O
Cérebro é o cerne do nosso sistema nervoso central. Ainda que seus sintomas
afetem todo o organismo, eles devem ser tratados em contexto com a central, que
está localizada na cabeça. O sistema nervoso é o sistema básico de informação e
de comunicação do corpo. Ele regulamenta as relações entre os mais variados
níveis de emissão de ordens da central e a recepção das ordens na periferia.
Juntamente com o sistema hormonal, ele é responsável por todas as transmissões
de informação. Entretanto, as fronteiras entre as redes de comunicação do corpo
não são rígidas. Elas se interpenetram, formando um sistema multidimensional.
Dessa maneira, o sistema nervoso utiliza, em seus pontos de ligação,
substâncias semelhantes a hormônios, tais como a adrenalina, a acetilcolina, a
dopamina,etc., para transportar as informações através dessas pontes, chamadas
de sinapses. Pode-se imaginar as sinapses como se fossem tomadas nas quais
estão ligados diversos circuitos elétricos. O sistema nervoso trabalha
sobretudo com eletricidade, enquanto o sistema hormonal pode ser comparado a um
sistema de mensageiros que transporta a informação sob a forma de substâncias
químicas. Nesse sentido, os nervos são os mais recentes e representam a
variante que traz em si o futuro.
Diferencia-se
um sistema nervoso voluntário ou sensomotor de um involuntário, ou autônomo. A
parte que pode ser controlada pela vontade engloba, por exemplo, o padrão de
movimentos deliberados da musculatura do esqueleto.A parte involuntária é
responsável pelos nervos dos órgãos internos, que não dependem da vontade. Esse
sistema nervoso das víceras, chamado de vegetativo,contém por seu lado dois
pólos antagônicos: o simpático, que poderia ser chamado também de pólo
masculino arquétipo, já que é responsável pelos modos de comportamento
dirigidos para o exterior tais como a luta, a fuga, o trabalho e a
concentração, e seu oponente, o parassimpático ou vago, que é responsável por
um leque de atividades, dos processos regenerativos da digestão à sexualidade,
e que portanto pode ser considerado como representante do pólo feminino
arquetípico.
Os
dois pólos do sistema nervoso vegetativo dispõem de diferentes substâncias
químicas transportadoras que são responsáveis pela transmissão de informações
entre fibras nervosas individuais. As substâncias transportadoras chamadas de
adrenergênicas, tais como a adrenalina e a noradrenalina, pertencem ao sistema
nervoso dos órgãos internos masculino ou simpático; no âmbito do cérebro, temos
a dopamina. No sistema feminino ou parassimpático predominam as substâncias
colinérgicas, sobretudo a acetilcolina.
Ao
lado da subdivisão de acordo com o conteúdo, utiliza-se também uma subdivisão
chamada de topográfica, de acordo com a localização espacial. Esta diferencia o
sistema nervoso central, composto pelo cérebro e a medula espinhal, do sistema
nervoso periférico, que consiste das sensíveis vias nervosas voluntárias e
involuntárias que atravessam todo o corpo. O sistema periférico transmite ao
central todas as informações que recebe do corpo e do entorno e realiza todas
as reações que delas resultam. O sistema central, portanto, é responsável por
tudo, mas em todos os casos conta com a colaboração dos nervos periféricos. Sem
esse trabalho da periferia, a central estaria, por um lado, desconectada do
fluxo de informações, e por outro, seria incapaz de expressar suas ordens.
Como
a comunicação é a tarefa central do sistema nervoso, os problemas nervosos
sempre ocultam problemas de comunicação atrás de si. Quem se sente com os
nervos em frangalhos, fracassou em sua comunicação. A voz popular fala de um nó
nos nervos. Os próprios afetados entretanto buscam refúgio na projeção e
concluem que são proprietários de uma roupagem nervosa muito sensível e que os
outros acabam com seus nervos. A expressão “você me dá nos nervos” o expressa.
