência durante os períodos difíceis, traduzindo
livros.
Sobretudo, serviu para que
adquirisse um conhecimento médico enciclopédico.Todas as obras que Hahnemann
publicou estão recheadas de referências históricas, de notáveis citações
extraída de todas as fontes.
Para obter o posto de mestre
de conferência em Leipzig, realizou um enorme trabalho sobre o heléboro,
Veratrum álbum, baseado numa análise aprofundada de todas as aplicações
anteriores desde a remota antigüidade.
Hahnemann é um cientista;
não é um filósofo apesar de seu espírito filosófico. Tem uma abordagem
fenomenológica dos acontecimentos. Opõe-se às grandes doutrinas, às vastas
“teorias que querem tudo explicar sem nada provar”. Sua concepção da força
vital, a dinamis, é muito materialista, embora também seja imaterial. O
paradoxo é só aparente.
Estamos no domínio
energético, no mesmo terreno da eletricidade. Para ele o ser vivo é ternário.
Compreende o corpo, do qual se ocupará, a alma, da qual nunca fala porque não
faz parte do domínio científico, e, finalmente a força vital – conceito
vitalista herdado de Barthez e ilustrado por Bichat. “Força Organizadora
Natural”, energia emanada pelo corpo, que assegura o equilíbrio dos órgãos e a
harmonia das funções fisiológicas e cujo desequilíbrio cria a doença.
Hahnemann, um pesquisador
nato, um homem de ciência. No começo, seu único interesse é a medicina, tratar
seus semelhantes. Estudou para ser médico. Mas a prática médica de sua época
não lhe agradava.
Não tendo qualquer meio
terapêutico válido, abandona o exercício de sua arte.
Hahnemann volta-se para a
química, a bromatologia, a toxicologia. Os manuais que traduz para se sustentar
enriquecem consideravelmente sua bagagem científica e fecundam sua pesquisa. O
vinho não tem mais segredos para ele; descobre todas as adulterações de que o
líquido é alvo. Não dá tréguas ao café, que acusa de todos os males.
Também se
ocupa da higiene citadina. Preconiza a condução das águas, a descarga de
autoclismo, a utilização do carvão de terra, cujas minas são numerosas na
Saxônia. Preocupa-se com as prisões.
Interessa-se muito por
numerosos produtos químicos cujas propriedades corantes são utilizadas na
indústria. Esse interesse devia-se provavelmente a suas lembranças de infância,
quando acostumava acompanhar seu pai à fábrica real de porcelana, podendo
observar o manuseio de todos os pós empregados na decoração e as nefastas
conseqüências para a saúde dos operários. Pintava-se com qualquer precaução com
alvaiade (óxido de chumbo), azul da prússia (cianeto de cobre), vermelho
cobalto, amarelo cromo. Todos esses sais de metais pesados podem, através da
lenta impregnação, causar graves acidentes neurológicos.
A pista desta proximidade
com as doenças profissionais podem ser encontradas em certas patogenesias, como
a do Plumbum metallicum, o “chumbo”, ou a do Cuprum metallicum, o “cobre”.
Entre outros como: Alumina, o “alumínio”; Ferrum metallicum, o “ferro”; Aurum
metallicum, o “ouro”, etc. Quanto à de Graphites, nasce diretamente dos eczemas
observado nos espelheiros de Veneza, que usavam pó de grafite para polir seus
famosos espelhos.
Hahnemann não era só um químico, também tinha algo de
Alquimista. Naquele tempo a Alquimia e a Química estavam interligadas.
Hahnemann recusava com furor
qualquer comparação com Paracelso. Mas notava-se nele a profunda preocupação em
atingir a essência, até mesmo a quintessência da substância medicinal
utilizada, trabalhada, como se faz para a grande edificação.
Foi com seu sogro, o
farmacêutico Häseler, com quem ele obteve sua formação de químico. Encontrou
curiosos produtos químicos, etapas tradicionais na rota do ouro potável, mítico
elixir da imortalidade e garantia de libertação do “eu” profundo.