Assim como acontece com todas as outras funções do corpo, somente tomamos
consciência dos nervos quando eles causam problemas. Quem mostra os nervos
deixa claro que não está bem, agindo de maneira nervosa e sentindo o entorno e
suas exigências como enervantes. Quem, ao contrário, tem nervos como arames,
pode se dar ao luxo de viver de acordo com o tempo, ou seja, manter-se em
contato com os temas do presente. Para ele, as exigências são um estímulo
nervoso bem vindo e em vez de serem molestas, propiciam uma sensação de
vitalidade. Uma tal “pessoa sem nervos” é alguém que não tem necessidade de
mostrar os nervos porque está seguro de seu funcionamento até mesmo em
situações de perigo. Ele tem realmente nervos de aço. É preciso separar aqui
aquelas pessoas que não mostram os nervos porque estes, amortecidos e
insensíveis, já não percebem o que realmente acontece a sua volta. A força
nervosa típica reside em sua autoconfiança, e não em poupar os nervos ou
tranqüilizá-los constantemente. Eles estão relaxados e calmos, até que são
exigidos. Então, a tensão propicia uma ocasião para comunicar-se com o interior
e também com o exterior. A pessoa nervosa é muito diferente. Em uma situação
normal ela já está nitidamente tensa, e ao ser exigida chega rapidamente ao
limite dos nervos.
Os
biólogos sabem que o nervosismo ocorre igualmente no reino animal, e não
somente em cavalos de corrida, independentemente das exigências naturais de sua
vida. Quando uma determinada espécie atinge a superpopulação e, com isso, tem
seu espaço vital limitado, os animais individuais desenvolvem nítidos sinais de
nervosismo, a comunicação entra em colapso e ocorrem surtos de agressão sem
qualquer motivo. A falta de espaço produz angústia (do latim angustus =
estreito) que faz com que os fusíveis queimem. De maneira análoga, não é de
admirar que cada vez mais pessoas sofram de males nervosos e angústia,
especialmente nos aglomerados das grandes cidades.
Fundamentalmente,
o tema da comunicação está por traz dos problemas nervosos, unicamente que nos
males nervosos ele mergulhou menos profundamente na corporalidade que nos casos
neurológicos. Uma pessoa nervosa não tem confiança em poder convencer o entorno
de si mesma e de seu valor. A insegurança está presente buscando constantemente
sinais que a reassegurem . Isso se torna especialmente claro quando se está
diante de uma prova especialmente desgastante para os nervos, quando parece que
os nervos vão arrebentar de tão tensos antes mesmo que tudo tenha começado.
Tais situações são sentidas como mortais pelas pessoas de nervos delicados. A
agitação nervosa atinge o auge pouco antes do resultado decisivo, e os
afeitados agem de maneira totalmente enervante. Antes da prova dos nervos, o
menor ruído ou um atraso mínimo, qualquer coisa lhe dá nos nervos. Justamente
neste momento, em que tudo depende do bom funcionamento de seus circuitos,
estes parecem não estar à altura da tarefa e dão a sensação de que vão saltar
para fora da pele. Isso pode explicitar a desproteção que se sente e mostra
como se está próximo de usar os nervos como desculpa.
No
comportamento tipicamente nervoso, impregnado de inconstância e inquietação,
mostra-se o desejo de estar em comunicação com tudo ao mesmo tempo. Na maioria
das vezes, a hierarquia que existe nas estruturas de comunicação entra em
colapso e coisas relativamente pouco importantes passam para o primeiro plano
enquanto outras coisas mais substanciais caem vítima da perseguição frenética.
A pessoa nervosa corre atrás dos acontecimentos e não é raro que se sinta
atropelada e superada por eles. Com seu ego e sua necessidade de que tudo gire
a seu redor, encontra-se no meio desse círculo vicioso. Nessa situação de
insegurança e com os nervos totalmente hipertensos, os afetados rodam e sofrem
um colapso nervoso.
O
colapso nervoso põe fim a um estado forçado, colapsando as comunicações com o
entorno e isolando o paciente. Ao chegar ao estágio de emergir para o mundo
exterior, ele sinaliza de maneira expressiva que isso não pode continuar assim
em sua vida. Ele não pode manter tal quantidade de contatos externos e
obrigações. Aqui, a tarefa torna-se muito nítida: Trata-se de abandonar a luta
no exterior, encontra-se de novo consigo mesmo e estabelecendo contato com o
próprio centro.
O
estado precedente de desequilíbrio nervoso devido à angústia de estar perdendo
algo e não estar participando de algo em algum lugar mostra, àqueles que querem
dançar em todos os casamentos, seus limites, mas também oportunidades. A tarefa
de aprendizado é estabelecer contatos não somente com o exterior, mas consigo
mesmo!
Se
o afetado está permanentemente à procura daquilo que é mais importante no
exterior de um determinado momento, sua tarefa é contatar aquilo que é mais
importante no interior, com o próprio coração, portanto, os sintomas da
taquicardia à síncope, surgindo nesse contexto, apontam nessa direção. Mais
contato com o comando central da “consciência de si mesmo”. Ter acesso à
verdadeira “paz” e a “calma” que reina no centro de si mesmo. A frenética busca de reconhecimento (pois não
conhece a ti mesmo) é substituída pela amabilidade
interna, desenvolve-se o auto conhecimento, seus valores “verdadeiros” e suas “deficiências”.
Somos motoristas que dirigem um corpo.
Portanto,
entender e nos responsabilizar que somos nós mesmos que lesamos nosso corpo;
com nossos “atos equivocados” do mal pensar, agir, sentir. Nossas intenções
criam o sofrimento ou a alegria para nós mesmos. Temos uma maneira errônea de
ver a vida e assim colocarmos todas as nossas frustrações, as nossas
inseguranças, e os nossos “ditos problemas” no mundo, nas circunstâncias, nas
pessoas e nunca e nós mesmos.
Não
se está doente porque tem bactérias, vírus ou disfunções orgânicas e
fisiológicas, tem-se bactérias, vírus ou disfunções orgânicas e fisiológicas
porque VOCÊ! ESTÁ DOENTE”.
Outra condição que importa também não
desprezar é a de curar-se o homem desse orgulho que acompanha inevitavelmente
uma má educação científica e uma instrução especializada, incompleta, como são
tão freqüentes em nossos dias. Pessoas muito esclarecidas em um pontinho
especial dos conhecimentos humanos julgam poder decidir arbitrariamente sobre
todas as coisas e repelem sistematicamente toda novidade que lhe choque as
idéias, quase sempre por este único motivo – que em geral não confessam – que se aquilo fosse verdade, elas não podiam
ignorar! Por minha parte, encontrei freqüentemente esse gênero de basófia
entre homens cuja instrução e estudos deveriam preservá-los dessa deplorável
enfermidade moral, se não tivessem sido especialistas,
escravos da sua especialidade. É sinal de inferioridade relativa uma pessoa
julgar-se superior!
Enfim, o número de inteligências que
sofrem de lacunas é maior do que se
julga geralmente. Do mesmo modo que determinados indivíduos são totalmente
refratários ao estudo da música, das matemáticas, etc., a outros muitos estão
interditas certas investigações do pensamento. Uns, que se distinguiram nesta
ou naquela classe de ocupações: na medicina ou na mercearia, na literatura ou
na arte de fabricar panos, segundo toda a probabilidade, teriam lastimosamente
falhado se houvessem escolhido – como outros tantos que abarrotam o mundo – uma
carreira situada fora do que chamarei a zona
lúcida, à semelhança da ação dos refletores que, durante a noite,
transmitem a luz a uma zona de feixes luminosos, fora dos quais só há sombra e
incerteza.
Coisas existem que não estão ao
alcance da concepção de certas inteligências: estão fora de sua zona lúcida.
E o homem aprende a não se admirar!
Ou somente a admirar de Fora para Dentro e pouquíssimas vezes ou quase nunca de
Dentro para Fora.
É o Sistema Nervoso que comanda o
corpo? São as células?
Se aceitarmos as conclusões naturais
da teoria segundo a qual as manifestações da vida em geral, e as da
inteligência em particular, são apenas o modo de ação de certas propriedades da matéria organizada, devemos admitir que no
momento da morte tudo volta ao nada, esse nirvana do materialismo.