Foi assim que a farmacopéia
homeopática começou. Citemos Causticum, “espírito acre dos álcalis”, Hepar
Sulphur, “fígado de enxofre” e, o famoso Mercurius solubilis, batizado de
“mercúrio solúvel de Hahnemann”; entre outros.
Esses medicamentos como
todos, são sempre preparados pelos farmacêuticos e receitados pelos homeopatas.
Tem qualidade científica porque muitos deles foram submetidos pelo próprio
Hahnemann a uma rigorosa experimentação patogenética. Podem ser receitados
racionalmente, segundo o critério do princípio da similitude, e “não
intuitivamente”, com base em alguma intuição qualquer.
As descobertas do processo
de potencialização e da Lei dos Semelhantes, feitas por Hahnemann, realmente revolucionaram
a potencialidade científica da terapêutica.
Se refletirmos sobre o fato
de que cada substância tem um campo eletromagnético (desde os organismos
simples até o Planeta como um todo), podemos afirmar que qualquer substância
administrada a uma pessoa tem pelo menos o potencial para afetar o organismo de
duas formas. Por um lado, a substância pode ter um efeito químico, como o que
percebemos nos alimentos, vitaminas, drogas, tabaco, café, etc. E, por outro
lado, pode ter um efeito sobre o campo eletromagnético do corpo, causado pelo
campo eletromagnético correspondente da substância, especialmente se os níveis
de vibração forem suficientemente próximos, tendo a mesma ressonância. O efeito
eletrodinâmico de uma substância em estado natural pode ser muito fraco para
ser notado; por outro lado, pode desempenhar um papel importante em
circunstâncias tais como os banhos minerais, os banhos de mar, os cataplasmas,
etc.
Uma pessoa com um grau muito
alto de sensibilidade, pode reagir de maneira tão violenta que lhe sobrevenha a
morte, ao passo que outra pessoa com menor sensibilidade a substância pode ter
uma reação mais amena. Hahnemann com seus estudos e pesquisas descobriu a
sintomatologia dos envenenamentos, a própria sensibilidade da pessoa a uma
determinada substância pode ser a expressão da ressonância entre a pessoa e a
substância; na homeopatia essa ressonância é utilizada como princípio
terapêutico.
Para produzir resultados
curativos de longa duração, é necessário aumentar a intensidade do campo eletromagnético
do agente terapêutico, ou, em outras palavras, liberar a energia contida na
substância a fim de torná-la mais disponível para a interação com o plano
dinâmico do organismo. Foi nesse ponto que Samuel Hahnemann fez sua segunda
engenhosa contribuição para a medicina, projetando a técnica da
potencialização. Desenvolveu um método bastante simples para extrair a energia
terapêutica de uma substância sem alterar seu grau de vibração. Assim, o
“medicamento homeopático” resultante é uma forma de energia intensificada que
pode ainda ser administrada de acordo com o princípio básico de ressonância da
Lei dos Semelhantes, mas agora com capacidade acentuada para afetar o plano
dinâmico do organismo e, por conseguinte, produzir uma cura duradoura de todo o
organismo.
A primeira grande descoberta
de Hahnemann foi a importância de “experimentar” as substâncias em seres
humanos voluntários e saudáveis para obter uma completa descrição da
sintomatologia da substância. No entanto, a maioria das substâncias potencialmente
úteis são altamente tóxicas em sua ação biológica. Substâncias como o arsênico,
o mercúrio, a beladona, os venenos de cobra,etc. Dispunha-se de alguma
informação sobre os envenenamentos provocados por essas substâncias. Foi nesse
processo de luta que Hahnemann fez sua descoberta.
De início ele tentou diluir
as substâncias. Isso acontecia naturalmente, ao reduzir a toxicidade dos
agentes, mas o processo também reduzia proporcionalmente o efeito terapêutico.
Hahnemann, então, descobriu, de alguma forma, a técnica de adicionar energia
cinética às diluições, agitando, ou seja, por meio da “sucussão”. A essa
combinação da sucussão com a diluição serial, Hahnemann chamou de
“potencialização” ou “dinamização”. A observação decisiva foi a de que, quanto
mais a substância for submetida à sucussão, e diluída, maior será o efeito
terapêutico, enquanto ao mesmo tempo fica neutralizado o efeito tóxico.