Aceitando, com a ciência moderna,
que, assim como a matéria, outro ser real,
estudado sob o nome de energia,
constitui um elemento do Universo,
nem por isso se modificam os resultados da análise. Com efeito, se nos
apegarmos à existência exclusiva da matéria, cujas propriedades variariam com
seus aspectos e diferentes grupamentos
moleculares, admitiremos que no momento da morte as propriedades da
substância organizada desaparecem, ao mesmo tempo em que sobrevém esta mudança
de estado caracterizado pela cessação da vida: a matéria organizada, viva,
atingindo como matéria o seu mais alto
grau evolutivo de complexidade, é subitamente arrastada sobre o declive que
ela acaba de galgar, e onde descreve uma curva descendente, de mais em mais
rápida, para o estado inorgânico do qual partiu. Nesses períodos sucessivos
suas propriedades modificam-se, com as mudanças de estado, sobre o ciclo eterno
figurado no Ouroboras simbólico dos antigos sábios.
Mas, teremos avançado muito para a
solução do problema, se admitirmos a existência autônoma da energia “como ser real, elemento
constitutivo do Universo”? Assim não penso; a energia coexiste ao lado da
matéria, admita-se. Como a matéria, que, do estado cósmico ou radiante (W.
Crookes) passa às formas gasosa, líquida, sólida e às suas combinações
infinitas, a energia torna-se luz, movimento, calor, magnetismo, eletricidade,
conforme o modo pelo qual opera sobre a matéria ou une-se a ela. Associada à
substância organizada, a energia se transformaria em vida, em inteligência,
etc. E do mesmo modo que a matéria em movimento tende ao repouso, em
conseqüência do que se chama em mecânica a
degradação da energia, e perde sua energia
dinâmica, do mesmo modo a matéria organizada e viva, sob a influência de
uma lei análoga à da degradação, perderia, por sua vez, a energia dinâmica,
isto é, vital, que, assim como o
elemento motor do qual acabamos de falar, voltaria ao grande reservatório comum
da energia potencial para onde, como
já vimos, tendem, “no fim dos tempos”, todas as forças do Universo: seria
sempre o aniquilamento imediato para
a consciência; seria, como se diz ainda,sem saber exatamente porquê; o regresso
ao Inconsciente.
“Eis a doutrina interior que Fot (Buda), no seu
leito de morte, revelou pessoalmente a seus discípulos:
Todas estas opiniões teológicas –
disse ele – não passam de quimeras; todas estas narrativas da Natureza dos
deuses, de seus atos, de suas vidas, são apenas alegorias, emblemas
mitológicos, sob os quais se escondem idéias engenhosas de moral e o conhecimento
das operações da Natureza, no jogo dos elementos e na marcha dos astros.
A verdade é que tudo se reduz ao nada; que tudo é ilusão, aparência, sonho; que a metempsicose moral não é mais que o
sentido figurado da metempsicose física,
desse movimento sucessivo, pelo qual
os elementos de um mesmo corpo, que
não perecem, passam, quando ele se dissolve, para outros meios e formam outras combinações. A alma não é mais que o princípio
vital, resultante das propriedades
da matéria (isto foi escrito em 1820, 7ª edição) e do jogo de elementos
existentes no corpo, onde elas criam um movimento
espontâneo. Supor que este produto
do jogo dos órgãos, nascido com eles, adormecido com eles, subsiste quando os
órgãos não mais existem, é um romance talvez agradável, mas realmente
quimérico, fruto de imaginação iludida. O próprio Deus não é senão o princípio motor, a força oculta espalhada
nos seres, a soma de suas leis e propriedades, o princípio animador, em
outras palavras, a alma do Universo,
a qual, em razão da infinita variedade de suas relações e operações, considerada
ora como simples e ora como múltipla, agora como ativa e logo como passiva, apresentou sempre ao espírito humano um enigma insolúvel. Tudo quanto ele pode
compreender de mais claro, nisto, é que a matéria não perece nunca; que ela
possui essencialmente propriedades pelas quais o mundo é regido como um ser vivo e organizado; que o conhecimento
dessas leis, em relação ao homem, é o
que constitui a sabedoria; que a virtude e o mérito residem na observância delas, e o mal, o pecado, o vício, em sua ignorância e infração; que a felicidade
e a infelicidade resultam delas, pela
mesma necessidade que faz as coisas pesadas
descerem e as coisas leves subirem, e por uma fatalidade de causas e de efeitos
cuja cadeia vai do último átomo até aos mais elevados astros. Eis o que foi
revelado no leito de morte pelo nosso Buda-Sidarta Guatama.”