As descobertas do processo
de potencialização e da Lei dos Semelhantes, feitas por Hahnemann,
revolucionaram a potencialidade científica da terapêutica. Por um lado, o
princípio da Lei dos Semelhantes virtualmente nos forneceu um método para
combinar as vibrações ressonantes de quaisquer substâncias do meio ambiente com
a do paciente. Com a descoberta feita por Hahnemann de uma técnica para
aumentar indefinidamente a intensidade terapêutica do plano dinâmico, possuímos
agora , um modo de estimular o mecanismo de defesa do paciente com a
intensidade necessária, seja qual ela for, para dominar a intensidade da doença.
Com efeito, a diluição é uma
operação necessária para a homeopatia.
Se quero, segundo o
princípio da similitude, curar por administração de uma dada substância, terei
de receitá-la muito diluída. Do contrário, haverá agravamento por adição de
efeitos tóxicos.
“Um
medicamento cujos sintomas imediatos estarão em perfeita concordância com os da
doença será tanto mais salutar quanto mais sua dose se aproximar da exigüidade
à qual precisa ser reduzida para trazer calmamente a cura.” (Organon, 4ª
edição, § 275)
“Por
um processo que lhe é próprio, a medicina homeopática desenvolve de tal forma
as virtudes medicinais dinâmicas das substâncias que dá a todas uma ação das
mais penetrantes, mesmo às que, antes de serem tratadas, não exerciam a mínima
influência medicamentosa sobre o corpo.” ( Organon, 5ª edição §269)
Hahnemann fornece a
explicação da atividade de substâncias aparentemente banais, inertes. É assim
que utilizamos como medicamentos o sal marinho, Natrum muriaticum, o calcário, Calcarea
carbônica , a sílica, Silicea,
dentre outros. É a dinamização que confere a essas substâncias de todos os dias
uma atividade medicamentosa absolutamente notável.
“Essa
magnífica transformação das substâncias naturais faz-se pela ação mecânica da
fricção e da sucussão e pela adição de um excipiente neutro, sólido ou líquido,
que serve de suporte para que as partículas da matéria assim transformadas
fiquem separadas. Ela desenvolve e enaltece suas forças farmacodinâmicas até
então encobertas porque essa ação mecânica atinge a própria estrutura elementar
da matéria. É por isso que essa operação se chama “dinamizar” ou
“potencializar”, e os produtos assim preparados , “dinamizações” ou “elevações”
de tal ou tal grau.” ( Organon, 6ª edição, §269)
No final de sua existência,
Hahnemann concebeu um outro processo aumentando ainda mais a diluição e a
dinamização. A técnica das “cinqüenta milimesimais” figura na famosa sexta
edição de seu Organon, publicada postumamente.
Acima de tudo, porém,
Hahnemann foi essencialmente um grande gênio médico.
Descobriu e inventou a homeopatia. E essa é sua glória.
Tornou-se público o
princípio da similitude.
O capítulo consagrado à
quina, na matéria médica de Cullen que Hahnemann traduzia, não oferecia nenhuma
tradução óbvia do princípio da similitude.
É verdade que Hahnemann
conhecia os três grandes princípios de Hipócrates. Certas doenças são curadas
pelos contrários, outras pelos semelhantes, outras pelo idêntico.
Também não ignorava a
descoberta de Jenner, que fabricava, a partir de animais atingidos pela vacina
(doença semelhante à varíola humana), um produto capaz de proteger da varíola,
o que era uma aplicação do princípio da similitude.
O gênio de Hahnemann
manifesta-se na sua enorme surpresa ao ler o texto que indicava que a quina
cura as febres palúdicas fortificando o estômago. Por sorte ou acaso, Hahnemann
havia contraído paludismo na Transilvânia, quando estava a serviço do barão Von
Brückental. Fora tratado com quina, que o curara da febre mas ao mesmo tempo
arruinara seu estômago. Eram os efeitos iatrogênicos que se faziam sentir.