Sabemos hoje, de boa fonte, que a
doutrina tão brilhantemente enunciada, e em tão poucas frases, constitui o
hermetismo de numerosas seitas orientais; mas julgo não me enganar dizendo que
Volney, nesta magnífica tirada, descobriu seus próprios sentimentos. Seja como
for, as concepções, bem como as expressões, são exatamente as mesmas
encontradas hoje na exposição de doutrinas filosóficas, que certos homens
modernos imaginam talvez ter inventado.
Sem falar dos filósofos gregos, eu
poderia escrever um volume inteiro de citações semelhantes, provando a remota
antiguidade das doutrinas materialistas.
O aniquilamento com que, no fim de
contas, as diferentes filosofias ou teosofias fazem fechar mais ou menos cedo, ou tarde, o destino da consciência humana é uma
conseqüência do Panteísmo, aonde vai ter quem começa a raciocinar, tomando por
base e por guias não os sentimentos de ocasião, mas os dados científicos,
positivos e estabelecidos.
Não devemos repelir uma teoria só
porque ela é contrária às nossas aspirações: as coisas nem sempre correm na
medida dos nossos desejos. Exemplos: Nós nunca desejamos adoecer, e sofremos;
não queremos envelhecer, e caímos na decrepitude; não desejamos absolutamente
morrer, e nenhum de nós escapa absolutamente da morte; e assim por diante. E
se, como pensava Candide, tudo no fim dá certo..., talvez seja necessário e bom
que todas estas contrariedades nos sucedam, bem como outras que desejaríamos
poder evitar! O Panteísmo era a grande doutrina hermética dos antigos
laboratórios e institutos (templos). Acreditando em Strabão, eis, a esse
respeito, quais eram as idéias de Moisés. Segundo o citado geógrafo grego, o
grande legislador hebreu professava o puro Panteísmo. Além disso, teria ele
escrito,se é que escreveu: “Deus fez o homem à sua imagem” se isto não tivesse
acontecido? Strabão diz isto (Georg., livro XVI):
“Moisés, que foi um dos
sacerdotes egípcios, ensinou que era um erro monstruoso representar a divindade
sob a forma de animais, como o faziam os egípcios, ou sob traços humanos, como
é costume de gregos e africanos. Só é
divindade – dizia ele – o que compõe
o céu, a Terra e todos os seres, o que chamamos mundo, a universalidade das
coisas, a Natureza... Eis por que Moisés quis que essa divindade fosse adorada
sem emblemas e sob sua própria natureza.”
Vergílio também disse:
“O Espírito conserva a
vida dos seres, e a alma do mundo, espalhada em seus vastos membros, agita sua
massa (mens agitat molem) e constitui
um corpo imenso.”
Fica, pois, provado que espíritos
profundos e sutis, cujo gênio em nada é inferior aos pensadores modernos, discutiram
entre si os mesmos pontos obscuros, sobre os quais ainda hoje se discute, e
isto pela mesma razão imanente: os filósofos de todas as épocas observaram que,
desde o momento em que os homens discutem sobre objetos colocados fora do
alcance de seus sentidos, cada um deles julga desses objetos segundo seus
caprichos, ou tendências do seu espírito, ou ainda, como se costuma dizer, com
o sentimento próprio; ao passo que acabam sempre chegando a um acordo em suas
apreciações, quando observam coisas que podem ser submetidas aos seus sentidos.
Mas a Ciência tem progredido; maravilhosas descobertas vieram à luz,
instrumentos admiráveis e preciosos permitir-nos-ão empreender, com a certeza
da ciência experimental, estudos que nossos avós, exceto raras iniciativas, não
podiam abordar senão com auxílio do método a
priori.
Os filósofos não estarão longe de
modificar e identificar as suas opiniões, no dia em que puserem em evidência e
estudarem, com seus sentidos e
instrumentos, o terceiro princípio a que mais acima aludi ou, pelo menos,
suas manifestações; o terceiro termo do trinômio do qual já estudam duas
expressões sob os nomes de matéria e energia.