Além disso, é preciso
salientar, como muito fez bem o doutor Rabane ( O. Rabane, Histoire
ET fondements conceptueis de I’ homéopathie, Encyclopédie des médecines
naturelles – Homéopathie, Frison-Roche, 1995) que o contexto
histórico médico explica em parte essa inspiração original.
Cullen era aluno direto de
um outro escocês, Robert Whytt (1714-1766), professor em Edimburgo, para quem
todas as doenças estavam relacionadas com um desarranjo da sensibilidade nervosa,
primeiro ao nível de um órgão, depois, mas geralmente, de um sensorium commune.
Na primeira edição de seu Tratado das Doenças Venéreas, datado de
1789, portanto, antes de sua descoberta da homeopatia, Hahnemann retoma a tese
sobre o mercúrio, enriquecendo-a com as reflexões vitalistas de um outro médico
escocês, Hunter, que em 1781 também escrevera um Tratado de Doenças Venéreas. O mercúrio atuaria através de uma
“força de irritação” específica que se opõe à irritação venérea, por meio do
tecido nervoso. Não se fala aqui em qualquer órgão!
Estamos num domínio vizinho
ao da força vital.
Subordinar a atividade da
quina unicamente ao órgão estômago é pura heresia.
Seria possível que o grande
Cullen, médico que desfrutava naquele momento de enorme reputação, estivesse
enganado?
Hahnemann decide
experimentar em si próprio, como lhe ensinara um de seus mestres vienenses, Von
Störk(Von
Störk, sucessor de Van Swieten, reitor da Universidade de Viena na época em que
Hahnemann estudava em 1777.) outro nome importante nessa volta às
origens.
Com efeito, Störk
experimentou nele próprio numerosas substâncias venenosas, tentando descobrir
suas propriedades terapêuticas. Essas auto – experimentações o puseram no
caminho da similitude, mas ele não compreendeu sua importância.
Escreve o seguinte:
“A
partir do momento em que o estramônio, ao transtornar o espírito, causa loucura
nos homens sãos, será que não temos o direito de experimentar se, ao
transtornar, ao modificar as idéias e o sensorium commune dos malucos e dos
doentes, não lhes traria de volta um espírito são. Se não conseguiria, com um
movimento contrário, fazer desaparecer as convulsões naqueles que delas
padecem.”
*Datura Stramonium – Figueira-brava, Figueira do
inferno,Zabumba ou Manzana, também chamada de erva dos magos, erva do diabo. É
uma planta herbácea, da família das Solanáceas. É uma planta originária do
Oriente e da Índia, mas aclimatada espontaneamente na Europa e nos Estados
Unidos. Crece entre os escombros, terrenos baldios,ao redor de velhos muros ou
ao longo de caminhos e lugares incultos, não longe dos habitantes, o que faz
com que os casos de envenenamentos não sejam raros. Contém propriedades tóxicas
e medicinais, folhas grandes e irregulares, flores alvas ou azuladas,
solitárias, que brotam do ângulo de bifurcação dos ramos, e cujos frutos são
cápsulas ovóides, eriçadas de grossos espinhos, que contém sementes amarelas e,
quando maduras de cor preta.
A Datura Stramonium é
composta de três alcalóides: a hyoscianamina, a atropina e a escopolamina, que
geram convulsões e muita força.
Aqui, entramos em cheio na
gênese da descoberta da similitude.
Hahnemann ao experimentar
quina constatou duas coisas. Primeiro que a quina faz mal ao seu estômago.
Portanto não fortifica o órgão, o destrói. Cullen estava enganado. O estômago
não é o primum movens da atividade terapêutica.
Mas, o fenômeno ainda mais
espantoso, a ingestão de quina produz nele uma espécie de estado febril que
lembra a febre palúdica de que fora vítima alguns anos antes.
É aqui que surgiu a faísca
genial que incendiou a pólvora.
Hahnemann escreveu na margem
do tratado de Cullen:
“Substâncias
que parecem provocar uma espécie de febre curam a febre.”
Assim nasceu a Lei do
Semelhante, pedra angular de toda a homeopatia.
Esta descoberta é tanto mais
extraordinária porque se beneficia de um curioso concurso de circunstâncias. Na
maioria das pessoas, a ingestão de quina não provoca febre. Se a febre ocorreu
em Hahnemann, é porque ele tinha sido sensibilizado à ação da quina por
tratamentos anteriores. Tornando-se hipersensível a essa substância que
provavelmente havia desencadeado nele seqüelas do paludismo. É aqui que o
destino fez sua intervenção, como o fez também no caso das galinhas com cólera
de Pasteur que conduziu à vacina.
Hahnemann estendeu a
experimentação em si mesmo a outras substâncias, pressentindo a importância do
que descobriu.
Começou com Beladona, depois
continuou com os grandes venenos, todos os grandes remédios de sua época, a
noz-vômica, o arsênico, o acônito e muitos outros. Essa fúria em experimentar,
essa coragem pessoal são as marcas de seu caráter indomável. É o único meio de
detectar as propriedades homeopáticas das substâncias já que, para tratar pela
similitude, é preciso conhecer os sintomas mórbidos que elas geram no homem de
boa saúde.
Essa atitude experimental é
científica e absolutamente moderna.
Hahnemann mais uma vez
revelou seu gênio nessa abordagem metódica. A idéia de avaliar a ação de um
medicamento no homem são e não no animal abre as portas a uma reflexão bastante
atual. Trabalhou sem parar e publicou dando a conhecer um novo método. Assim
que saíram as primeiras publicações, entrou em guerra contra todo o corpo
médico da época, cujos hábitos perturba e cujos privilégios questiona. Contando
com o apoio de uma minoria de colegas.
Enfrentou a miséria,as
injúrias, a calúnia, os golpes baixos, defendendo suas idéias.Nunca enfraqueceu
e nem renunciou. Demonstrou uma coragem física e moral, desafiando o conjunto
das autoridades médicas, no meio das piores dificuldades materiais e
familiares.Mas recuar estava absolutamente fora de questão. Tratavam-no de
charlatão, de visionário, de maluco.Hahnemann respondeu com ardor, veemência,
arauto dessa verdade de que sabe ser detentor mas a qual poucos aderiram.
O gênio de Hahnemann não se
exprimiu unicamente na descoberta e na comprovação da Lei da Similitude.
Aplica-se a noção do terreno.
A segunda fase de sua
reflexão, levando muito tempo a exprimir, desembocou na evidência de um terreno
patológico próprio de cada um, explicando, condicionando e esclarecendo as
afecções agudas de cada um que a medicina é levada a tratar cotidianamente.
A noção de doença crônica ou
diátese subjacente à noção de “doença aguda”, expressou no ano de 1828, e a
evidencia das grandes orientações patológicas que condicionam as reações de
cada um, são extraordinariamente modernas.
Esses conceitos não
figuravam em nenhum tratado médico. Encontravam-se aqui e ali, algumas alusões
às possibilidades diatésicas, mas não existia ainda nada concreto.
Hahnemann descobriu que toda
doença está condicionada por um terreno próprio ao doente, e é esse
terreno que se deve tratar para curar
totalmente, definitivamente o doente.
Lembremos que “terreno”
significa o conjunto das características físicas, mentais e fisiológicas de um
indivíduo que orientam seu futuro patológico. Algumas dessas características
estão codificadas geneticamente; outras são adquiridas ao longo da vida.
Hahnemann identificou três
grandes orientações patológicas que condicionam afecções agudas bem
determinadas: psora, sicose e siphilis. Foi muito criticado por causa dessas
diáteses. Até mesmo os primeiros homeopatas recusaram-se a segui-lo, a abrir
mão de uma similitude concreta por uma similitude diatésica.
Só quando Dausset descobre
os marcadores de histocompatibilidade é que se compreendem o caráter inovador e
a importância do que Hahnemann já havia elaborado pela mera observação clínica.