Neste momento, veremos o que à primeira
vista parece paradoxal que espiritualistas e materialistas, buscando
honestamente, embora por caminhos diversos, descobrir a verdade, não estão
longe de se entenderem, como parece, em princípio. Assim sucede com os
trabalhadores que perfuram os túneis. Vão, divididos em duas turmas, atacando
cada qual um dos flancos opostos da montanha; um dia encontrar-se-ão em
determinado ponto, do mesmo modo que as seitas filosóficas, mesmo antagonistas,
ficarão, pela queda do véu que as separa, reunidas em uma comunhão de idéias
primordiais e fecundas.
Importa antes de tudo fixar um ponto:
está bem demonstrado que a matéria componente do corpo humano é absolutamente a
mesma matéria ambiente: nenhum elemento químico se encontra no corpo do homem,
que não exista no solo que nos alimenta, no “limo” que nos formou. Conforme
disse mais acima: o corpo do homem é uma emanação material do planeta, onde
ele, homem, faz a travessia do espaço. Como exigirmos que essa matéria se comporte
de modo diferente da outra e tenha propriedades distintas?
Deve-se estabelecer, em princípio,
que os movimentos executados pelo homem, seu calor animal, a circulação do
sangue e fluido nervoso, as vibrações da matéria cerebral, etc., não são
absolutamente propriedades da matéria de que ele é formado, porém modos da
energia universal, manifestando-se segundo os fins da vida, por intermédio da
matéria agenciada molecularmente, de uma forma especial para esse fim.
Um fato lhe impressiona imediatamente
o olhar: existe alguma coisa; esta alguma
coisa é a matéria.
Um segundo fato lhe atrai quase logo
a atenção: essa matéria move-se. Mas,
logo o homem percebe que ela não se move por uma virtude própria, visto como é
inerte, e que, sendo assim, não pode mover-se; o exame mostra-lhe que esse
movimento, todas as suas conseqüências e transformações, são manifestações da energia.
Depois de ter verificado que tudo,
até este ponto do exame, se reduz a mostrar dois
princípios aos quais podem ser referidos todos os fenômenos de que ele é
testemunha, o homem detém-se espantado e desiludido. A energia pode dar-lhe a
razão da existência da matéria; mas, que é a energia e donde vem, que encerra
ela?
Em vão ele dirige longamente seu
olhar para os mundos, os quais continuam majestosamente trilhando o caminho que
uma sábia e invisível mão parece ter-lhes traçado nos céus. Desespera de nada
aprender desse grande Universo solene, mudo para ele, e, todavia, animado. Por
mais que interrogue as estrelas, a Lua e o Sol e os planetas, todos esses
gigantes das profundezas inabordáveis permanecem surdos à sua voz.
Então, só resta ao homem regressar à
sua própria natureza, auscultar o seu viver e analisar-se a si mesmo.
Vê, em si, a princípio, um corpo
feito de matéria emprestada da matéria ambiente: esse corpo emprestado não lhe pertence, pois que
deve ser privado dele um dia; restitui-lo-á à Terra, da qual o recebeu e o
formara, no dia do vencimento da letra, que chegará inevitavelmente a cada qual
por sua vez. Quanto mais ele se analisa, mais acha a sua matéria semelhante à outra.
Depois, ainda encontra em si, sob
aspectos tão variados como os da matéria, essa energia, cujos efeitos viu nas coisas que o cercam.
Até aí, compreende que é feito de matéria e de energia universais; mas, como foi que ele compreendeu todas essas coisas? com o
auxílio da matéria, com o da energia, ou com o de ambas? Mas, então, a matéria
e a energia universais seriam, porventura, inteligentes?
Vendo os efeitos da morte e a inércia de um cadáver, ele deduz do fato
que a matéria insulada não compreende
nem pensa.
Analisando as variedades de energias
e vendo que elas não servem senão para entreter as funções da matéria
organizada, ou para executar as ordens da vontade consciente e inteligente,
concluiu daí haver compreendido o que
queria compreender, com alguma coisa que não é nem a sua matéria
nem a energia, e dá a isso o nome de inteligência.
Conhecendo sua própria natureza, o
filósofo prossegue logicamente do conhecido ao ignoto e diz consigo mesmo que,
sendo a sua matéria e energia tiradas da ordem universal, a inteligência deve
ter a mesma origem: adivinhou o terceiro
elemento do Universo; viu e compreendeu que, simultaneamente com a matéria e com a energia, existe a inteligência do
mundo.
Patricia Jorge Alves
Terapeuta Homeopata
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