A importância do sistema HLA
no desenvolvimento de certas doenças não é mais contestada hoje em dia; graças
a ele, o controle das doenças genéticas é cada vez maior.
Para curar tanto o agudo
como o crônico, utiliza-se similitude. Para compreender, prever, prevenir o
patológico, a diátese ilumina o caminho a seguir.
Toda a Homeopatia está aí
revelada, desde 1810, depois desde 1828 em suas bases essenciais e modernas,
saída do cérebro de Hahnemann com todas as suas armas, tal como Atena do
cérebro de Zeus.
Hahnemann
foi incontestavelmente um gênio, isto é, um homem que trouxe uma descoberta
revolucionária, espantosa, até mesmo escandalosa, não só capaz de aliviar o
sofrimento da humanidade mas na qual a própria humanidade se reconhecerá.
Foi com amor e muita
dedicação acreditando em seus princípios com a certeza de um dia melhor onde a
humanidade transformada com uma nova consciência que o gênio Samuel Hahnemann
até os últimos dias de sua encarnação no Planeta Terra, trabalhou incessantemente
para a harmonia, resgatando a saúde do homem em equilíbrio com a Natureza.
Impôs sua descoberta a um
corpo médico hostil e que, nos dias de hoje, permanecendo hostil na esfera
oficial. Golpes não lhe faltaram. Para resistir era preciso um temperamento, um
feitio que não o de um menino de coro. E Hahnemann não parecia em nada com um
menino de coro. No fundo isso não interessa, já que a homeopatia está aí,
fecundada neste Planeta.
Mostrou-se digno da
Humanidade.
Em seu túmulo este simples
mas belíssimo verso de Virgílio:
“Felix
qui potuit verum cognoscere causas”
“Feliz
daquele que conheceu o mais secreto das coisas”
A Homeopatia é portanto uma
realidade.
- Princípio da Similitude:
toda substância que em dose ponderável gera doença torna-se, depois diluída,
capaz de curar uma doença análoga.
- Princípio do infinitesimal
dinamizado: o remédio atua para além do limiar ponderável até os mais altos
limites do infinitesimal, exaltando a informação que transporta por meio da
dinamização indisponsável a seu feito.
- Princípio da
individualização: não há doenças, há doentes. Cada um cria sua doença à sua
maneira e necessita de um tratamento individualizado. Toda terapêutica deve-se
adaptar à originalidade do indivíduo.
- Princípio do Terreno: toda
afecção aguda tem um significado e é a prova de um terreno patológico
permanente e preexistente que se deve tratar a fundo para curar. A diátese
permite prever a futura doença.
- Princípio da forca vital:
tudo é energia vital, vibração, força orientada para um equilíbrio que é
garantia da saúde. É a esse nível energético que se deve levar a atuação da
dinamização medicamentosa homeopática.
Cinco grandes princípios
herdados de Hahnemann, cinco grandes luzes que fazem da Homeopatia a essência e
até a quintessência da medicina de hoje e de amanhã.
“Imitem-me,
mas imitem-me bem”, disse o velho mestre antes de morrer.
“Saibam
sobretudo ver”
Enquanto a homeopatia se torna
cada vez mais respeitada pela surpreendente eficácia na cura de doenças de
todos os tipos, agudas ou crônicas, podemos ter esperança de que os
pesquisadores comecem a investigar a natureza dos medicamentos homeopáticos.
Conhecendo mais a respeito de suas propriedades, será possível apurar nossas
técnicas de combinação dos medicamentos e potências aos pacientes,
individualmente, com uma precisão maior do que nos é possível na atualidade.
Essa é a única possibilidade que deve motivar os investigadores a entrar nesse
campo; é uma área de pesquisa com amplos campos abertos tanto para as profundas
descobertas teóricas quanto para a aplicação prática, em benefício da
humanidade.
Patricia
Jorge Alves
Terapeuta
Homeopata
Também se ocupa da higiene citadina. Preconiza a condução das águas, a descarga de autoclismo, a utilização do carvão de terra, cujas minas são numerosas na Saxônia. Preocupa-se com as prisões.
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